Segundo o testemunho de S. Francisco de Sales, Santa Mônica, durante a sua gravidez, oferecia a Deus cem vezes por dia, seu filho Santo Agostinho.— Depois que aprouve ao Céu fecundar o seu casamento, M.rae de Boisy, mãe de S. Francisco de Sales, gostava de ir muitas vezes, perante os altares, dar expansão à sua alma reconhecida.
— M.me Acarie consagrou os seus filhos a Deus, antes mesmo de nascerem, e sua segunda filha declarou que devia a essa consagração, que tinha precedido o seu nascimento, a inclinação que sentiu para a vida religiosa, desde a sua primeira infância. Durante o período da gravidez, a mãe de S. Bernardo aproximava-se freqüentemente da sagrada mesa afim de que Jesus Cristo, descendo muitas vezes para ela aí colocasse um gérmen de salvação, para a criança que havia de vir ao mundo. Devemos dizer, de passagem, que se uma mulher previsse que, sendo mãe, corria perigo de morte, seria obrigada, sob pena de pecado mortal a confessar-se de todas as faltas cometidas, e também a comungar. Além disso, toda a mãe que tem fé, esforça-se por meio da oração, pela freqüência dos sacramentos, e por uma vida santa, a atrair sobre o fruto, que traz no seio, a graça do batismo, sem cuja recepção o Céu está fechado às nossas almas.
Todos nós nascemos efetivamente, manchados pelo pecado original, privados da amizade de Deus, e indignos de O possuir na glória; é um ponto incontestável da nossa fé. Para lavar em nós a mancha impressa pela desobediência de Adão, para adquirir a vida da graça, e o direito à posse de Deus, é absolutamente necessário o batismo. Ninguém — diz a Verdade eterna — pode entrar no reino de Deus, se não for regenerado pela água do batismo, e pela virtude do Espírito Santo.
Por isso, mal a criança vê a luz do dia, afim de não lho fazer perder a salvação eterna, demorando-lhe um sacramento tão necessário, a mulher cristã trata de levar o mais cedo possível o seu filho ao templo do Senhor. Longe de imitar essas mães negligentes, que sob diversos pretextos, deixam muitos dias os seus filhos recém-nascidos, sob o império do demônio, a mãe cristã anceia por ver tornar-se filho de Deus, o ente que não poderá acariciar com felicidade, senão quando estiver revestido da inocência batismal [1].
No dia do batismo, escolhe-se para a criança um protetor no Céu, cujo nome ela usará, e na terra um padrinho e uma madrinha. A mulher que em tudo se deixa guiar pela sua fé, não recorre ao calendário nem à mitologia, para aí procurar um nome distinto ou extraordinário; não consulta senão o seu coração, e dá por protetor ao seu recém-nascido um santo, por quem tonha uma especial devoção, devoção que fará passar mais tarde para o coração de seu filho. Não se envergonha dos grandes nomes dos santos apóstolos, que o mundo julga terem envelhecido. Há em algumas terras o feliz costume de dar às crianças o nome de Maria e de José; e, na mesma família, muitas filhas têm o nome de Maria, que se ajunta também ao dos rapazes, de sorte que os Antônios-Maria, e os Josés-Maria não são raros. — Ó Virgem, protetora de todos nós, sem dúvida que protegeis duma forma especial os que têm o vosso nome, tão meigo e tão poderoso contra o inferno.
Para padrinho e para madrinha convém escolher pessoas que possam, caso a criança venha a ser privada dos pais, cumprir a seu respeito todos os deveres dos próprios pais, isto é, que sejam capazes de os instruir nas verdades da religião, e nos deveres do cristão, de vigiar pela sua inocência, de os levantar quando eles caírem, e de lhes dar bons exemplos. Não são motivos sobrenaturais, mas apenas o interesse ou a vaidade que inspiram a certas mulheres o pensamento de chamarem como padrinhos ou como madrinhas, para o batismo de seus filhos, cristãos, que do cristianismo apenas têm o nome, e que são incapazes de cumprir as obrigações que contraem.
No dia do nascimento, é grande a alegria da mãe; mas no dia do batismo é completa a sua felicidade. Quando, no regresso do santo templo, lhe entregam o seu filho batizado, com que transportes não aperta ela contra o coração o seu pequeno anjo, esse santuário do Espírito Santo, esse membro vivo de Jesus Cristo! Com que santa alegria não cobre de beijos essa fronte, ainda úmida da água regeneradora! Convida todos os seus a associar-se à sua alegria, e todos se sentem santamente orgulhosos, de ver que um dos membros da sua família se tornou o filho adotivo do Rei do Céu.
Todavia a alegria deste dia deve ser santa, como a causa que a produz. Nunca misturem às festas do batismo os regozijos mundanos. Num dia em que, em nome da criança, se renunciou ao demônio e se abjurou o mundo com todas as suas pompas, como é que se ousará militar sob o estandarte de Santanás, entregando-se a divertimentos que ofendem o pudor? Permitiria uma mãe, segundo a vontade de Deus, que, no momento em que Jesus Cristo acaba de lavar no Seu sangue a nódoa original que manchava a alma do seu recém-nascido, e na própria ocasião desse grande benefício do Céu, que almas cristãs se cobrissem das manchas da intemperança e do vício? Seria uma desordem que poderia talvez atrair a ira do Senhor, sobre a criança que acaba de nascer. Longe, pois de tolerar um semelhante abuso, uma piedosa mãe não convidará senão algumas pessoas, cuja gravidade lhe seja conhecida, para assistir à festa do batizado. Pelo menos nunca consentirá em sua casa essas reuniões de jovens de ambos os sexos, como se costuma fazer em algumas localidades. Será menos ruidosa a alegria, mas será mais suave.
Deus nada encontrará digno de castigo, e as despesas serão menores, o que permitirá que se façam algumas esmolas. Foi assim que no dia do batismo de S. Francisco de Sales, seu pai, o senhor de Boísy, distribuiu abundantes esmolas, no seio dos pobres. Depois do parto, deve a mulher cristã ir à igreja agradecer a Deus o mais breve possível; até seria mui louvável, se nos afizéssemos ao costume de ser a própria mãe que levasse seu filho para o apresentar ao Senhor. Depois de cada parto, Santa Isabel, rainha da Hungria, tomando o filho nos braços, saía secretamente do paço, vestida mui simplesmente, e descalça, dirigia-se para uma igreja afastada. O caminho era longo e mau, porque era cheio de pedras agudas, que despedaçavam e ensanguentavam seus pés delicados. Ela mesma levava o menino, durante o trajeto, como tinha feito a Virgem Imaculada, e chegando à igreja, depunha-o sobre o altar com um círio e um cordeiro, dizendo: Senhor Jesus Cristo, eu Vos ofereço, como a Vossa santíssima Mãe, o fruto querido do meu seio. Aqui, pois, meu Deus e meu Senhor, vo-lo entrego de todo o meu coração. Fostes Vós que mo destes, Vós que sois o Soberano e Pai amantíssimo da mãe e do filho, o único pedido que hoje Vos faço, e a única graça que ouso pedir-Vos, é que vos digneis receber esta criancinha, banhada pelas minhas lágrimas, no número dos Vossos servos e dos Vossos amigos, e dar-lhe a Vossa santa benção.[2]
Notas:
[1] A mulher, que, em conseqüência dalgum desastre imprevisto, dá à luz o seu fruto, logo depois da conceição, tornar-se-ia gravemente culpada perante Deus, se por sua causa privasse esse pequeno ser da graça do batismo. À ignorância dessa obrigação tem fechado o Céu a bastantes almas, a quem se negou a felicidade de ver a Deus… Não expomos aqui detalhadamente a forma de administrar o batismo nos casos de que se trata, porque o confessor melhor do que nós o poderá fazer. E se a mulher morresse antes de dar o filho à luz, deveria tomar, todas as precauções, para o batismo de seu filho, porque a criança nem sempre morre com a mãe.
[2] M. de Montalembert.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S