Hoje trataremos de vários temas que, embora aparentemente muito diferentes, têm uma conexão moral de fundo: a cirurgia estética, a mutilação do corpo e a mudança de sexo
Questões médicas com implicações morais (VI)
Pe. Lucas Prados – Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei: Como se tinha proposto a princípio, hoje trataremos de vários temas que, embora aparentemente muito diferentes, têm uma conexão moral de fundo: a cirurgia estética, a mutilação do corpo e a mudança de sexo.
Julgamento moral sobre a cirurgia estética
Assim se denomina o ramo da cirurgia que se ocupa principalmente de eliminar certos defeitos anatômicos que podem se apresentar em nosso corpo. De si, do ponto de vista moral, não há nenhuma objeção à primeira vista; no entanto, quando a ela se recorre por obsessão, por puro culto ao corpo ou por rejeição ao que é próprio da idade: envelhecimento, teremos que estudar cada caso em particular, pois poderia ocorrer que, o que em princípio nada tivesse de errado, poderia chegar a converter-se em neurose e até mesmo em pecado.
Considero normal que uma mulher, depois de uma certa idade, aplique os meios convenientes para evitar ou corrigir as rugas faciais…, e que são nada mais do que o resultado da vida e dos anos. O que parece imoral é que uma mulher gaste o orçamento familiar em comprar cremes e depois dizer que não há dinheiro para comprar um par de sapatos para o seu filho. E, pior ainda, quando se leva a obsessão e por esse motivo muda o caráter, torna-se irritável…. Em algum lugar eu li esta frase que é muito certa: “É coisa boa querer melhorar o presente, porém, mais importante é aceitar o presente.” É bom querer dissimular os sinais deixados pelo tempo, mas desde a sua aceitação, pois significa aceitar a condição humana, e para um cristão é fundamental porque, como lemos na Epístola aos Hebreus, “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hb 13:14).
Se uma pessoa entra em crise ao se olhar no espelho e é incapaz de aceitar o passar dos anos, é porque é muito superficial e não tem vida espiritual nenhuma.
Se há algo eticamente ilícito dentro da cirurgia estética, não há de ser encontrado no desejo de parecer mais jovem e mais atraente, mas na obsessão que a busca da beleza causa naqueles que chegam a considera-la essencial para ser feliz. Essa obsessão geralmente vem da alma e não de tal ou qual defeito físico. A cirurgia plástica nunca resolverá esse problema, porque não é do corpo, mas da alma.
Há certas intervenções de cirurgia plástica, embora a sua função seja puramente estética, não são incompatíveis com a moral. Refiro-me a reparações da curvatura da ponte do nariz, a posição das orelhas, os “pés de galinha” ou redução do “queixo duplo”. Há outras que são mais delicadas, e se não houver uma indicação direta do médico por motivos de saúde ou de um bem maior, haveria que pensar duas vezes, pois muitas vezes produzem efeitos colaterais eventualmente graves. Refiro-me a lipoaspiração, abdominoplastia, abdominoplastia e mais ainda a gastrectomia parcial (seção de parte do estômago) em pessoas muito obesas. Infelizmente, tenho conhecido alguns casos em que a intervenção não tenha solucionado o problema e também colocado em grave risco a vida das pessoas.
Mutilação corporal
Em determinadas doenças o médico tem que praticar a mutilação de uma parte de nosso corpo para o bem do resto. É o caso de tumores, gangrena de um membro, etc… Uma vez que o que se busca é a saúde da pessoa, saúde que estaria em grave perigo se nada for feito, não há problema moral algum em recorrer a esses procedimentos.
Há mutilações corporais que são fruto de certas culturas: como a ablação do clitóris entre as mulheres muçulmanas, ou a redução do tamanho dos pés entre as famosas gueixas japonesas. Práticas que de nossa perspectiva católica não são moralmente aceitáveis.
Nos últimos anos, tem se expandido fortemente, principalmente no mundo jovem das drogas, música demoníaca e álcool, a modificação de certas partes de seu corpo: chifres, língua bífida, orelhas de elfo, e até mesmo tatuagens exageradas aparentando pele do lagarto, etc …. Todas essas alterações não são apenas a manifestação de uma vida psicologicamente instável e espiritualmente vazia; inclusive, em alguns casos, a evidência de um mundo realmente diabólico ao qual se sentem orgulhosos de pertencer.
Os procedimentos extremos de modificação do corpo nunca são realizados por profissionais médicos. Estes tratamentos são mais frequentemente associados com locais de tatuagens do que com clínicas. De fato, eu nunca ouvi falar de um cirurgião plástico que tenha se submetido a realizar modificações corporais extremas.
“Gostaria de bifurcar a língua? Tome uma boa quantidade de whisky, aplique um pouco de gelo e tente ficar quieto enquanto o artista corta a sua língua ao meio.”
Uma das pessoas mais famosas em submeter-se à modificação do corpo, Dennis Avner, passou anos de sua vida tentando ver-se como um gato. Ele foi tão longe a ponto de pedir que lhe implantassem bigodes em seu rosto, e seus dentes tornaram-se presas afiadas. Há vários anos ele morreu de aparente suicídio.
Outros casos mais comuns de mutilação corporal e que também são pecado são: a laqueadura de trompas e a vasectomia. Ambos laqueadura e vasectomia são imorais, se a isso se recorrer para a contracepção. A razão é dupla:
Em primeiro lugar, por seu efeito contraceptivo em impedir que o óvulo alcance o útero (no caso de laqueação das trompas) ou que os espermatozoides sejam ejaculados (no caso de vasectomia).
Em segundo lugar, pela mutilação que se causa em homens ou mulheres; que em si já é pecado grave. Mutilações que em alguns casos já não são reversíveis; então, em caso de mais tarde se desejar que o casamento novamente tenha filhos, teria que se submeter a outra cirurgia para tentar recompor o dano causado; intervenção que em alguns casos já, é em si mesma, bastante complexa.
Juízo moral sobre a mudança de sexo
Outro caso de mutilação ou modificação corporal gravemente imoral é a “mudança de sexo”. Para aqueles que acabam sem entender o problema, explico-lhes em poucas linhas o que é o sexo genético ou cromossômico.
Cada célula do ser humano é composta por 23 pares de cromossomos; destes 23 pares, um deles é o que determina o sexo da pessoa: na mulher o 23 é XX e no homem é XY. Na fecundação, o óvulo, que como gameta tem metade da doação cromossômica, aporta um cromossomo X, e o espermatozoide, que também é gameta, pode ser no momento de unir-se ao óvulo, X ou Y. Se, quando o óvulo e o espermatozoide se unem, se unem-se X com X teremos uma menina, e se unem-se X com Y, teremos um menino. Quando o embrião tem apenas um mês já se pode facilmente saber se é homem ou mulher pelas gônadas (ovários ou testículos) que já começaram a se formar.
Ao embrião só lhe resta crescer e desenvolver as diferentes partes do corpo, que no momento do nascimento já estarão perfeitamente diferenciadas, pelo menos no essencial. Posteriormente na puberdade se concluirá a diferença anatômica com o desenvolvimento dos caracteres secundários próprios do homem e da mulher.
Um tema comum nos últimos anos e que está sendo fortemente manipulado pelo lobby gay está relacionado à mudança de sexo. A fim de encontrar argumentos em seu favor de modo que as leis sejam alteradas e eles possam ser considerados pessoas “normais”, tem sido usado certos “truques”: diferenciar entre sexo genético e sexo “psicológico”:
- Sexo genético seria determinado pelos cromossomos sexuais (explicado acima).
- Sexo psicológico seria determinado pela própria psicologia da pessoa.
Na maioria das pessoas o sexo genético coincide com o psicológico[1]. A disparidade entre o sexo genético e cromossômico pode ser devido a várias causas: problemas hormonais, educação inadequada em casas e escolas, trauma psicológico, etc…
Uma disparidade entre sexo genético e o cromossômico pode ser devido a muitas causas: problemas hormonais, educação inadequada em casas e escolas, traumas psicológicos, etc…
O raciocínio que faz o lobby gay para pressionar os governos com objetivo de mudem as leis é o seguinte: Cada pessoa tem o direito de desenvolver-se no sentido que sua psicologia se senta mais à vontade; seja como homem, como mulher, e mesmo sem declarar-se em um sentido ou outro. Se essa pessoa é geneticamente do sexo masculino ou feminino, mas psicologicamente se sente do sexo oposto, tem o direito de mudar de sexo (morfológica e legalmente) e também o direito de que a sociedade lhes respeite e aceite neste novo “papel”.
Se os governos caem nessa armadilha, eles terão que mudar muiguitas leis do código civil, para que estes novos “entes” encontrem lugar. Por exemplo: especificar o sexo na carteira de identidade ou não; no casamento, um homem poder casar-se com outro que também o é (geneticamente), mas que se sente mulher; ou de uma mulher que se sente homem.
Se seguimos esta “armadilha” cairemos no que tem sido chamado de “ideologia de gênero”. Como este não é o lugar para falar da ideologia de gênero, moda imposta pelo lobby gay e outras “instâncias” superiores a eles, se quiser ter um pouco mais de informação do mesmo poderá verificar o mesmo artigo publicado por www.catholic.net onde se faz uma análise bastante aceitável do mesmo[2].
Basta lembrar, à guisa de resumo, o que disse o cardeal Ratzinger quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé:
“A ideologia de gênero é a última rebelião da criatura contra a sua condição de criatura. Com o ateísmo, o homem moderno pretendeu negar a existência de uma instância exterior que lhe diz a verdade sobre si mesmo, sobre o bem e o mal. Com o materialismo, o homem moderno tentou negar suas próprias necessidades e a sua própria liberdade, que nascem de sua condição espiritual. Agora, com a ideologia de gênero homem moderno pretende livrar-se até mesmo das exigências de seu próprio corpo: se considera um ser autônomo que se constrói; uma pura vontade que se autocria e se converte em um deus para si mesmo”.
Assim: a ideologia de gênero é um sistema de pensamento fechado que defende que as diferenças entre o homem e a mulher, apesar das diferenças anatômicas óbvias, não correspondem a uma natureza fixa, mas são uma construção meramente culturais e convencionais, feitas de acordo com os papéis e estereótipos que cada sociedade atribui aos sexos.
Uma vez que analisamos superficialmente o que é o sexo genético e a ideologia de gênero, podemos entender melhor o problema atual sobre o “direito” dos homens para mudar de sexo.
A influência e o imenso poder do lobby gay, concedido pelos mesmos governos do mundo, está levando a situações tão ridículas como o fato de que a Segurança Social esteja obrigada a pagar uma cirurgia de mudança de sexo enquanto, os indivíduos têm de pagar ao dentista o valor total de um tratamento de ortodontia.
Do ponto de vista moral, uma operação de mudança de sexo, pelo simples fato de que alguém se sinta mais “homem ou mulher”, é gravemente imoral. Por outro lado, essa “suposta mudança de sexo” é puramente morfológica, porque do ponto de vista genético, o que era homem (XY) permanecerá homem e mulher que era (XX) permanecerá mulher.
A operação de mudança de sexo é um atentado contra a natureza criada por Deus; é um pecado gravíssimo contra o quinto mandamento da lei de Deus, e ao mesmo tempo é uma manifestação da degradação humana da sociedade em que vivemos.
Pe. Lucas Prados
Notas
[1] O sexo genético e o psicológico, se a formação é adequada e não deforma a criança, sempre coincidirão. Na verdade, o sexo psicológico é determinado por nossa natureza (genes). Em outras palavras, o homem é “homem” e por isso “sente-se” homem; a mulher “é mulher” e por isso “sente-se” mulher. Qualquer outra coisa é resultado, a maioria das vezes, de uma deformação interessada causada pelas pessoas maiores.
[2] http://es.catholic.net/op/articulos/41418/cat/447/que-es-la-ideologia-de-genero.html