Se este livro, cair nas mãos de um jovem náufrago já talvez da fé, vou suplicar-lhe apenas que considere tranquilamente o que perdeu com a fé e o que lucrou com a incredulidade.
Recorda-te, caro jovem, do tempo em que eras menino de fé viva. Ora, não te assustes! Imagino-te menino de sete ou oito amos, ao lado do atual moço de 17 ou 18 anos.
Interessante encontro!
Aquele rapazinho de grandes olhos claros, roupa à marinheira, olha-te receoso, a ti, ó jovem musculoso, de corpo desenvolvido, bigode já crescido. O rapazinho eras tu… e quão feliz te sentias!
Lembras-te? — Pela manhã era acordar na caminha branca, e, inocente, começar a oração da manhã: Em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo. — Como se passava alegre o dia inteiro! — À noite, depois de rezar e dar boa noite aos pais, era adormecer com o sorriso nos lábios. Como eras feliz então…
Mas depois…
Depois, leste um livro ou tiveste conversas com um companheiro leviano, ou, não sei porque, em tua razão que se desenvolvia surgiu o pensamento: “Será realmente tudo como eu acredito? Será verdade tudo o que creio?”
A princípio, as dúvidas se apresentavam timidamente. Assustado, as enxotavas do espírito. Em vão! Elas voltavam mais fortes. Agora, eu quero é clareza! Cada estágio de nossa vida exige uma disposição particular em face da religião. Quem sabe se foste negligente em ocupar-te cada vez mais seriamente com as coisas da fé? Julgavas-te sábio demais para isso, e relegaste fé e oração ao esquecimento.
Sobrevieram as dúvidas! Sim, mas na realidade, não foi da razão que surgiram as dificuldades; não foram argumentos científicos; a verdadeira causa foi a indisciplina de tuas inclinações, o desregrado desejo de Iiberdade, a vontade de fugir à autoridade dos pais; ou, não terás tido uma desinteligência com o professor de Religião?
Procura fazer uma sincera introspecção, a certificar-te do que aconteceu. Mas uma coisa quero dizer-te ainda: onde há dúvidas, a instrução se torna necessária. Vai e interroga um amigo mais velho, instruído em religião, ou um sacerdote, expõe singelamente tuas dificuldades e aprende o modo de provar com segurança cientificamente a existência de Deus. Ainda quero prevenir-te contra a soberba: não imagines poder provar o Ser Divino como se soluciona um problema matemático. Lá onde nossa compreensão encontra seu limite, só nos resta inclinar-nos reverentes ante o impenetrável infinito de Deus Uno e Trino. Compreender este mistério, não o poderemos nunca. Alcançamos apenas fazer conjeturas, baseadas na trindade do mundo que nos cerca, o mundo da essência, da substância e do valor.
Não é verdade meu caro amigo, que agora reconheces não serem tuas dúvidas ainda incredulidade? Tua fé infantil começa a transformar-se, a agir, tornar-se juvenil. Mas cuidado! muito cuidado! Não venhas a perder tua fé no período em que ela procura encaminhar-te da crença infantil e cândida para a compreensão varonil. Entrementes, reza com maior fervor: “Creio, Senhor; creio, mas preservai-me da incredulidade!”
A Religião e a Juventude – Mons. Tihamer Toth