O que dissemos marca a diferença entre correção e castigo – aquela, essencialmente emendativa, e este, ordinariamente punitivo. Aliás, os próprios nomes falam por si.
Há mais de um século, o grande pedagogo francês Monsenhor Dupanloup acentuava esta diferença, de que não tomaram conhecimento os educadores em geral.
Para os que procuram mais o próprio sossego que o progresso moral dos filhos, castigar é mais cômodo: umas palmadas no pequenino que jogou a merenda no chão, uns bofetões no rapazola que respondeu com arrogância, chineladas na menina que entornou tinta no vestido novo, um mês sem passeio para quem não teve média na prova parcial, trancar as crianças no quarto dos fundos porque perturbaram o silêncio de que precisa o pai, e outras medidas policiais do mesmo teor dão “soluções” imediatas, que contentam o adulto desprevenido, mas nada adiantam à educação, e, pelo contrário a prejudicam.
A experiência ensina que os castigos são aplicados precisamente nas condições em que não se deve sequer tentar a correção, isto é, sob o impulso das paixões. É na hora da zanga que os filhos apanham! Quando me consultam a respeito de castigos físicos, não perco tempo em combatê-los: aprovo-os, desde que deixem passar a excitação e, amanhã ou depois, de sangue frio, cabeça serena, chamem a criança, para malhá-la.
A resposta é única e infalível: “Ah! mas assim ninguém tem coragem“… É um ato impulsivo, bárbaro, desumano, que só se faz quando não se raciocina! Filho da vingança, e não do amor.
Por isso mesmo, longe de educar, os castigos conseguem apenas:
– revoltar as crianças briosas;
– inferiorizar as tímidas;
– eliminar o amor e a confiança, que serão substituídas pelo medo e pela deslealdade;
– fixar as obstinadas, apegando-as cada vez mais a suas faltas, agravando-lhes a situação, dificultando-lhes a correção;
– humilhar, em lugar de estimular (que é a grande tática do eduador)
– amedontrar, criando hipocrisias;
– orientar noutro sentido as violências represadas, que se compensarão no furto, na mentira, na impureza, e noutros derivativos da infelicidade;
– apurar a técnica dos faltosos, para escaparem à férula;
– levar ao desespero – menino que foge de casa, menina que casa com o primeiro doidivanas que lhe aparece, para escaparem à tirania do lar.
Os adeptos dos castigos, sobretudo dos castigos físicos, alegam, satisfeitos, os resultados de sua “paudagogia”. De fato, há crianças de tão boa índole que se corrigem mesmo assim; mas são raras. Comum é dar-se apenas uma aparência de melhora.
Eliminam-se ou dimunuem os frutos, mas a raíz fica, e frutificará de novo, quando cessar a pressão. A pobre criança cede, vítima de dois elementos que a dominam – por fora a força dos castigos, por dentro a tendência que permanece intacta, quando não reforçada pela oposição.
Mais comum é virem os pais trazer-vos o adolescente traumatizado, revoltado, endurecido ou humilhado, entregue a vícios, “incorrigíveis”, pedindo nossa ajuda: “Já fizemos tudo, e ele continua cada vez pior.”
Há, infelizmente, casos em que somos obrigados a ímpor castigos, em vista da fraqueza de certos educandos, que é necessário conter mesmo a contragosto seu. Mas então deve o educador procurar o bem direto da criança, e não uma satisfação à sua autoridade ou uma justificativa à preguiça de educar.
Fica, pois, acentuada a diferença entre castigo e correção, para que abramos mão daquele e pratiquemos esta.
Corrija o seu filho – Mons. Álvaro Negromonte