Os Romanos, diz Fénelon, e antes deles os Gregos, ensinavam a seus filhos a não estimarem senão a glória, e a quererem, não possuir riquezas, mas vencer os reis que as possuíam, julgando que só pela virtude se podia ser feliz. Quando, serão os filhos do século mais sábios que os filhos da luz?
Quando deixarão de correr após as vaidades os discípulos daquele que não teve uma pedra onde repousasse a cabeça, e que começou as Suas prédicas evangélicas, por estas palavras: — «Bem-aventurados os que têm o coração desprendido dos bens deste mundo!» Os exemplos dos pagãos deveriam cobrir de confusão os pais cristãos, que só sabem ensinar uma única ciência a seus filhos—a de fazerem fortuna; que os habituam a não considerarem felizes, senão os poderosos; que só julgam do merecimento dos homens, pelas suas riquezas. Vós, ao menos, piedosas mães, apreciais pelo seu justo valor o que o mundo tão cegamente ambiciona.
As riquezas fornecem, é fato, o meio de fazer boas obras, e de socorrer os pobres, com a esmola. É a única vantagem que elas podem oferecer. E para isso é necessário que quem as possui, tenha o necessário desprendimento, para fazer delas esse nobre uso. Mas o mais das vezes fomentam no homem a luxúria e o orgulho, que são as duas fontes de todos os nossos males. As preocupações que dão, afastam os pensamentos sérios da fé e das práticas da religião; e é fora de dúvida, que a indiferença religiosa, que é a chaga do nosso século, tem origem nesta sede de bem estar material que devora a sociedade. De sorte que, as riquezas trazem-nos mais perigos para nossa alma, do que verdadeira felicidade. Afinal, consideradas em si próprias, que são as riquezas senão um pouco de pó e cinza que em breve temos de deixar? E nada podem acrescentar ao valor pessoal do seu possuidor, visto que não fazem parte dele.
Uma mãe, segundo a vontade de Deus, encontrará na sua fé, e na sua razão bastante grandeza de alma, para se elevar acima dos pensamentos mundanos, para desprezar os bens da terra, e para ensinar os filhos a desprezá-los. Citar-lhes-á o exemplo de Salomão que preferiu a sabedoria a todas as prosperidades, e a todas as riquezas que o Senhor lhe oferecia, e especialmente o de Jesus Cristo nascendo num presépio, e morrendo numa cruz.
Se a seus filhos deverem tocar, por herança, alguns bens, far-lhes-á compreender que Deus lhes pedirá conta do uso que delas fizerem; pois que de nada lhes servirá serem ricos, se não forem virtuosos. Pelo contrário, servir-lhes-á a fortuna de condenação, se os levar ao esquecimento de Deus e dos seus deveres de cristão. Sendo pobres, dir-lhes-á com Tobias:—«Levamos uma vida pobre; mas possuiremos muitos bens, se temermos a Deus.» Depois, para lhes fazer ter desapego do que possuem, habituá-los-á a deixarem tirar por estranhos os seus brinquedos; a pedir-lhes aquilo que já lhes tinha dado, e privando-os por algum tempo dos objetos que mais pareciam extremar.
Se disputam entre si a posse dum objeto, deve repreendê-los, e fazer-lhes sentir que não há nada mais bonito do que privar-se um menino do que possui, para ser útil aos outros. Será bom encarregá-los de levar aos pobres as esmolas dos pais, para lhes fazer contrair cedo costumes de caridade; também se pode deixar à sua disposição algum dinheiro, destinado aos indigentes que encontrarem. Importa, todavia evitar que as crianças se acostumem à prodigalidade, que dissipa loucamente os bens que se poderiam empregar em tão úteis ou tão nobres usos, evitando sobretudo que eles se afeiçoem ao jogo, que pode, levado ao estado de paixão, arruinar as mais brilhantes fortunas.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S