– Este menino tem um coração de ouro. Dorme no mesmo quarto que a mãe. Sempre que acorda de noite, levanta-se, e vai beijar a mãe.
– Esta menina tem um coração muito meigo. Não pode ver gato ou cachorro que tenha fome.
Apresentações e recomendações como estas eu poderia citar uma centena. Nem sempre a observação materna foi certa, ao classificar de meigo e bom este ou aquele coração. Aqui exponho à leitora uns princípios de importância neste assunto.
É o coração em nós uma potência misteriosa. Pode elevar-nos até Deus e pode precipitar-nos na mais abjeta traição. É formável e também deformável, conforme os cuidados com que o cercamos. É ele que engrandece a vida e abre o céu.
O coração de teu filho, leitora, tem de ser sensível, forte, regrado, desinteressado e entusiasta.
Sensível – Isto é, acessível aos nobres sentimentos, capaz de se esquecer a si próprio para dedicar-se aos outros. Mas deves evitar que ele se torne mimado, sensual e piegas. Tal se dá quando a mãe vive cobrindo de carinhos os filhos, vive toda alarmada com o menor mal-estar da criança. Leitos moles, bombons, mostras de ansiedade, recomendações que revelam angústia, tudo isso se deve terminantemente evitar, diz Gualtier.
Não se admita que a criança, sob o pretexto de que se deve ser bom para com os animais, aplique injustamente em proveito dos irracionais as reservas de bondade concedidas por Deus, observa o P.Bethléem. Não se deve tolerar que chore a perda de um pássaro, de um cãozinho, etc.
Forte – É o coração quando sujeita suas afeições às normas da fé e da razão. Somente assim o coração será livre. Inimigo neste ponto são as paixões, os prazeres mundanos. Coração forte sabe também ser fiel, mantendo com constância as afeições legítimas e ordenadas que foram aceitas.
Regrado – Será o coração daquele que amar o belo e ligar-se ao bem. Há uns quantos amores que hão de ser cultivados no coração da criança. O amor à família (pai e mãe, irmãos e irmãs, avós, tios e tias, padrinhos e madrinhas e criados), o amor aos pobres, ao trabalho, ao dever , à pátria. Realmente, é vasta a tarefa para uma mãe de boa vontade!
Desinteressado – Isto é, livre de egoísmo. Deus, ao criar o coração, pôs nele a bondade. Mas o demônionele insuflou o egoísmo. A criança sabe ser terrivelmente egoísta, nos passeios, nos brinquedos, à mesa, quando recolhe para si o melhor, deixando o resto para os outros.
Urge acostumar teu pequeno a repartir com os outros seus bombons, seus brinquedos,etc. Deves levá-lo a ver os doentes, aos quais ele fará um presentinho. A palavra “obrigado” será habitual na sua boca, quando receber serviços dos outros, mesmos dos criados.
Entusiasta – É o coração que tem chamas dentro de si. É por isso necessário que a criança comece a apaixonar-se por um fim mais elevado o que as necessidades de cada dia.
Neste ponto a religião, sobretudo a Eucaristia, é poderoso auxílio para as mães. À pureza do coração realizada pelos sacramentos, unem-se os convites do grande fascinador dos corações: Jesus Cristo. Outros são então os horizontes descortinados pelos olhos infantis. Outras igualmente lhes são as intuições e elevações da alma.
As três chamas do lar – Pe. Geraldo Pires de Souza