FALAR, MAS PARA DIZER O QUE?

A galinha cacareja e o homem fala. Mas se ele fala, não fala como a galinha cacareja.

Fonte: La part des Anges n° 3 – Tradução: Dominus Est

Em seu sentido mais geral, a linguagem é o instrumento de uma consciência para se manifestar a si mesma ou aos outros. Com efeito, em toda a parte onde se encontra uma vida psicológica que procura fazer-se conhecer, encontramos a linguagem: a linguagem dos animais, a linguagem dos homens entre si, a linguagem interior a nós mesmos.

Nos animais, a linguagem limita-se às necessidades imediatas da espécie; não tem história, é imutável e hereditária. Não envolve um diálogo real: os animais respondem a uma mensagem por meio de um comportamento ao invés de outra mensagem. Se eles não conversam entre si, não é porque não podem, mas porque não têm nada a dizer.

A linguagem humana é incomparável: está tão intimamente ligada à inteligência que a mesma palavra logos ou verbum designa, em grego e em latim, tanto a operação espiritual do pensamento quanto a expressão externa através da palavra.

Para um homem, aprender a falar significa aprender a se expressar bem a fim de se comunicar ou pensar melhor; é apropriar-se do patrimônio cultural de uma civilização. Significa também compreender que a palavra é a expressão e o meio da própria inteligência. Quando Aristóteles explica por que o homem é um animal naturalmente social, ele dá como razão apenas sua linguagem capaz de manifestar o útil e o prejudicial e, consequentemente, também o justo e o injusto.

Degradar uma língua através da imposição de expressões bárbaras é o melhor cavalo de Tróia para corromper uma civilização.

Isso deve nos alertar sobre o uso de nossa linguagem. Sua finalidade é transmitir ideias e reflexões ao outro. Não pode servir à futilidade, à astúcia ou à sedução. A palavra está correta quando significa algo, isto é, quando traduz em palavras uma verdade conhecida. O propósito da linguagem não é manifestar aos outros como nos sentimos, a menos que lhes seja útil.

Essa barulhenta efusão de blá-blá-blá, essa mania de se expor em público, pela internet ou pelo celular, e impor sem pudor seus sentimentos aos outros, não apenas faz desaparecer a esfera privada, mas também faz regredir a humanidade muito abaixo do nível das galinhas.

Pe. Vicent Bétin, FSSPX