«Os cuidados, as solicitudes paternas e maternas não devem cessar, nem mesmo afrouxar, quando está prestes a findar a educação; porque a missão do pai e da mãe está longe de findar neste momento; é mesmo então que começa para ambos o mais sério dos deveres, o que é ao mesmo tempo o mais difícil, e o mais necessário para cumprir. E todavia sob a influência das preocupações mundanas, e também não sei porque temor pusilânime, porque triste sentimento da sua fraqueza, a maior parte dos pais imaginam ter terminado o seu dever; depois costumam dizer de si para si que a educação acaba com o colégio, que um jovem de dezoito anos ou já está educado, ou nunca o estará, que não se pode já obrigá-lo, nem constrangê-lo, que seria fazer mais mal, do que bem, etc., etc. Quem não tem ouvido dizer tudo isto? E é sobre todos estes belos pretextos, que eles abdicam definitivamente toda a sua autoridade paterna!» [1]
O filho do povo é quase totalmente subtraído à influência materna, desde que completa os quatorze anos; mandam-no para a cidade, ou aprender algum ofício, e ninguém mais se ocupa dele. Ou então, se fica sob o teto paterno, é inteiramente senhor das suas ações, e a mãe não se atreve nem a repreendê-lo nem a instrui-lo. Insensatos pais! Abandonais a si próprios os vossos filhos, no momento em que as paixões começam a fazer-lhes sentir o seu tirânico império, e quando por conseguinte mais precisavam de serem retidos por uma mão firme e segura! — «Não é nesta idade que deveríeis firmar a vossa autoridade com nova força e carinho, para acabardes uma educação que os perigos do mundo, a mocidade e as paixões tornam mais necessária que nunca? Dizem muitas vezes para se consolarem: Deixem passar os verdores da mocidade! Pois bem, eu, exclama o ilustre bispo de Orleans, nunca o pude assim pensar, e nada me parece mais doloroso que as loucuras da mocidade, nem entre as coisas tristes, que nos fazem muitas vezes chorar, sei de nada que despedace mais o coração»[2].
Pouco importa começar bem, o que tem de acabar mal. O campo cultivado com cuidado, torna-se estéril, se lhe desprezarem depois a cultura. É em vão que se lança à terra uma boa semente, embora ela depois germine, se antes da ceifa, a zizania abafar o grão. Se deixais secar, pelo sopro ardente das paixões, o gérmen de salvação, deposto na alma de vosso filho, tereis perdido, ó mãe, a vossa primeira solicitude e os vossos primeiros trabalhos; e conceder-vos-á Deus a recompensa, Ele que não promete a coroa, senão a quem combate até ao fim?
Não abandoneis muito cedo, nem abdiqueis de todo o nobre encargo da educação. Deveis conservar até ao fim a vossa benéfica influência. É fato que aos dezoito anos, como observa Mr. Dupanloup, deve um rapaz começar um pouco a andar só: não pode, nem deve sempre andar agarrado ao braço de sua mãe. Às melhores mães custa-lhes um pouco a concordar com isso; mas a criança, como diz Fénelon, não pode andar sempre agarrada às saias da mãe; mesmo, quando criança nem sempre lhe deram o peito; foi apartada do leite, e ensinaram-na a andar só. Mas só pouco e pouco, e como insensivelmente, é que se lhe pode dar a liberdade, que ela mais tarde deverá possuir inteiramente. Deixá-la completamente independente, seria perdê-la, é ir contra a ordem expressa do Espírito Santo: Non desillipotestatem in juventúte. Livrai-vos de deixar vosso filho entregue a si próprio, durante a mocidade. Vigiai os seus passeios, com uma atenta solicitude. Quando errar repreendei-o, sem o ferir; não o fatigueis com muitas recomendações, e se virdes que recebe de má vontade os vossos conselhos, não insistais. Se cometer uma falta grave, é bom que sinta em vós um coração aberto, como porto que se abre a um náufrago. Suportai-o, sem o lisonjear[3].
Se persevera nos seus erros, mais deve aumentar então o vosso zelo. «Durante essas horas cruéis em que a mãe treme pelo que tem de mais precioso no mundo, reza mais do que fala; espera, sofre, devora a sua mágoa: mas o seu silêncio, junto de um filho transviado é de uma admirável eloquência. Esse rosto de uma mãe profundamente triste, esse abatimento silencioso, revelam tão viva compaixão, uma dor tão amarga, que o desgraçado não se pode conter. Que digo? para trazer uma alma ao aprisco da fé, e lançar por terra todos os seus erros, basta muitas vezes um só olhar[4]».
Notas:
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[1] Mgr. Dupanloup.
[2] Mgr. Dupanloup.
[3] Mgr. Dupanloup.
[4] Fénelon, Mgr. Dupanloup.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S