ESTÍMULOS NECESSÁRIOS

estiEmbora seja impossível formar-se a consciência sem aplicar punições, quando oportunas, convém não esquecer que o educando é um ser fraco, que precisa ser incentivado e sustentado em seus esforços. Ele o será por meio de recompensas adequadas, como os castigos, à sua idade e ao seu temperamento, mas orientadas por uma espiritualização mais elevada. A mais humilde recompensa diriger-se-á ao corpo e à sensibilidade; a mais elevada, aos sentimentos e às aspirações superiores. Na idade em que a criança vive apenas pelas sensações, ela se confundirá com um prazer corporal. Mais tarde, poré, é à sua inteligência e às suas faculdades morais que será conveniente fazer apelo.

Não é contra-indicada a multiplicação dos estímulos. Todavia, é preciso velkar para não incentivar no filho o hábito de esperar sempre algum proveito de seus esforços pessoais. É o que aconteceria se os pais cometessem a falta de tato de “pagar” sempre com alguma compensação a boa vontade do filho. Este viria a agir apenas visando vantagens e jamais atingiria o verdadeiro desinteresse moral. Permaneceria sempre no grau inferior da moral utilitária.

Outro perigo seria desenvolver o amor-próprio e o orgulho, ao multiplicar os elogios. Incensada demais, a criança acabaria julgando-se de uma essência superior e desprezando os que não obtêm êxitos tão facilmente quanto ela.

O verdadeiro estímulo consiste em suscitar-lhe a alegria de ter cumprido o dever e dado satisfação aos seus educadores. No ápice da vida moral, a criança procura agir bem pelo simples amor a Deus e à perfeição.

Nada mais difícil do que se aplicarem as sanções de acordo com a justiça. Isso requer um completo domínio de si e o conhecimento exato do educando e dos motivos pelos quais ele age. Não se trata da mesma maneira uma criança que se esquiva do trabalho por estar cansada e outra que o faz por ser preguiçosa. Não convém castigar da mesma forma uma cólera de vingança e outra provicada por uma injustiça.

O emprego das sanções é inseparável do espírito de caridade. É preciso amar a criança a fim de compreendê-la e aplicar-lhe castigos ou recompensas adaptadas a sua índole. Esse amor será esclarecido, isto é, terá como preocupação o bem do educando e a formação de sua personalidade moral. O educador não se deixará levar por uma afeição cega e instintiva.

Eis porque as sanções variam ao infinito. Não se poderia delas apresentar uma nomenclatura sistemática. Os pais têm a sua disposição uma gama ilimitada de meios, tanto para punir como para recompensar. A eles compete escolher os mais eficazes, isto é, os que produzirão o efeito almejado, fazendo nascer na criança o desejo de se corrigir e não um processo para obter paz.

Pequeno tratado de Pedagogia – Jean Viollet