Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Em nome do secularismo, esta nova religião tanto estatal quanto conciliar, as crianças a partir dos três anos de idade terão agora que receber a escolaridade obrigatória. Mal saíram do seio materno, seus pequenos cérebros são obrigados a engolir noções impostas pelo Estado. Suas imaginações, ainda frágeis e muito tenras, provavelmente ficarão impressionadas, correndo o risco de alterar o processo natural de aprendizagem humana.
Mas qualquer que seja sua previsível deformação, esse ensino não é, de qualquer forma, uma meio de educação. Na verdade não é nem um nem outro. O primeiro, ainda que bem feito, conduz a inteligência em sua busca pelo conhecimento da realidade, a segunda molda um homem inteiro. Com efeito, outra ciência, outra virtude. Nosso mundo, imbuído dos princípios de Jean-Jacques Rousseau, toma a criança por um deus, mas a fé nos revela e a Igreja nos ensina que a prole que a Natureza dá aos pais nasce com esse pecado da natureza, o pecado original. E essa prole, por mais bela que seja, mesmo restaurada pela graça, carrega os resquícios indeléveis desse pecado.
E essa é o verdadeiro desafio da educação desde a primeira infância, quase desde o nascimento. Os pais têm a insigne tarefa de condizir à perfeição, como filhos de Deus, aqueles que eles levaram à pia batismal e que pediram apenas uma coisa: a vida eterna.
Mas, com exceção dos Santos Inocentes, a ascensão à glória do Céu não acontece em um dia: é um lento amadurecimento de todas as nossas faculdades, fortes em virtudes naturais e sobrenaturais. E ninguém é virtuoso se não é razoável: é necessário, por assim dizer, que nossa vontade bem regulada tome posse de nossa vida sensível, que é fortemente inerente aos prazeres sensíveis. Eis porque, quase desde o nascimento, a criança deve ser orientada para o bem e afastada do mal. Os pais têm, portanto, essa função eminente de educar seus filhos: eles têm que inculcar bons hábitos através da repetição, por mais tedioso que possa parecer, e corrigir severamente, por vezes, as más inclinações que podem rapidamente se tornar uma fonte de males futuros. A Sagrada Escritura diz tudo sobre este assunto, e sem otimismo, é verdade: “A loucura está ligada ao coração do menino, mas a vara da disciplina a afugentará.”. “A vara e a correcção dão sabedoria ; o menino porém, que é abandonado à sua vontade, é a vergonha de sua mãe.” (Prov 22,15 e 29,15). Esses hábitos são, de fato, o terreno necessário sobre o qual será construído o edifício da verdadeira vida humana, ou seja, da vida virtuosa. Mas para que isso aconteça é necessária uma experiência saudável; fruto da repetição, é a garantia de um futuro promissor. Sabemos muito bem que nada pode ser construído sem alicerces sólidos.
Educar a criança para prepará-la para seu primeiro ato responsável, esse é o desafio.
As crianças pequenas procuram, obviamente, um prazer ao seu alcance: um prazer sensível. Muito antes de poderem raciocinar ou fingir querer, eles vivem pela imaginação e pelo desejos. Mas esse pequeno prazer, esse insignificante desejo pode muito bem não estar de acordo com o destino humano e cristão de um homenzinho. Eis a grandeza da tarefa dos pais: desde a mais tenra infância, prepará-lo correta e seriamente para a vida adulta futura. Mais ainda: um pai e uma mãe, juntos, devem preparar essa pequena alma para realizar o ato fundador de toda a sua vida racional. Pensamos nisso? Movido pela ternura, pela fragilidade, pela doçura do pequenino, talvez não dêmos atenção suficiente ao fato de que um dia este pequeno terá que fazer uma escolha inicial que iniciará toda a sua vida racional. O bom Deus nos criou de tal forma que precisássemos de tempo para amadurecer. E toda educação infantil é uma longa elaboração para que a própria criança, de alguma forma, coloque a pedra fundamental de toda a sua vida. Se o ensino dos pequeninos certamente não é obrigatório, sua educação, sem dúvida, é. E por que, afinal? Porque um dia essa criancinha, talvez tão doce, chegará à idade da razão; ela realizará um ato, aparentemente simples, ao final de uma deliberação que está ao seu alcance; ela própria fará, pessoalmente, uma escolha sem escapatória para a qual terá preparado toda sua vida infantil: Deus ou ele mesmo. Neste momento, o pequeno torna-se verdadeiramente racional: começa uma vida de virtude ou, ao contrário, voluntariamente se afasta dela: neste último caso, o pecado entra “no seu mundo”.
Nas primeiras horas de sua vida, a criança pediu a fé que a conduz à vida eterna. Na primeira hora de sua vida racional, ela mesmo faz a escolha. Nesse momento está o verdadeiro desafio da educação primária.
Pe. Benoît de Jorna, Superior do Distrito da FSSPX na França
Retirado da Revista Fideliter n° 252, de novembro-dezembro 2020