O temor de Deus é o princípio da sabedoria.
«Ensinai à criança desde a sua mais tenra mocidade, escrevia Bossuet, e por assim dizer, desde o berço, o santo temor de Deus.» Com esta virtude, vir-lhe-ão ao mesmo tempo, todos os outros bens.— «Não é efetivamente, pergunta Mgr. Dupanloup, este temor religioso que inspira à criança o amor do trabalho, a pureza dos costumes, a docilidade, o respeito para convosco, e o respeito para com ele próprio? Que é o pudor, tão belo e tão puro na fronte da mocidade, tão santo e tão nobre nos olhares da idade madura, tão venerável sob os cabelos brancos do velho, senão a mais elevada delicadeza do respeito, e do temor de Deus?… Sejam quais forem os defeitos, direi mesmo os vícios naturais de uma criança…. se nós pudermos abrir o seu coração ao amor e ao temor de Deus, tudo se torna fácil, com o tempo e com a paciência, e então espero tudo, não só pelo presente, mas especialmente pelo futuro.»
Lê-se nos livros santos que o patriarca Tobiasy tendo tido um filho a que deu o seu nome, ensinou-lhe a temer a Deus, desde a infância, e a abster-se de todo o pecado.» Mais tarde, este santo velho julgando a morte próxima, chamou o filho e disse-lhe: — «Escuta meu filho, as palavras do teu pai: conserva Deus no teu espírito todos os dias da tua vida, e guarda-te de consentir em algum pecado e de violar os preceitos do Senhor. Passamos, é verdade, uma vida pobre, mas teremos muitos bens, se temermos a Deus, e fugirmos de toda a iniquidade.»
Não é assim que raciocinam hoje alguns pais indiferentes. Conservando por seus filhos, não sei que solicitude, preservando-os com cuidado do certas desordens, que o próprio mundo sabe exterminar, nada lhes dizem, acerca do respeito que devem a Deus e à Sua lei. Insensatos! edificam sobre areia, vêem menosprezada a sua autoridade, que só o temor de Deus pode fazer respeitar, e deixam os seus filhos, sem defesa, contra os ataques do demônio, do mundo e da carne ! «Ai das educações, exclama o ilustre bispo de Orleans, a que não preside o santo nome de Deus, e onde raras vezes se fala nele.» Ai das mães que não sabem inspirar o temor de Deus a seus filhos! Preparam para si próprias um cálice de amargura bem cheio de lágrimas e de dores!
Devem, pois, as nossas leitoras aproveitar a ocasião de falar muitas vezes a seus filhos na grandeza de Deus, no Seu poder, na Sua glória e na Sua infinita majestade.—-«Oh! meus filhos, lhes dirão, Deus é o rei imortal dos séculos. Ouvindo o Seu nome, todos os joelhos se dobram, nos Céus, na terra e no inferno. Milhões de anjos obedecem, tremendo, às Suas ordens; com três dedos sustenta a terra. Criou tudo com uma só palavra, e com uma só palavra, tudo pode destruir. A Sua imensidade enche o universo.»
Como nada há que seja mais capaz de imprimir no coração o temor de Deus como o quadro do juízo final e a descrição dos suplícios eternos do inferno, uma mãe cristã, reunindo os filhos sobre os joelhos, ou em volta dela, dir-lhes-á com a força, que só a fé viva sabe inspirar: «No fim do mundo, meus filhos, ao som estrepitoso da trombeta final, ressuscitarão todos os homens. O Senhor enviará os Seus anjos, que os reunirão todos no vale de Josafat. Aí aparecerá Jesus Cristo, o Filho de Deus, feito homem, que virá sobre as nuvens com grande poder e majestade, assentado sobre um trono brilhante e cercado de todos os anjos que lhe farão cortejo. Ao lado de Jesus Cristo se assentarão, para julgar com Ele o mundo os doze Apóstolos que anunciaram o Seu Evangelho. Então serão abertos os livros, em que estão escritas todas as ações dos homens, todas as suas palavras, todos os seus pensamentos. Os justos verão todas as suas boas obras manifestadas aos olhos do universo, e ouvirão essa feliz sentença, que fixará a sua felicidade eterna: «Vinde benditos de meu Pai, possuir o reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo».
«Mas qual não será a confusão dos maus, quando virem desvendados aos olhos dos anjos e dos homens todos os crimes da sua vida, até os cometidos em segredo, os pensamentos e os mais recônditos sentimentos! O Senhor revelará a sua vergonha às nações e a sua ignomínia aos reinos! Serão um objeto de horror para os anjos, para os homens, e até para eles próprios. Não sabendo como fugir ao olhar irritado de Jesus Cristo, que não terão forças para impedir, gritarão às montanhas: Caí sobre nós e escondei-nos, sepultai-nos sob as vossas ruínas. Será tudo em vão, porque a terrível sentença: Retirai-vos de mim, malditos: ide para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e seus anjos, os sepultará para nunca mais morrerem, e para sofrerem sempre, nos abismos do inferno.
«Ó meus filhos, o inferno ! Sabeis o que é o inferno? O inferno é a privação de todos os bens, e o conjunto de todos os males. A criança que tiver a desgraça de cair neste golfo, onde habita um eterno horror, estará privada de seus pais, de sua mãe que ela amava, de seus amigos, de todos e de tudo que lhe poderia trazer alguma consolação. Estará separada de Deus, o soberano bem das almas, separada de Maria, sua mãe do Céu. Só terá por sociedade os demônios, seres degradados e horríveis à vista, que o atormentarão sem cessar, e se encarniçarão em fazê-lo sofrer. E aí, com todos os malvados do mundo, que morreram sem fazer penitência, com os blasfemos, os sacrílegos, os assassinos, os ladrões, apenas será rodeado de trevas, e verá um fumo espesso misturado com chamas. Ouvirá blasfêmias, choros e ranger de dentes; e sentirá cheiros insuportavelmente fétidos. De todos os lados será cercado de chamas; nadará num tanque de fogo, donde nunca poderá atingir as extremidades exteriores; este fogo o devorará sem o consumir; viverá sempre e nunca ninguém lhe irá levar uma gota de água, para mitigar uma sede ardente, de que será atormentado. Meus filhos, temei a Deus, e os Seus julgamentos. Quem poderá habitar com esse fogo devorador? Quem resistirá à cólera de Deus?
Estas lições, repetidas com unção, e a propósito, incutirão no ânimo das crianças o temor da justiça divina. É bom, porém, evitar, que à mais leve travessura, à mais desculpável desobediência, se ameace logo a criança com os suplícios do inferno; porque isso seria contraproducente. E seria falsear a consciência duma criança, ameaçando-a, do que por uma leve falta, atraía sobre si os castigos eternos de Deus. Só o pecado mortal é que abre o inferno à alma.
A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S