EXERCÍCIOS DE PIEDADE

18 ideias de Mulher Piedosa | mulher piedosa, mulher, art de amor

A piedade é quase inata na mulher; é para ela como que uma segunda natureza. Uma mulher irreligiosa  é uma mostruosidade. Espanta, as pessoas desconfiam dela, não compreendem, perguntam até onde pode ela ir… A piedade! flor doce e perfumada, vós a tendes, ao menos nas suas habituais manifestações; mas não é o bastante, ela deve ser para vós como uma segunda seiva, como uma vida, deve exalar-se de vós como um perfume.

Vejamos, pois, primeiro o que ela é em si mesma; veremos depois, como deve exercer-se.

A Verdadeira Piedade

O que é piedade?

São Tomás define-a: “Uma generosa disposição da alma que nos leva a amar a Deus como a um pai, e a nos desobrigarmos de todos os nossos deveres para Lhe sermos agradável.” É o amor de Deus que remonta à sua fonte; é a ternura filial da alma que pensa em seu Pai Celeste e lhe diz que o ama; é a prática das virtudes sólidas que tornam a vida melhor e útil aos outros; é o esquecimento de si e a procura de Deus em tudo.

A piedade não habita o mundo dos belos sonhos. Aplica-se a viver na terra para nela lutar; é laborosa, às vezes mesmo penosa, exercendo-se no meio das misérias e lutas da vida. Nosso Senhor dizia-o a Santa Teresa: “A felicidade neste mundo não consiste em gozar das minhas consolações, mas em trabalhar penosamente para a minha glória e em sofrem muito.”

– A sua substância é o amor filial de Deus e o amor fraternal do próximo por amor de Deus.

– A sua forma é o conjunto dos exercício e práticas de devoção consoante o estado em que Deus nos colocou.

– A sua luz é a fé que faz ver a Deus em tudo.

– O seu escopo é a honra devida a Deus e a perfeição da nossa alma.

– A sua regra é o dever , todo o dever.

– A sua medida é a própria perfeição, isto é, a nossa semelhança, cada vez mais perfeita com o nosso Divino modelo, Jesus, que fazia sempre o que agradava a seu Pai.

Que distância vai desta piedade assim compreendida, desta piedade verdadeira, forte, substancial, para a piedade mundana, caprichosa, anêmica, de cristãos água de rosas!

Estes fazem da religião uma questão de imaginação ou de sentimentalismo, e, inflamados no dia das consolações sensíveis, põem-se a desconfiar, a tudo abandonar, no dia em que Deus lhes retira essas consolações. Era aludido a essas piedades da moda, sentimentais e vazias, que Bourdaloue dizia: “Mães, fazei de vossas filhas umas cristãs, antes de as fazerdes umas devotas.”

Podem-se praticar exteriormente muitos exercícios de devoção sem ter a verdadeira piedade, do mesmo modo que se podem folhear grossos livros de ciência, decorar belas fórmulas, sem possuir a verdadeira ciência. Aqui ainda as idéias claras e precisas se impõem.

A Falsa piedade é:

a) Exterior, formalista, farisaica.

Corresponde ao estado de espírito daqueles de quem Nosso Senhor falava quando dizia: “Este povo me honra de boca, mas o seu coração está longe de mim.” Os falsos piedosos fazem questão de medalhas, de escapulários, de imagens piedosas, entram em todas as obras e em todas as irmandades, sem procurarem reformar a sua conduta e cumprir estritamente o seu dever.

b) Pueril

Às vezes ridícula, fazendo da religião uma série de atos que podem prestar-se à malignidade das interpretãções molestas. Acredita ofender a Deus omitindo uma pequena prática particular de que fez para si uma lei, ou, antes, uma escravidão, e passará levianamente ao lado de obrigações reais de que não toma cuidado. Não compreenderá que às vezes é preciso “deixar a Deus por Deus“, isto é, deixar uma oração, uma reunião, um exercício, para ir aonde o dever e a caridade chamam. Terá por certo santo ou certa santa uma devoção nal compreendida e exclusiva e relegará Deus a segundo plano.

c) Mundana

Há ainda algumas que querem servir ao mesmo tempo a Deus e ao mundo, que procurarão ávidamente os prazeres, os divertimentos e as festas, que lerão jornais e livros levianos, e que, apesar disso, quererão passar por boas cristãs, e acreditarão sê-lo… Ninguém pode servir a dois senhores, há que escolher! Não se pode alojar a um tempo no próprio coração o espírito cristão e o espirito do mundo. Ou um ou outro.

d) Sentimental

E aqui é preciso insistir muito, porque muitissimas almas femininas querem sentir o fervor, e estão íntimamente convencidas, diga-se-lhes o que se lhes disser, de que no dia em que não tiverem nenhuma doçura, nenhuma lágrima, nenhuma sensação de piedade, nenhuma efusão do coração, a sua oração é sem valor e sem merecimento perante Deus!

Eis aqui o que delas pensava São Francisco de Sales:

“A devoção não consiste na doçura, na suavidade, na consolação e na ternura sensível do coração, que nos provoca a lágrimas e a suspiros e nos dá uma certa satisfação agradável e saborosa nos nossos exercícios espirituais. Não, a devoção e isso não são a mesma coisa; porque há muitas almas que têm dessas ternuras e consolações e que, não obstante, não deixam de ser muito viciosas, e que, por conseguinte, não têm nenhuma devoção verdadeira.”

Quanto mais forte é um amor, tanto menos necessita de provas sensíveis; parece mesmo que estas sejam uma fraqueza, pois entra nelas o apetite de gozo que é uma procura de si. O amor de sensibilidade é, por sua natureza, superficial e instável; está sujeito a todas as flutuações da emoção, que se esgota necessariamente pela sua própria violência.

Deus quer ser amado seriamente, com toda a nossa alma, com todas as nossas forças, com todo o nosso coração. A parte sensível do nosso ser pode ser às vezes admitida a tomar sua parte nesse amor, mas não é aí que ele reside; a sua sede está na vontade, donde, em certas horas, mas não constantemente, ele faz irradiar as suas alegrias até na sensibilidade. Amai, pois, a Deus por Ele e não por vós, não esperando as doçuras da piedade, a não ser que Ele mesmo julgue portuno vo-las conceder.

A verdadeira piedade é:

a) Sólida

Isto é, fundada numa fé viva e esclarecida. Nada pertuba, nem aborrecimentos, nem desgostos, nem securas, nem tentações, nem sofrimentos. Não é uma simples tradição de familia, um sonho piedoso, uma doçura poética e terna, mas um amor verdadeiro, forte, fundado em enérgicas e profundas convicções. Para ser sólida, deverá a vossa piedade proceder de um ardente amor de Deus.

Não se deve amar a Deus diversamente de como Ele quer ser amado. Ora, o que Ele quer antes de tudo é que tenhamos a devoção aos seus mandamentos e aos da Igreja. Todas as outras devoções devem passar para depois destas!

b) Humilde

Ela não faz dos seus merecimentos um pedestal, pelo contrário, oculta-os. Sabe que os dois polos da santidade são a humildade e o esquecimento de si, e que devemos sair de nós mesmos para irmos a Deus. A alma que se apresenta a Ele com uma piedade orgulhosa ou simplesmente egoísta e satisfeita, arrisca-se muito a desagradar grandemente Aquele que “exalta os humildes e humilha os soberbos.”

c) Amável

No mundo há excessiva tendência para crer que o serviço de Deus torna a pessoa triste, mal-humorada,que a piedade exclui a alegria e a amabilidade. “Eis um perigo, diz o Padre Monsabré, esse de tornar a piedade selvagem…” A verdadeira piedade é alegre, e a alegria no serviço de Deus é um verdadeiro apostolado.  Gravai na mente esta palavra de uma grande alma: “Os cristãos esquecem demais que devem aos outros não somente o exemplo das suas virtudes, mas também o exemplo da sua felicidade.”

d) Zelosa

Ela afasta o egoísmo, dá o sentido e o amor do apostolado e a necessidade de ser piedoso não somente para si, mas também para os outros. O arcanjo São Miguel, aparecendo a Santa Joana d’Arc, disse-lhe:

“Sê boa, simples e piedosa, ama a Deus, e Ele te empregará.”

Que palavra” “Ama a Deus e Ele te empregará!” Ser empregada por Deus receber d’Ele esta prova de confiança! que alegria! Importa merecê-la.

e) Racional

Deve-se trabalhar incessantemente por tornar a piedade racional e a razão piedosa“, dizia Mme. Schwetchine; a verdadeira piedade segue nos deveres a ordem estabelecidade por Deus: os preceitos primeiro, os conselhos depois; faz passar os deveres de caridade, de polidez, de conveniência à frente de certas práticas que não são essenciais.

f) Moderada

Também não se sobrecarrega de práticas ou de orações, não se esquece de que Deus pede ser servido “em espírito e em verdade“, na santa liberdade que convém a seus filhos. Todo sobrecarga de práticas e de orações é uma desordem e contraria o verdadeiro espírito do Evangelho.

“Quantas pessoas, dizia o Padre Faber, depois de tomarem um surto brilhante, não tardaram a sentir-se fatigadas e finalmente a tornar a cair na terra, embaraçadas com as suas ladaínhas, sucumbindo ao peso dos seus ‘memorare’, sobrecarregadas de terços! Arruinaram-se pelas devoções,  sem acharem a verdadeira devoção.”

Compreendei, pois, bem os caracteres da verdadeira piedade. Ao invés de ser uma mó que comprime, ela é uma força, um sustentáculo, é uma vida. É preciso, pois, coração, mas sobretudo ação e vontade! Deus não pede que  O sirvamos ao quilo ou à libra, mas de toda a nossa alma, com todas as nossas forças, com todas as nossas energias, apesar dos aborrecimentos, das securas, dos tédios, apesar de tudo. E, se às vezes pensais estar “fria” para com Ele, ide para adiante com coragem e servi-O mesmo assim!

A Formação da Donzela – Pe. J. Baeteman