Nesta batalha espiritual, não basta a confiança em Deus e a desconfiança de nós mesmos. Somente com estas duas armas, não nos venceremos a nós mesmos,mas cairemos muitas vezes. E assim, além destas duas virtudes, é necessário uma terceira coisa: o exercício.
É preciso exercitar a inteligência e a vontade.Quanto à inteligência, deve ela ser resguardada de duas coisas que a costumam obscurecer: a ignorância e a curiosidade.
A ignorância deixa a mente em trevas e impede que ela conheça a verdade, que é o objeto próprio da inteligência.
Com o exercício, devemos tornar a mente clara e lúcida, para que possa ver e discernir bem, quanto é mister para purificar a alma das paixões desordenadas e orná-la com as santas virtudes.
De dois modos poderemos obter este resultado, O primeiro, é o mais importante a oração. Peçamos ao Espírito Santo que se digne infundir suas luzes em nossos corações. E o Divino Espírito o fará, se, em verdade, procurarmos a Deus somente,e se, em todas as causas, pusermos o juízo dos nossos padres espirituais, acima do nosso.
O segundo modo é um contínuo, profundo e leal exame de nós mesmos, para ver se somos bons ou maus, não segundo a aparência boa ou má dos nossos atos, nem conforme o juízo dos sentidos e o critério do mundo, mas segundo o juízo do Espírito Santo.
Esta consideração feita como convém, nos fará conhecer claramente que devemos ter em nada as coisas que o mundo, cego e corrompido, ama, deseja e procura de muitos modos. Entenderemos que as honras e os prazeres da terra nada são, senão vaidades e aflições do espírito.
Que as injúrias e as infâmias de que o mundo nos cobre, nos enchem de verdadeira glória. Que as tribulações são nossa alegria. Que o perdão, e a caridade para com os inimigos, é uma magnanimidade e uma das coisas que mais nos semelham a Deus. Que mais vale, desprezar o mundo, que possui-lo todo inteiro. Que obedecer de boa vontade às mais vis criaturas, é coisa maior e mais generosa que ter sobe suas ordens, os grandes chefes. Que mais vale o humilde conhecimento de nós mesmos, que todas as ciências. E que vencer e mortificar os próprios apetites, por pequenos que sejam, merece maior louvor que expugnar fortes cidades, vencer, com as armas nas mãos, exércitos poderosos, fazer milagres e ressuscitar os mortos.
O Combate Espiritual e o Caminho do Paraíso – D. Lourenço Scupoli