A educação do coração é necessária a fim de preparar os jovens para os deveres de família que os esperam. Avida familiar exigirá deles mais tarde a acaitação do sacrifício, recordações adequadas, delicadeza de sentimentos.
Mas o senso do sacrifício seria impossível para um homem cuja infância e juventude fossem entregues ao odioso egoísmo. Pretenderá ele que cabe sempre ao outro ceder. Daí todas as desordens familiares e sociais: desentendimentos, má educação dos filhos, divórcio, adultérios. Obedecendo aos próprios caprichos, torna-se exigente, tirânico, e não pode aceitar o sacrifício, inevitável um dia ou outro em toda vida em comum.
Por outro lado, se o jovem em quem se desenvolvem simultaneamente as paixões e a necessidade de amar, não receber uma educação dos sentidos e dos sentimentos, abandona-se-á às desordens sentimentais e sexuais. A educação sexual é um verdadeiro perigo se se limitar à simples higiene e não abranger a educação da consciência, da vontade e da sensibilidade. Frequentemente os jovens sabidos são os mais pervertidos.
Enfim, a união no matrimônio e a boa educação dos filhos exigem uma grande delicadeza de sentimentos. Mas para que o adolescente a descubra, aprecie e ame suficientemente para compelir seus sentidos, é necessário que suas faculdades sejam orientadas para um amor estável e fecundo, que se lhe ensine a dominar seus próprios sentidos e a pensar na alegria de criar uma família, a ponto de a garantir mediante séria preparação.
Ora, a criança e o jovem são muitas vezes entregues à sua sensualidade; mais tarde serão escravos da sensualidade propriamente sexual. A palavra “amor” é particamente banida da educação dos adolescentes; sobre este ponto capital são eles abandondos à influência de camaradas por vezes suspeitos, de literatura nociva à imaginação e aos sentidos, de seus sonhos perigosos.
Os pais furtam-se a seu dever de educadores por diversas razões: alguns, infelizmente, fiquem talvez embaraçados por sua adolescência para explicarem a nobreza do verdadeiro amor; outros têm medo de desflorar a candura da criança; outros acham mais cômodo calar-se por ser delicada essa educação.
É delicada, porém, se impõe. Se for concebida como uma educação do coração e realizada com tato, psicologia, afeição, será infinitamente preciosa.
A educação do coração – Henri Pradel