DAS CASAS DE EDUCAÇÃO

Resultado de imagem para escola catolica«Entre todos os deveres que a autoridade pa­terna impõe a um pai e a uma mãe, nenhum co­nheço mais grave, escreve Mgr. Dupanloup, que o de escolher – os mestres a quem deve ser confiada uma parte desta santa autoridade.»

A mulher do povo, especialmente a que habita nas aldeias, não pode ordinariamente enviar o seu filho senão à escola paroquial; as mais das vezes é difícil mandá-lo a outra freguesia vizinha. Como apreciar devidamente os serviços prestados à Igreja e à sociedade, por religiosos e religiosas, que con­sagram a sua vida a instruir o filho do povo, e a educá-lo no amor, e no temor de Deus? Que mulher cristã não seria feliz, confiando-lhe o seu filho ou filha? E onde poderia ela encontrar uma dedicação mais desinteressada e mais sincera?—«Para ser professor de instrução primária, disse o grande his­toriador Thiers, é necessária uma humildade e uma abnegação, de que um leigo raras vezes é capaz: é preciso o padre, o religioso; o espírito, a dedicação leiga não são suficientes!» Se acontecesse, — o que Deus não permita —, que uma criança não pudesse ir à escola, sem expor a sua fé, e a sua inocência, seria infinitamente melhor que ela não abandonasse o teto da sua choupana. 

As próprias escolas, onde se não ensina a religião, nem as virtudes cristãs, não podem bas­tar à educação da infância. Toda a escola mista de crianças de ambos os sexos oferece perigos que uma mãe deve temer. E é por ventura necessário que o agricultor mande o seu filho para o colégio? Essa criança não deixará daí encontrar a saudade da vida dos campos, e depois de acostumado, vol­tará com ares de gran-senhor. Achamos natural e necessário que o vosso filho aprenda a ler, a escre­ver e a contar, e é isso mesmo que ele aprenderá na escola da sua aldeia; mas que fique cultivador, como seu pai, que é o melhor partido que pode tomar. Também achavamos razoável que as mães de família do campo não mandassem a suas filhas como pensionistas, para estabelecimentos, donde elas voltam, falando francês, usando chapéu, sabendo bordar a ouro, a canotilho e a cabelo, mas despro­vidas dos conhecimentos usuais mais necessários. Longe de nós, todavia, censurar as mães que confiam os filhos a um colégio, dirigido por religiosos ou religiosas, onde essas crianças estão ao abrigo dos perigos do mundo.

Digamos agora uma palavra a propósito da esco­lha de colégio, ou antes escutemos o ilustre prelado cujas palavras nunca nos cançaremos de citar: — «Se as crianças devem encontrar na educação pública maus costumes e impiedade, vale mais mil e mil vezes que fiquem para sempre ignorantes, ou rece­bam uma educação menos perfeita, do que perder a sua fé e ver murchar a sua virtude. Não oferece o mau colégio a horrível certeza duma corrupção ime­diata, profunda, medonha, e o mais das vezes irre­mediável?

Antes, pois, que os pais escolham a casa de educação, onde devem colocar os seus filhos, é pre­ciso que se informem, que consultem, que vejam com seus próprios olhos… Por mais que escolham, nunca um pai e uma mãe escolherão de mais, porque uma escola onde se professe o culto e se ensinem as verdades da religião é uma coisa importante. Nada sobre este ponto pode ser feito ao acaso[1]. Traba­lhar por hábito, por capricho, por sugestão alheia, ou por complacência, tratando-se do mais grave dos assuntos e do mais santo dos deveres, seria uma ação sem desculpa [2].»

Vê-se daqui que se deixa cegar pela ternura a mãe que escolhe sempre o colégio mais vizinho, afim de mais facilmente poder prodigalizar as carícias a seu filho, sem prever os perigos que aí pode correr a sua inocência. E como desculpar os pais, que confiam os filhos a um estabelecimento aliás mui pouco recomendável, unicamente porque os preços aí são mais reduzidos? Sob o pretexto de que seu marido exerce um cargo público, uma mulher cristã julgar-se-ia obrigada a enviar seus filhos, para um destes colégios «onde esses desgraçados, juntos a condiscí­pulos mal criados, não encontram o mais de vezes, para substituir um pai, ou uma mãe, senão indiferentes ou mercenários, olhares duros, corações de gelo, e mãos de ferro[3] — «A  educação religiosa, excla­ma na tribuna francesa M. de Gasparin, não existe realmente nos colégios… Recordo-me com horror do que eu era, ao sair dessa educação nacional, re­cordo-me do que eram todos os meus companheiros com quem eu tinha relações: nem tinhamos os mais débeis princípios da fé e da vida evangélica.» Uma mãe cristã procurará, pois, para seu filho um esta­belecimento, onde possa encontrar, nos mestres, a fé, o zelo, a virtude; e nos alunos o espírito de submis­são e a pureza dos costumes. O pai de S. Francisco de Sales queria mandá-lo para o colégio de Navarra, que efetivamente tinha uma grande fama, onde havia grande quantidade de alunos, mas onde havia pouco zelo em cultivar a piedade. M.me de Boisy, sua mãe, fez porém valer tantas razões para fazer prevalecer o colégio dos Jesuitas, ao colégio de Na­varra, que seu marido, sacrificando corajosamente todas as suas pretensões e as suas vistas de amor próprio, viu-se constrangido a dar o consenti­mento[4].

Se não fosse o zelo vigilante de sua mãe, o jovem Francisco, em vez de vir a ser um santo, teria talvez perdido a inocência e a fé.

M.me Acarie colocou dois dos seus filhos no co­légio de Pontoise, onde não havia senão pobres, esperando, diz o seu biógrafo, que eles aí aprovei­tariam os bons exemplos dos seus condiscípulos, que tinham felizes disposições para a virtude. Na esco­lha duma casa de educação, uma mãe segundo a vontade de Deus não se deixa guiar por uma louca vaidade, mas pelo desejo da salvação de seus filhos.

Notas:

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[1] Foi o que compreendeu uma verdadeira mãe que escrevia estas linhas em 3 de julho de 1866:  – «Meu reverendo Padre, desejo que o santo Sacrifício seja oferecido no venerado santuário de La Salette para obter, por intervenção da Santíssima Virgem, conhecer e cumprir a vontade de Deus, na escolha que devo fazer dum estabelecimento, para aí confiar o meu filho. Oh! Recomendai com todo o fervor essa intenção a Nosso Senhor, por intermédio de Sua santa Mãe. Talvez me tenham exagerado o perigo do colégio, para meu filho, mas não me posso tranquilizar sobretudo com os exemplos, que a cada momento vejo diante dos olhos. Pedi, pois eu vo-lo suplico, meu reverendo Padre, para que o meu querido filho conserve o precioso tesouro da sua inocência.»

[2] Mgr. Dupanloup

[3] Mgr. Dupanloup

[4] Vida de São Francisco de Sales

A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier