Pelo Pe. Etienne de Blois, FSSPX
“É uma forma louvável de modéstia não querer ser excêntrico”.
Os conservadores têm suas qualidades, não há como negar. Eles têm uma certa coragem, pois precisam opor-se continuamente aos progressistas. Mas não queremos julgar as suas intenções, nem dizer em que forma são desculpáveis. Queremos simplesmente manifestar o perigo que os conservadores estão correndo e fazendo com que outros corram. Não aqueles que buscam a verdade e que se detêm um tempo enganados à meras aparências de verdade, mas os conservadores que insistem em permanecer assim.
“Mas essa modéstia tornou-se impossível de praticar hoje em dia!”
Segundo os falsos pensadores, verdadeiros mentirosos, o mundo estaria dividido em direita e esquerda, conservadores e progressistas. Isto é falso. O mundo está dividido desde o pecado de Lúcifer entre aqueles que aceitam a autoridade de Deus e aqueles que a rejeitam.
Aqueles que aceitam a autoridade divina são chamados de contra-revolucionários, mas formam aquilo que verdadeiramente é chamado de “Tradição”. Os homens da Tradição aceitam aquilo que foi transmitido pelos antigos porque foi recebido de Deus. Os revolucionários rejeitam toda transmissão porque se recusam a aceitar qualquer lei.
Aqueles que rejeitam a autoridade são revolucionários. Os progressistas são revolucionários absolutos: eles rejeitam a Tradição e estão constantemente buscando algo novo.
Os conservadores não fazem parte da Tradição, eles não buscam transmitir aquilo que é divino, mas conservar um pobre estado humano. Os conservadores conservam um estado presente. Os conservantes de alimentos mantêm a carne em um estado intermediário entre a vida e o bolor. A aparência é apetitosa, mas esconde princípios mórbidos. O homem conservador aspira manter o mundo em um estado aparentemente agradável… e um estado real de revolução.
Objetivamente, o conservador é – muitas vezes sem querer – um hipócrita revolucionário. Ele conserva a Revolução em uma aparência apresentável. Ele é o seu melhor aliado, goste ou não.
O conservador é o melhor inimigo da Tradição. O melhor porque o mais próximo a ela nas aparências. Quantos são enganados? “É a mesma Missa…” sim, mas não é a mesma doutrina! Os cismáticos também celebram a mesma Missa.
O conservador é inimigo da Tradição porque os princípios do conservador são os mesmos do revolucionário, com excessão da lógica e da honra.
Para reduzir um homem da Tradição a um conservador, o revolucionário adota uma tática muito hábil, dizendo simplesmente: “venha para debaixo do meu teto, eu o deixarei livre”. O revolucionário depõe suas armas, mas de forma alguma abre mão do campo. De qual liberdade falamos? O revolucionário entende a liberdade como uma independência de Deus. Generosamente ele oferece liberdade à Tradição, a mesma liberdade que exige para todos os erros, a liberdade de Satanás. Se o homem da Tradição entra no círculo da liberdade revolucionária, ele deixa para trás sua adesão à verdade de Deus, tendo-a reduzido a uma mera opinião humana. Ele pode conservar as aparências da Tradição por muito tempo, mas terá aceitado em seu coração o veneno da Revolução: ele é mais um conservador.
O conservador quis salvar duas coisas: as aparências e a sua honra. Infelizmente a honra não pode ser salva às escondidas. Ela deve ser servida com nobreza, franqueza e força. O conservador espera servir permanecendo simpático, aceitável para aqueles que busca salvar. Falsa honra, verdadeira traição: para ser aceito pelo revolucionário, que odeia a Tradição, ele deve escondê-la. Que nobreza, que honestidade, que força!
A Tradição é como uma planta: na sombra, ela morre lenta e imperceptivelmente. A tradição transmite algo. Escondida, cortada de sua fonte, ela não é mais Tradição. A pele permanece, o odre é esvaziado.
O conservador pode exclamar: “Tudo está salvo, exceto a honra e a verdade!”
Publicado em Le petit Eudiste, Boletim do Priorado Saint-Jean Eudes. da FSSPX na França, n° 202, março 2017
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