O mal que uma grossa saraivada produz num formoso campo de trigo, e que um furacão produz numa árvore cheia de flores, o mesmo mal produz o pecado mortal na infância. Ficai-o sabendo, ó mães cristãs, tanto para interesse de vossos filhos, como para vosso próprio interesse,— «há só uma desgraça séria e temível, uma única prova terrível: o pecado. Os laços que os inimigos nos estendem, os ódios com que nos perseguem, as injustiças, as calúnias, a espoliação de nossos bens, o exílio, as guerras, as tempestades do mar, o terramoto do mundo inteiro, tudo isso é nada. Todos esses males são momentâneos; apenas prejudicam o corpo, mas não fazem mal à alma. Mas o pecado mortal rouba-nos a amizade de Deus, e prepara-nos a eterna condenação.
E o pior é que, com quanto os seus dentes sejam mais mortíferos que os do leão, o pecado lisonjeia a nossa natureza perversa. É um veneno que se oferece à infância, com a doçura do mel, é um precipício cuja profundidade se não pode avaliar, por causa das flores que lhe cobrem a boca da entrada. A criança bem cedo chupará este pérfido veneno; querendo colher estas cruéis flores, rolará no abismo que elas cobrem, se a sua mãe não tiver tido o cuidado de lhe dizer e repetir: — Ah! meu filho, nunca aproximes os teus lábios deste copo envenenado. Foge destas flores, que estão a ocultar-te um abismo». Todas as santas mães sempre assim o compreenderam. E que vivas e comoventes exortações não empregaram elas, para inspirarem a seus filhos o horror ao pecado? Quem não conhece as sublimes palavras, que dirigia a S. Luís, ainda criança, sua mãe a rainha Branca de Castela? «Meu filho, eu antes queria ver-te morto a meus pés, do que ver-te cometer um só pecado mortal».
Ainda existem, e em maior número do que realmente se pensa, novas Brancas de Castela, escreve o Padre Ventura. Apenas falaremos duma destas mães heróicas, que conhecemos. É Virgínia Bruni. Tinha ela três filhos: um menino e duas meninas Ora, todas as noites, depois da oração que lhes fazia rezar em comum, e na sua presença, levantava a voz, e em tom enérgico, dizia : «Meu Deus, ponde de parte o meu amor por estas crianças e permiti que todas três morram na minha presença, antes que tenham a desgraça de cometer um só pecado mortal». Educadas assim no santo temor Deus, não admira que estas felizes crianças, viessem a ser três santos, por morte de sua mãe… O menino de então é hoje um sacerdote; a mais nova das meninas é religiosa professa, e a outra edifica o mundo pela sua piedade, visto que a sua débil constituição lhe não permitiu entrar na vida clausural.
Uma senhora chinesa, ainda nova, recentemente convertida ao cristianismo, conduzia a filha a um pequeno oratório, e aí, em face da imagem de Jesus crucificado, dizia com o acento de uma ternura maternal, e de uma convicção profunda: — «Deus bem sabe quanto eu te amo, ó minha filha. Todavia, se eu soubesse que havias de perder a inocência do teu batismo, pedia ao Senhor que te tirasse depressa do mundo. Sim, meu Deus, repetia três vezes esta mulher forte, com os olhos fixos no crucifixo, se assim houvesse de acontecer, podíeis tirá-la ao meu amor, porque longe de a chorar, abençoar-vos-ia, por nos terdes feito, a mim e a ela tão assinalada mercê!»
Estes sentimentos tão sublimes não os tem somente nos lábios a mãe, tal como o cristianismo a fez; conserva-os vivos no íntimo do coração, e na ocasião própria fá-los expandir, por meio de obras. Veja-se aquela mãe dos três gêmeos de Langres descer à prisão onde os seus três filhos estavam encerrados pela fé, beijar respeitosamente as suas cadeias, e indo de um para outro, com o rosto resplandecente de alegria, dizer-lhes: — «Nunca recebi dos meus gloriosos antepassados glória igual à que me vai resultar da imortal honra da vossa morte!» À mãe de S. Sinfrónio de Autun, sabendo que seu filho fora condenado a ser decapitado pela fé de Jesus Cristo, e já o conduziam ao martírio, temendo que ele, na idade de dezesseis anos, tivesse um instante de pesar por essa vida, que ia perder, corre a sair-lhe à frente, e quando julga que lhe ouviria a voz, grita-lhe:—«Meu filho, olha para o Céu; tu não perdes a vida, troca-la por outra melhor.» Santa Dionísia colocou-se de pé, junto do cavalete, amparando com a vista o filho que agoniza sob os açoites que recebia; quando ele deu o último suspiro, arrebata o seu corpo ensanguentado e vai sepultá-lo com os cânticos de alegria da cristã, e os gemidos dolorosos da mãe. — E quando, para sustentar um filho nos tormentos sofridos pela causa de Deus, não bastavam os olhares e as exortações, quando era preciso ajuntar-lhe súplicas e lágrimas, já se viu uma mulher cristã cair de joelhos aos pés do filho, e conjurá-lo, por piedade, para com sua mãe, a morrer com coragem, e não atraiçoar a sua fé.
«Deus não pede, sem dúvida, senão raras vezes semelhantes sacrifícios, escreve o biógrafo de Santa Mônica, a quem fomos buscar estes fatos notáveis de heroísmo materno. O que porém é certo é que toda a mãe que não é capaz de dar a vida temporal do seu filho, para salvar a sua vida eterna, não é uma mãe cristã; porque toda a mãe que não sente a coragem de se colocar entre o filho e o crime, é uma mãe, indigna de que se lhe dê esse nome. Mas também quando uma mãe está resolvida a sacrificar tudo, incluindo a própria vida do seu filho, antes que vê-lo manchado pelo mal, como poderá morrer esse filho?
Quando vemos um grande número de crianças, desde os mais tenros anos, a arrastar pela lama as alvas vestes de que o sacerdote as revestiu logo à entrada da vida, que havemos nós de concluir ordinariamente por esse fato, senão que suas mães, muito pouco cristãs, não souberam derramar no seu coração o ódio pelo vício? E não é justificada esta conclusão pela história, que nos traça a constância e a generosidade, de que têm dado provas, nos mais horríveis suplícios, os filhos a quem uma santa mãe tinha ensinado a morrer, preferindo isso a vê-los transgredir a lei de Deus?
No tempo do tirano Dunaan, tinha uma mulher cristã instruído nas verdades da fé, e preparado para o martírio um seu filhinho. O perseguidor mandou-a prender, arrancou-lhe o filho, e condenou-a a ser queimada viva. A criança apenas tinha cinco anos. Chorava por ser separado de sua mãe, e por não poder partilhar os suplícios que tinha aprendido a ambicionar, desde o berço. Dunaan perguntou-lhe o que preferia, se viver com ele num palácio, ou ser metida com a mãe numa caldeira ardente. O pequeno respondeu:— «Antes quero ficar com minha mãe. Quero sofrer com ela o martírio, porque nunca cessou de me exortar a dar a minha vida por Jesus Cristo.» Dunaan esgotou em vão as promessas e as ameaças. Ó prodigiosa eficácia das exortações materna!
Todo o poder vos foi dado sobre o coração de vossos filhos, mulheres cristãs; usai, por quem sois da vossa salutar influência, para os afastardes do vício. Não o esqueçais; o fim principal da educação é inspirar-lhes o horror ao pecado. Os próprios pagãos assim o tinham compreendido. — «Que ensinareis a meu filho perguntava um pai a um filósofo a quem, o tinha confiado. — «Ensinar-lhe-ei a aborrecer o mal, e a fazer o bem», respondeu o sábio mestre.
Importa fazer notar, concluindo este capítulo, já bastante longo, que não é suficiente inculcar à criança o ódio ao pecado, é preciso fazer-lhe temer, e evitar as ocasiões. Ora as principais ocasiões de queda grave são as más companhias, as ligações com pessoas de sexo diferente, os divertimentos mundanos, os espetáculos e as más leituras. Trataremos de tudo isto, mais detalhadamente.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S