Jerônimo escrevia a Laeta: «Animai vossa filha, dando-lhe pequenas lembranças, das que são estimadas na sua idade.» As recompensas são efetivamente um meio de excitar a emulação entre as crianças. É certo que se não deve, quando são exortadas a aplicarem-se ao estudo e a praticar as virtudes cristãs, propôr-lhes a recompensa, como o único meio de fazerem o que se lhes exige; importa, pelo contrário, fazer-lhes bem sentir a obrigação que temos de trabalhar por dever, para cumprir a vontade de Deus. Seria dalguma forma tornar venal a alma de uma criança, habituá-la a não fazer nada, senão com a promessa de receber alguma coisa; mas quando se sabe usar delas com comedimento e prudência, as recompensas são úteis: fazem compreender às crianças que encontramos interesse e estima nos nossos semelhantes, quando nos aplicamos ao trabalho, e sabemos cumprir os nossos deveres.
Nunca se deve propor, como recompensa, diz Rollin, nem adornos, nem gulodices, nem coisas semelhantes. E a razão é óbvia: é que, prometendo-lhes essas coisas, em forma de recompensa, faz-se que elas as julguem, como coisas boas e desejáveis, e dessa forma, fazemos-lhes estimar o que devem desprezar. O mesmo direi do dinheiro.» — «Nunca pude compreender, escreve Mgr. Dupanloup, a religião de certos pais, que prometem a seus filhos, como recompensa, para o dia da sua primeira comunhão, relógios e correntes de ouro. O resultado foi, como algumas vezes vi, que o relógio era nesse dia mais adorado, que o próprio Deus».— «Podem recompensar-se as crianças, diz Fénelon, com brinquedos, com passeios, com pequenas lembranças, como quadros, estampas, medalhas, livros dourados», e especialmente por algumas distrações agradáveis, que sirvam, para lhes alimentar a piedade, como peregrinações, passeios a um oratório, ou assistência a alguma solenidade religiosa, nalguma terra vizinha.
Com as crianças, como nota um judicioso autor, deve haver o cuidado de não faltar àquilo que se prometeu; doutra forma não tardariam a desprezar tanto as promessas, como as recompensas, fartas de esperar pelo cumprimento do que lhes prometeram.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier