Em um escrito à memória e honra do Pe. Victor-Alain Berto, o Pe. Calmel recordou um ponto importante relativo ao artigo do Credo, “Creio na Igreja”; verdade a ser meditada na turbulência que a Igreja Católica atravessa hoje.
Fonte: La Trompette de Saint-Vincent n° 27 – Tradução: Dominus Est
Podemos crer na Igreja de muitas maneiras. Podemos crer nela de forma frágil, sem nunca ter tido uma consciência clara que existe uma ligação intransponível entre a pertença à Igreja e a salvação eterna. Podemos crer nela sem atribuir a devida importância à absoluta necessidade da hierarquia eclesiástica. Quer por uma inconsistência de pensamento e temperamento que pode não proceder de malícia, ou por uma leviandade que já está inclinada à traição, quer pela exasperação diante da mediocridade ou pela perversidade deste ou daquele dignitário eclesiástico: Os cristãos por vezes põem de lado tudo o que é hierárquico na Igreja sem, felizmente, chegarem ao ponto de cair em apostasia.
Padre Victor-Alain Berto (1900-1968). Teólogo, ex-diretor da revista La Pensée Catholique .
Uma das características mais marcantes da vida interior do Pe. Berto foi o vigor, a pureza, a lógica da sua fé na Igreja. Ele acreditava na Igreja assim como acreditava em Jesus Cristo, no céu e na condenação eterna. O que era demasiado humano nos membros da Igreja, incluindo algumas grandes figuras, não passou despercebido para ele. Se ele falava disso com tranquila liberdade, era porque sabia, no fundo de sua alma, que a Igreja não era isso; isso que, nos membros da Igreja, pertence à estupidez humana, às trevas de Satanás, e não à autoridade e santidade de Jesus Cristo. O mesmo se aplica ao Soberano Pontífice.
Ele não era um admirador incondicional dos Papas. Mas ele acreditava no Papa e o amava pelo que, neste homem único, pertencia verdadeiramente ao Vigário de Jesus Cristo, permanecia inexpugnável a todas as forças do Inferno. Essa fé granítica foi o que mais me impressionou nos meus primeiros encontros com o Padre. […] Ele foi um dos que mais seguramente me levou a compreender que se o pecado existe em todos os clérigos, independentemente da sua posição hierárquica, ter fé na Igreja consiste em não lhe dar atenção, quero dizer, não pôr em dúvida nenhum dos pontos da constituição hierárquica da Igreja por causa disso, mas ao mesmo tempo lutar sem piedade contra os germes do erro e da morte que um membro da hierarquia faria penetrar até no seio da igreja; lutar impiedosamente, sobretudo, pela oração e sacrifício, mas também, de acordo com nossas forças e nossa posição, através da pregação, da controvérsia, da exposição direta; – e o exercício corajoso da autoridade para aqueles que a detêm.