Diversos rumores e alguns sites parecem sustentar como provável a publicação de um texto questionando, pelo menos parcialmente, o Motu Proprio Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI, autorizando sob certas condições a celebração da Missa tradicional e afirmando que esta jamais foi proibida.
Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est
OS ELEMENTOS QUE SUSTENTAM O RUMOR
O primeiro sinal é bastante remoto, mas revela uma certa aversão do Papa reinante à liturgia tradicional, ou seja, sua vontade de não permitir sua extensão, pelo menos entre as comunidades “Ecclesia Dei ”.
De fato, várias dessas comunidades, como os Franciscanos da Imaculada ou mesmo a Família Christi, viram-se fortemente sancionadas, até mesmo dissolvidas, por causa de sua aproximação com a Tradição e, em particular, com o rito tradicional da Missa.
Um segundo sinal apareceu com a enquete sobre o rito “extraordinário” lançado pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em março de 2020, entre todos os bispos.
Para quem conhece um pouco dos bastidores desse tipo de investigação, era óbvio desde o início que o resultado não importava muito. Mas, por outro lado, era previsível que servisse de pretexto para introduzir uma reforma ou mudança na situação atual da Missa tradicional.
Um terceiro sinal confirma a anterior: logo que os resultados da enquete chegaram a Roma, uma decisão, tão brutal quanto inesperada, definiu o destino das Missas privadas celebradas na Basílica de São Pedro. Nessa ocasião, a celebração do Rito Tridentino foi relegada ao segundo plano, tanto em termos de local como de tempo.
Um quarto sinal, mais recente, é a confidência feita pelo Papa Francisco ao Cardeal João Braz de Aviv, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Este último revelou durante uma conferência: o sucessor de Pedro expressou-lhe seu receio de uma “certa tendência a se afastar do Concílio Vaticano II, assumindo posições tradicionalistas“.
Essa confidência, afirma o Cardeal, foi dada no contexto mais amplo da formação dos sacerdotes. Assim, o Papa está preocupado que a formação sacerdotal seja desviada, distorcida, porque estariam ensinando “posições tradicionalistas” aos seminaristas ou jovens religiosos.
Um quinto sinal foram as palavras proferidas pelo Papa durante o discurso inaugural da Assembleia Geral da Conferência Episcopal da Itália (CEI) em Roma, em 25 de maio de 2021. O Papa pensou estar falando em privado, mas o início de seu discurso foi transmitido pela Santa Sé.
Ele começou afirmando que havia um “grave perigo“. Que perigo? “Os seminaristas parecem bons, mas são rígidos e a rigidez não tem um bom espírito.” Parece, embora isso não seja certo, que o contexto é muito idêntico ao da confidência ao Cardeal Braz.
Além disso, parece que, de acordo com fontes romanas, o tema das condições para a celebração da Missa tradicional está, de fato, em discussão. Mas seria imprudente arriscar dizer mais sobre o conteúdo ou sobre a data de publicação de um texto.
ALGUNS LEMBRETES
Se existem elementos reais de receio quanto a uma possível restrição da possibilidade de celebrar a Missa Tridentina, isso não diz respeito à Fraternidade São Pio X (FSSPX), que sempre se apoiou, seguindo o seu fundador, D. Marcel Lefebvre, nos direitos inalienáveis deste rito. Nem sua pretensa proibição, nem o seu restabelecimento de forma condicional parece ser válidos [à FSSPX] face esses direitos.
Uma dupla confirmação da possibilidade intangível de celebrar este rito foi dada por Roma. Primeiro, pela revelação feita pelo Cardeal Alfons Stickler sobre a convocação de uma comissão de nove cardeais em 1986, a pedido do Papa João Paulo II. (1)
Eles tiveram que responder a duas questões. A primeira, se era possível a um Bispo proibir um padre de celebrar a Missa Tridentina. A resposta foi unânime: “Não”. A segunda questão é se era possível proibir essa Missa. Resposta: oito “Não” contra um único “Sim”.
A segunda confirmação é tirada do Motu Proprio Summorum pontificorum do Papa Bento XVI, que afirma que o missal de São Pio V nunca foi revogado.
Daí conclui-se que todos os constrangimentos, todas as intimidações ou ameaças, mesmo as proibições trazidas pelos Bispos contra a celebração da Missa Tridentina, são puro abuso de poder: uma forma de tirania episcopal. Ou, para usar um termo caro a Francisco: clericalismo da pior espécie.
Se, como se poderia temer, fosse feita uma limitação à letra do Motu Proprio de Bento XVI, a mesma seria abusiva. E visto que seria dirigido contra o bem comum da Igreja, nula em si mesmo: não há lei válida contra o bem comum segundo a doutrina de Santo Tomás. Agora, a Missa Tridentina está no coração do bem comum da Igreja.
Mesmo se a FSSPX não pudesse se sentir preocupada, lamentaria profundamente tal limitação, pois seria um retrocesso no caminho de retorno à Tradição que atrasaria ainda mais a solução da crise da Igreja iniciada pelo Concílio Vaticano II e suas calamitosas reformas, em particular no campo da liturgia.