Regenerada pelas águas do batismo, a criança cresce pouco a pouco, e bem depressa começa, pelo seu sorriso, a dar o primeiro indício de inteligência. Então nascem novos deveres para a mãe; é mister que desde então se aplique com zelo à grande obra da educação. Educar a criança é cultivar o seu espírito, e o seu coração: o espírito enriquecendo-o com os conhecimentos necessários ou úteis: o coração, sufocando nele o gérmen das paixões e dos vícios, que crescem conosco, e implantando nele o amor do bem e da virtude.
Em grande número dos nossos Livros canônicos a obrigação que Deus deu à mãe de bem educar os seus filhos, é expressa com tanta clareza, como força; e acerca deste assunto, os mais sagrados interesses das crianças, os dos pais e os da própria sociedade, se unem à voz de Deus, para repetir a todas as mães, pela boca do grande Apóstolo: — «Educai os vossos filhos segundo a lei, e no temor do Senhor» (S. Paulo ad Eph. VI, 4.)
O homem não abandonará na velhice o caminho que tiver seguido na adolescência; e é isso o que faz a desgraça quase irreparável de quem tiver recebido dos pais uma má educação ou simplesmente nula.
Infeliz! privado muito novo de sua mãe, ou tendo uma mãe negligente, sem ter ninguém que lance no seu espírito a semente da divina palavra não sendo instruído nos seus deveres de cristão; sem ninguém para vigiar pela sua inocência; sem ter quem lhe arranque do coração os primeiros germens das paixões nascentes, e cultivar as flores das virtudes cristãs. Que pode ser uma criança nestas condições? Crescem as más ervas na terra inculta da alma, e o mal desenvolve-se, sufocando todos os germens de bem. Fortificando-se nele diariamente, as tendências perversas, deixam acrescer raízes cada vez mais profundas. Como é possível deter os destroços desta torrente devastadora, que têm origem numa educação má, ou simplesmente desprezada? Onde arrastarão a sua vítima? Talvez à condenação eterna, porque a árvore cai para onde pendia. É, pois, bem de recear que o mau, avergado sob o peso do pecado para os abismos do inferno, aí vã precipitar-se.
Ao perigo duma condenação eterna, vêem muitas vezes juntar-se todos os males que o vício arrasta atrás de si, para formar o triste apanágio do homem sem educação. Além disso, o remorso que segue de perto a culpa, envenena todos os prazeres, e não deixa um instante de sossego. E como poderemos ser felizes, estando privados da amizade de Deus, nossa única felicidade neste mundo? De mais a mais as doenças e até mesmo a morte, a miséria e o desprezo dos homens são muitas vezes o castigo temporal daquele a quem os cegos pais não souberam ensinar a combater as paixões.
Quem não tem visto saúdes arruinadas pela libertinagem, fortunas dissipadas e aniquiladas pela vida licenciosa, um nome ilustre, ou pelo menos estimado, desonrado por quem o não soube usar? São esses ordinariamente os frutos amargos duma educação má ou desprezada.
Mas quanto são doces, pelo contrário, os frutos duma educação verdadeiramente cristã? Instruída de seus deveres, e generosa em saber cumpri-los, uma mãe segundo a vontade de Deus, vigia com piedosa solicitude, sobre aquele a quem já deu a vida, mas a quem quer dar uma segunda vida, pela educação. Ensina-o a conhecer e a amar a Deus; e reprimindo todos os movimentos viciosos que partem do coração, prepara para a virtude essa alma ainda tenra, que semelhante à cera, é susceptível de tomar todas as formas que lhe imprimirem. Protegida pelos cuidados maternos, cresce a criança em sabedoria, ao mesmo tempo que em idade; fortifica-se nela o hábito das virtudes, e conserva durante toda a vida a recordação dos conselhos e das lições de sua mãe. Até ao fim da vida observa a lei de Deus; ou, se num momento de fraqueza, se deixa transviar do caminho que lhe traçaram, e se abandona à vontade das paixões, virá um dia de sossego, em que, recordando-se dos cuidados piedosos com que sua mãe rodeou a sua infância, sentirá correr lágrimas de arrependimento, que lhe purificarão o coração. Não morrerá, pois, sem a esperança da felicidade eterna, que deverá a uma educação cristã.
E esta paz, que excede todo o sentimento, partilha segura de todos quantos amam a Deus, a estima dos homens, o bom sucesso nos seus negócios, e uma saúde florescente, não são outras tantas vantagens que o justo recebe muitas vezes ainda neste mundo, e que deve a uma boa educação?—Visto, pois, que amais os vossos filhos, e que tendes obrigação de lhes procurardes a felicidade e a saúde, educai-os santamente, ó mães cristãs. Esquecer ou desconhecer este imperioso dever, seria, além de os perder eternamente, atrair sobre as vossas cabeças as mais horríveis desgraças.
Como corre triste a vida dum grande número de mães! Quantos suspiros partem do seu peito! Que torrente de lágrimas lhes inunda os rostos! Pobres mães! E às vezes são elas a causa da sua própria dor! Desprezaram talvez a educação de seus filhos, e eles, mal educados, despedaçaram mais tarde o coração materno por seus erros, pelo infortúnio em que os lança o seu comportamento vicioso, pelo perigo em que vivem de perder a sua alma, algumas vezes pela sua insubmissão e até pelos ultrajes que infligem àquela que lhes não ensinou a lei de Deus, nem o temor da sua justiça. Mães infelizes, que tanto abundam hoje infelizmente, é com razão que chorais esse filho que se perde, ou para melhor dizer, que tendes perdido. Chorai, chorai, sem cessar! Pelas lágrimas do arrependimento, abrandais a ira do Senhor, que essa culpada negligência atraiu sobre vossas cabeças!
Mas vós outras que todas vos dedicais a formar cedo o vosso filho para a virtude e a gravar na sua alma o temor de Deus, só tendes que regozijar-vos durante a vossa vida, e à hora da vossa morte não será ele um motivo de tristeza: o próprio Espírito Santo é que vo-lo revela. O comportamento cristão do vosso filho, a estima dos homens e a benção de Deus que essa mesma estima lhe atrairá, farão a consolação da vossa vida. Que felicidade não é para uma mãe pensar que, formando seu filho para os deveres de cristão, não só recolherá dele o amor e o respeito, mas ainda prepara um eleito para o Céu e um cidadão útil para a sociedade!
Podemos dizer, a este propósito, que atualmente, mais do que nunca, carece a mocidade de ser sã e verdadeiramente educada. Compreendida, como deve ser a educação, lima o caráter, aperfeiçoando-o e abrandando-o ao mesmo tempo, sujeita-o a uma dependência e a obrigações legítimas, e ao mesmo tempo que lhe comunica a energia para santas resistência, inspira-lhe os nobres sentimentos e as dedicações generosas. Vendo nós a geração atual, sem cessar revoltada contra a obediência e o dever, unicamente apaixonada pelos gozos e o bem estar que a enervam, como não devemos assustar-nos pela sociedade assim abalada até aos fundamentos, e que devemos esperar dela, se uma boa educação dada à mocidade não vier assegurar as bases deste conjunto vacilante, e suster as ruínas que dentro em pouco desabarão infalivelmente?
A mãe, pois, que desprezasse o grande dever da educação, tornar-se-ia culpada ao mesmo tempo para com Deus, para com seus filhos, para consigo própria, e para com a sociedade. Ah! Senhor, não permitais que uma só, das que nos lerem, cometa semelhante crime! Todas — assim o esperamos —, abraçarão com coragem, sem receios nem desfalecimentos, a nobre e laboriosa missão que Deus lhes impôs. Mas, é essencial este ponto, a boa vontade não é suficiente; porque o primeiro cuidado duma boa mãe deve ser instruir-se de tudo quanto exige a missão que lhe é confiada, «porque, diz Mgr. Dupanloup, a educação é uma grande arte, e uma ciência profunda e difícil; mas é a ciência necessária ao estado dos pais e das mães; é o dever imperioso da sua vocação; ignorá-la, seria para eles a maior das desgraças, uma desgraça inteiramente irreparável e sem desculpa, porque nada é desculpável, quando se ignora o que se podia e devia saber. Seria preciso, diz mais adiante o mesmo prelado, ter refletido nos princípios a seguir na educação dos filhos, logo desde os primeiros tempos. Todavia quantas alianças têem sido contraídas, quantas crianças se têem transformado em adultos, sem que os deveres da educação tenham tomado corpo no espírito do pai e da mãe!» E depois de cedo se terem compenetrado dos seus deveres, cumpre pôr mãos à obra o mais breve possível. — «A primeira idade da vida, segundo o pensamento de Fénelon, é onde se formam as mais profundas impressões, e por conseguinte a que tem maior influência no futuro duma criança.» — «Se nos ocuparmos cedo, diz Bossuet, da educação duma criança, então os bons ensinos podem muito.» Mas que sorte espera a criança abandonada a si própria, falseada nos seus primeiros desenvolvimentos, e privada duma santa cultura moral?
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S