ESTEJAMOS PREPARADOS – A VIRTUDE DA FORTALEZA NAS FUTURAS SAGRAÇÕES EPISCOPAIS DA FSSPX

A virtude da fortaleza ser-nos-á muito necessária em uma circunstância crucial: o anúncio de novas sagrações para continuar a “operação sobrevivência” da Tradição Católica.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Queridos amigos e benfeitores,

Em 30 de junho de 1988, há 36 anos, D. Lefebvre realizava a “operação sobrevivência” da Tradição Católica, ao sagrar quatro bispos auxiliares para a Fraternidade São Pio X.

No entanto, o venerado prelado fez de tudo para evitar essas sagrações, indo particularmente a Roma muitas e muitas vezes para abrir os olhos das autoridades eclesiásticas para a gravíssima crise, talvez a pior de sua história, que a Igreja atravessa: desvio doutrinal e, agora, moral, decomposição litúrgica, desaparecimento da prática religiosa, preocupante desaparecimento das vocações sacerdotais e religiosas e, como consequência, uma expunção cada vez mais rápida da marca cristã em nossos países, seguida pela implementação de leis persecutórios relativas ao segredo de confissão, à pregação evangélica, à defesa da vida, à manutenção dos padrões morais e à afirmação da natureza das coisas.

Contudo, nada foi feito. Diante desta cegueira inexplicável, D. Lefebvre compreendeu, em oração e meditação, que a vontade de Deus era que ele atribuísse a si mesmo alguns auxiliares, e, depois, sucessores, no ofício episcopal de conferir o sacramento da confirmação e o sacramento da Ordem, para que a Igreja pudesse prosseguir. Não havia se passado sequer 20 anos de fundação da Fraternidade São Pio X.

Essas sagrações episcopais confrontaram todo católico ligado à Tradição com a “trágica necessidade de escolher“.

(É) Impossível permanecer neutro: essas sagrações episcopais confrontaram todo católico ligado à Tradição com a “trágica necessidade de escolher”.

Era impossível permanecer neutro, deixar de lado, fingir não escolher. Ou aceitavam os “padres de Écône“, ordenados pelos novos bispos, ou recusavam qualquer relação com eles.

Foi uma batalha impressionante, que dividiu as famílias, os amigos, as associações, as capelas. Embora, contrariamente à previsão de Mons. Perl, 80% dos fiéis tenham permanecido fiéis, e menos de 20% creram que deviam se separar.

A Fraternidade São Pio X já comemorou seus 50 anos. Desde 1988, ela mais do que triplicou o número de seus sacerdotes: passando de 200 para 700 padres. Multiplicou seus Priorados, capelas, escolas, assim como suas obras de piedade e doutrina, inclusive, agora, na internet, onde é possível encontrar milhares de textos, gravações e vídeos que proporcionam formação cristã e uma compreensão clara, tanto da situação atual da Igreja quanto do papel providencial que a Fraternidade São Pio X está desempenhando nela, sem ter escolhido fazê-lo.

Para os católicos ligados à Tradição que recorrem ao ministério da Fraternidade São Pio X, a vida religiosa se tornou, de certa forma, mais fácil, pelo menos na França. Conheci um homem que, na década de 1970, para poder assistir a uma missa de verdade, era obrigado a pegar o trem na Holanda para se juntar a Monsenhor Ducaud-Bourget, em Paris. Esse não é mais o nosso caso: se ainda estivesse vivo, ele não precisaria viajar centenas de quilômetros, pois se beneficiaria de quatro locais de culto da Fraternidade Sacerdotal São Pio X em seu país, outros na Bélgica e, finalmente, locais de culto na França próximos da fronteira.

Essa relativa facilidade para uma vida cristã fiel à Tradição é, como na linguagem de Esopo, o melhor e o pior dos mundos. É bom, pois permite que mais almas se beneficiem das riquezas da graça. Mas também é um perigo, pois corremos o risco de adormecer no conforto, e perder o vigor, o dinamismo, o ímpeto de nossa vida espiritual.

A vida cristã fiel à Tradição é mais fácil, o que pode ser o melhor e o pior dos mundos.

Penso, em particular, em nossos jovens. Eles conheceram uma Fraternidade de São Pio X já razoavelmente bem estabelecida em igrejas e capelas, ou, pelo menos, em locais de culto decentes e convenientes, longe dos galpões sujos e imundos do início. Já conheceram, ainda, uma rede de escolas verdadeiramente católicas, e nunca sentiram em seus pais a angústia de saber como transmitir uma educação cristã na ausência de uma escola católica digna desse nome. Para eles, os bispos auxiliares da Fraternidade São Pio X são uma instituição normal, que, de certa forma, sempre existiu, sem que eles se perguntem quando e como foram sagrados.

O perigo é que, por causa dessa facilidade (benéfica em si mesma), eles percam o gosto pelo esforço, o sentido do combate, o amor pelo sacrifício. Não estou dizendo que todos sejam afetados de modo grave, pois vejo muitos jovens “tradis” generosos, fiéis, corajosos, e me regozijo com isso. Mas, ao mesmo tempo, é impossível não notar a proporção daqueles que, por assim dizer, seguem apenas intermitentemente a linha de fidelidade absoluta à fé que nos foi ensinada por D. Lefebvre.

Um dia cristão, no outro mundano? Se quisermos conservar integralmente a fé hoje em dia, não podemos vacilar, fazer concessões, falsificar, mitigar: haveria aí um perigo mortal de rolar pela ladeira da negligência.

Não é uma realidade tangível aquela destes jovens nascidos de famílias totalmente comprometidas com a luta da Fraternidade São Pio X, desses jovens que frequentaram apenas as capelas e escolas da FSSPX, que se constata um dia cristãos e no outro mundanos? Num dia FSSPX, no outro Ecclesia Dei, até mesmo carismático; num dia missa tradicional, no outro missa nova; num dia a peregrinação de Pentecostes em uma direção, no outro a peregrinação na direção oposta?

Ora, para manter a fé intacta hoje em dia, não se pode vacilar, fazer concessões, falsificar ou mitigar: haveria aí um perigo mortal de rolar pela ladeira da negligência. Pelo contrário, é necessário, e isso não é fácil, nadar incessantemente contra a correnteza, ir contra o pensamento dominante, reagir ao mal que nos rodeia e tenta penetrar-nos. E isso é cansativo, doloroso, desgastante e desanimador. Sentimos vontade de entregar os pontos, espreguiçarmo-nos por alguns instantes à beira da estrada e deixar, pelo menos por um tempo, de vivermos sistematicamente “em reação”.

Há aí uma grande tentação, que afeta a todos nós, mas sobretudo os jovens, que amam naturalmente as mudanças, a novidade. Por outro lado, a monotonia e a repetição das mesmas (pequenas) dificuldades consomem sua energia, suas boas disposições, suas resoluções mais firmes.

É aí que todos nós precisamos, crianças, jovens, adultos e idosos, da virtude da fortaleza, que renova constantemente, apesar da passagem do tempo, nossa determinação absoluta e intangível de permanecer fiel até o fim. Essa virtude da fortaleza, enfatiza Santo Tomás de Aquino, “é-nos particularmente necessária para suportarmos um mal menor, quando esse se prolonga por muito tempo. Pois essa resistência a um mal menor, mas interminável, se aproxima do método de tortura (provavelmente mítico) conhecido como “tortura da gota d’água“. Trata-se de apenas uma gota d’água caindo na cabeça, que realmente não causa nenhum mal, que ocasiona apenas um pequeno desconforto. Contudo, a repetição interminável, durante horas, dias, acaba se tornando absolutamente insuportável.

Hoje, precisamos, especialmente os nossos jovens, da virtude da fortaleza, que permite suportar os pequenos inconvenientes de uma vida totalmente fiel à Tradição Católica, manter a consonância da fé, não transigir com o que não lhes convém, mesmo que essa “intransigência“, às vezes, seja um pouco difícil pessoalmente, familiarmente, amigavelmente, profissionalmente.

Em breve, necessitaremos de força para enfrentar o acontecimento eclesial que começa a tomar forma: sagrações de auxiliares, que um dia serão os seus substitutos, aos bispos sagrados por D. Lefebvre em 1988.

Se a virtude da fortaleza nos é absolutamente necessária para perseverar numa vida cristã totalmente fiel à Tradição, para suportar seus pequenos inconvenientes e a relativa monotonia, também precisaremos dela, em breve, para enfrentar o acontecimento eclesial que começa a tomar forma.

Como disse no início, no dia 30 de junho de 1988, D. Lefebvre realizou a “operação de sobrevivência” da Tradição Católica ao sagrar quatro bispos auxiliares. Esses bispos, que eram bem jovens na época, obviamente envelheceram 36 anos depois. Como a situação eclesial não melhorou desde 1988, tornou-se necessário considerar a possibilidade de atribuir-lhes auxiliares, que um dia serão seus substitutos.

Quando tal decisão for anunciada pelo Superior Geral, devemos esperar uma explosão midiática contra os “fundamentalistas”, os “rebeldes”, os “cismáticos”, os “desobedientes”, e assim por diante. Neste momento, teremos que enfrentar contradições, insultos, desprezos, rejeições e, talvez, até rompimentos com pessoas próximas.

A virtude da fortaleza ser-nos-á muito necessária nesta ocasião crucial, e deveremos, tanto uns como os outros, demonstrar, graças a ela, a nossa absoluta fidelidade à fé católica integra, à verdadeira Tradição da Igreja, a Nosso Senhor Jesus Cristo Rei dos indivíduos, das famílias e das sociedades, e também à Fraternidade São Pio X, a arca da salvação suscitada pela Providência em meio ao dilúvio que ameaça engolir a Igreja e a civilização.

Pe. Benoît de Jorna, Superior do Distrito Francês da FSSPX

Carta aos amigos e Benfeitores n° 95