IMAGEM DA VIRGEM NA FLORESTA

rezNuma das nossas excursões de férias com meus alunos, chegamos de uma feita a uma floresta esplêndida e acampamos numa linda clareira. Em derredor havia veredas silenciosas, e, a alguns minutos do acampamento, onde se divertiam pássaros e esquilos, um carvalho colossal, onde se afixava belíssima imagem de Nossa Senhora.

À tarde houve uma briga entre alguns rapazes. Caçoavam um com o outro e se provocavam. Afinal, um deles perdeu a paciência; avançou contra o contendor e, sem hesitações, começou uma pancadaria em regra. Não foi bonito, isso não, mas o que aconteceu, aconteceu!

Mais ou menos uma hora mais tarde, eu andava sozinho por um dos atalhos e refletia sobre a repreensão que daria aos pequenos delinquentes.

Chego à imagem da Virgem. Que vejo? Um dos briguentos está lá, de joelhos. O sol derrama seus raios sobre sua cabeça inclinada. Seu coração pulsa forte. A. Mãe de Deus olha complacente o menino ajoelhado, já estou perto dele, quando me avista. Depressa, quase assustado, se levanta. Uma grossa lágrima lhe corre pelas faces. Disse-lhe algumas palavras e segui meu caminho, mas com intensa alegria no coração…

Isso sim, é um jovem varonilmente piedoso. A religião lhe é força e consolação. Ee deu um passo em falso, como a qualquer pode acontecer, mas tratou de reparar sua falta e aprender para o futuro: nem todos costumam proceder assim, à noite, os contendores eram de novo bons amigos.

No grupo havia também um rapaz iracundo. Tinha dificuldade em perdoar e esquecer. Mesmo depois de começar a oração da noite, os pensamentos de vingança lhe ferviam no cérebro. “Padre Nosso que estais no céu… Espera, aquele camarada que zombou de mim há de me pagar … Meu Deus, assim não posso rezar. Vou começar de novo: Padre Nosso… santificado seja vosso nome…” Mais uma vez lhe foge a atenção, e ele pensa de novo na briga. Começa de novo a oração; pela terceira, pela quinta vez… “perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores… Ai! que rezei agora? Perdôo? Meu Deus, ele me ofendeu primeiro! Pouco importa! Pois então: assim como nós perdoamos. . . Sim, perdôo, pois que fique esquecido”. Eis outro jovem virilmente piedoso, e que foi buscar da religião viril resoluções dignas.

Outro quadro.

Diante do altar duma igreja silenciosa está ajoelhado um jovem. Em sua alma turbilhonam tempestades tremendas. Fugiu para cá a fim de buscar força contra as tentações atormentadoras junto ao Homem Deus, que vive misteriosamente entre nós.

“Senhor, Vós sois puro, a pureza mais absoluta! Bem sabeis que não quero tornar-me mau, que não quero pecar. O fogo das paixões me consome, não me dá tréguas nem de dia nem de noite mas eu não quero cair. Senhor, um fogo infernal arde em minhas veias, como se fosse lava incandescente. Meus sentidos me apresentam imagens sedutoras, mas Vós, Senhor, não me deixareis cair! Não quero pecar, não, mil vezes não!”

A lâmpada do Sacrário tremeluz, o Crucificado olha com benevolência para seu filho fiel. Eis ai um jovem varonilmente piedoso; a religião lhe é fonte de energias na hora da tentação.

Depois de tudo isso, responde: é a religião realmente só para crianças e mulheres?

Por nada no mundo quisera eu que pensasses (muitos o fazem, infelizmente), que a verdadeira, profunda religiosidade te impediria viver uma bela e nobre e eficiente vida terrena. Não penses que deve ficar para trás, retrógrado, desajeitado por todos, quem permanece no estado de graça que é, na realidade, a vida piedosa.

Há muitos moços que pensam assim da religião, e naturalmente se amedrontam.

“Não quero ser um “santo”, um “carola” assim! — me dizia um moço de 17 anos, cheio de forca vendendo saúde, ardoroso esportista, bom estudante, e que cuidava de manter em ordem a sua alma, porém que não queria ser “um santo assim”.

Mas que é “um santo assim”?

“Ora, gente cabisbaixa, que sempre se retrai, não posso ser; um “ai Jesus”, que em tudo só vê o que é ruim, que não ri, que nem se atreve a fazer uma arte inocente…”

Mas, meu filho, quem te meteu na cabeça que isso é verdadeira religiosidade! Muito pelo contrário! É verdade que a religião nos quer preparar para a vida eterna, mas também nos ensina que podemos ganhar o céu pela uma vida terrena honradamente vivida. Com isso ela eleva e santifica o valor da vida terrestre, seu trabalho e deveres. Não haverás de ser alegre, praticar o esporte, frequentar a sociedade, procurar progredir, se quiseres levar uma vida piedosa?

Mas não! De forma alguma! Viver na graça de Deus, ser realmente religioso, ouve em que consiste: Quando rezas, considera que Jesus está contigo, aumentando assim o valor da oração; quando estudas, pensa que Jesus está presente e teu trabalho transforma-se em oração; se te recreias, jogas, fazes uma brincadeira inocente, procuras uma companhia, também ali está Jesus contigo e eleva a vida cotidiana a obra meritória, a hino de louvor a Deus. Vê, isso é a vida dum jovem realmente religioso, isso é religiosamente varonil.

Que é que impressiona mais os homens? Grande força muscular? Não? Não! A força domada e dirigida, sim. Quantas vezes considero um trem expresso, quando penetra na estação. Há um momento, essa massa colossal ainda voava fragorosa sobre os trilhos, a locomotiva devorava o espaço; agora, um ligeiro movimento de mão do maquinista, e o monstro de aço para arquejante, como pregado ao solo. Maravilhoso! É uma sensação de poder nos enche o coração. Que foi? A força domada, obediente. — A religiosidade fornece à alma justamente essa força.

Os grandes homens estavam prontos a fazer os maiores sacrifícios por sua alma. S. Bernardo, atacado por tentações de sensualidade, pulou num lago gelado e disse: “Agora vejamos se o corpo ainda exige alguma coisa!” S. Francisco tinha fortes tentações impuras; deitou-se nas urtigas: “Quero ver se meu corpo ainda exige alguma coisa!” S. Martinho também tinha de lutar contra terríveis tentações. Pôs o pé no fogo: “Dói? Se fores condenado, quanto, mais não doerá?” Que heróis da consciência, heróis do caráter!

Não quero mesmo que sejas “tal santo”. Não! O jovem religioso deve ser hábil, esforçado, saber impor-se no mundo científico. Em toda a linha, ser homem. Se Deus te tiver concedido um espírito atilado, dotes especiais de inteligência, forma-te especialista nesta ou naquela ciência, sê sábio que faz honra à sua fé. Um homem assim é orgulho da Igreja e pode servir como exemplo edificante de religiosidade a milhares de concidadãos. Se Deus te deu talento artístico, torna-te artista, fiel observador dos preceitos, e numera-te entre os portadores dos mais ilustres nomes, que durante milênios, foram ornamento da verdadeira arte e orgulho ·da Igreja Católica. Contudo, o que quer que sejas, engenheiro, jornalista, médico, advogado, soldado, comerciante, cuida de duas coisas: vê varonilmente religioso e perito nas coisas de tua atividade. A uma profunda religiosidade, aliás um profundo conhecimento profissional, para que todo o mundo te considere como valioso representante do moderno homem culto.

Verdade é que qualquer atividade moral representa certo receio do mundo, certa resistência contra as inclinações da natureza decaída, mas uma resistência que se faz em vista de uma vida mais elevada, mais nobre, mais livre. S. Paulo viajou num navio consagrado às divindades pagãs Castor e Pollux, mas, por isso não se tornou pagão. Da mesma forma, talvez, também nós devemos viver em ambiente corrompido e imoral, sem permitir contudo que nos arrastem à imoralidade e à falha de caráter.

Nas guerras napoleônicas, deu-se um comovente fato, após um combate. O campo de batalha estava juncado de cadáveres. Quando Napoleão passava com seu Estado Maior através da enorme seara da morte, de entre os mortos ergue-se a custo um jovem ferido e assenta-se, braços cruzados no peito. Admirado, o general para. “Que fazes aí?” perguntou: “Ontem, respondeu o jovem, eu lutei porque sou soldado, agora rezo porque sou cristão”. Napoleão lhe estende comovido a mão: “Isto sim, é que é um verdadeiro soldado!”

Sim, cumprir seu dever para com Deus e exercer conscienciosamente a profissão, é próprio do homem religioso, é verdadeiro caráter varonil.

Religião e Juventude – Mons. Tihamer Toth