É preciso distinguir islã e fundamentalismo islâmico? O islã é mesmo uma religião de amor? Existe mesmo um islã moderado? Os responsáveis pelos atentados recentes encontraram no corão sua justificação?
O estudo a seguir vai responder, com clareza e precisão, essas questões fundamentais. As autoridades religiosas e políticas terão interesse em se debruçar sobre estas interrogações.
Resposta a “não confundam islã com fundamentalismo islâmico”
Se queremos procurar as causas mais profundas da onda terrorista, a questão não é simplesmente saber em que reside a diferença entre o que nós, ocidentais, chamamos islã ou fundamentalismo islâmico; mas saber se o problema fundamental não reside nos fundamentos da religião muçulmana, a despeito dos movimentos internos do islã.
Não se trata então de saber se a maneira como a jihad é conduzida por grupos como o Estado Islâmico está de acordo com a jurisprudência interna do islã (”eles não seguem as regras”, “eles são fanáticos”), mas de saber se o jihadismo é ou não essencial ao islã e, portanto, absolutamente inevitável. Se o jihadismo contra os infiéis é ou não um dever da comunidade dos crentes. Se o jihadismo é ou não uma ordem de Alá e de seu mensageiro Maomé. Em uma palavra, se um muçulmano tem ou não o direito de se opor ao princípio do jihadismo e continuar sendo muçulmano.
Vejamos então as fontes da fé e do direito muçulmanos: O corão dá as prescrições de Alá, o hadith dá o exemplo de Maomé para cumprir essas prescrições; o fiqh, a jurisprudência islâmica, estabelece a relação entre a vida de cada muçulmano, o corão e o hadith.
O que o próprio Alá exige no Corão
A jihad é uma exigência de Alá:
– como meio de conversão: “iniciar-se-á inimizade e um ódio duradouro entre nós e vós, a menos que creiais unicamente em Deus!” (Corão 60.4)
– como meio de enfraquecer as sociedades não-muçulmanas: “Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós…” (9.124)
– como meio de purificar a religião: “combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus.” (2.193)
– como meio de justificar o massacre dos que não querem se converter: “matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os;” (9.5)
– guerra por toda parte onde reine a idolatria: “matai os idólatras, onde quer que os acheis;” (9.5)
– guerra em todos os séculos, pois esta é uma regra imutável: “Se os hipócritas e os que abrigam a morbidez em seus corações, e os intrigantes, em Medina, não se contiverem, ordenar-te-emos combatê-los; então, não ficarão nela, como teus vizinhos, senão por pouco tempo. Serão malditos: onde quer que se encontrarem, deverão ser aprisionados e cruelmente mortos. Tal foi a Lei de Deus, para com aqueles que viveram anteriormente. Nunca acharás mudanças na Lei de Deus!”(33.6-2)
– Alá garante a recompensa dos combatentes e daqueles que os ajudam: “Quanto aos fiéis que migraram e combateram pela causa de Deus, assim como aqueles que os apararam e os secundaram — estes são os verdadeiros fiéis — obterão indulgência e magnífico sustento.” (8.74)
– Alá garante a punição daqueles que temem fazer a jihad: “Se não marchardes (para o combate), Ele vos castigará dolorosamente, suplantar-vos-á por outro povo, e em nada podereis prejudicá-Lo, porque Deus é Onipotente.” (9.39)
– “Aquele que, nesse dia, lhes voltar as costas — a menos que seja por estratégia ou para reunir-se com outro grupo — incorrerá na abominação de Deus, e sua morada será o inferno. Que funesto destino!” (8.16)
– Alá exige que se implante o terror: “O castigo, para aqueles que lutam contra Deus e contra o Seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé opostos, ou banidos. Tal será, para eles, um aviltamento nesse mundo e, no outro, sofrerão um severo castigo.” (5.33)
– Alá é o verdadeiro autor da jihad (então nada de escrúpulos!): “Vós que não os aniquilastes, (ó muçulmanos)! Foi Deus quem os aniquilou; e apesar de seres tu (ó Mensageiro) quem lançou (areia), o efeito foi causado por Deus. Ele fez para Se provar indulgente aos fiéis, porque é Oniouvinte, Sapientíssimo.” (8.17)
– Alá é claro, não há outro meio se eles não quiserem se converter: “Quer implores, quer não (ó Mensageiro) o perdão de Deus para eles, ainda que implores setenta vezes, Deus jamais os perdoará, porque negaram Deus e Seu Mensageiro. E Deus não ilumina os depravados.” (9.80)
– Alá autoriza a dissimulação: “Que os fiéis não tomem por confidentes os incrédulos, em detrimento de outros fiéis. Aqueles que assim procedem, de maneira alguma terão o auxílio de Deus, salvo se for para vos precaverdes e vos resguardardes.”(3.28)
– Nada de sentimentos durante a jihad: “Está-vos prescrita a luta, embora o repudieis. É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Deus sabe todo o bem que fizerdes, Deus dele tomará consciência.” (2.216)
Conclusão: Desse modo, no corão, a jihad está inteiramente a cargo de Alá, que é seu inspirador, mantenedor, provedor e beneficiário.
O que Maomé faz
Acima de tudo, grandes expedições militares: A Hégira (setembro, 622); Carta de Yathrib (622) ; Expedição de Badr (624); Expedição de Uhud (625); Expedição de Fossé (627); Expedição de Hudaybiya (628); Expedição de Kaybar (628); Tomada de Meca (630) ; Expedição de Hunayn (630); Expedições fora da Arábia (6–). Em dez anos, Maomé perpetrou dezenas de ataques movido por quatro objetivos principais:
– conquistar a região do Hejaz para a causa de Alá;
– reunir os beduínos sob sua bandeira;
– expulsar os judeus dos oásis;
– combater os cristãos do Império Bizantino.
É no âmbito dessas batalhas que ele desenvolverá sua doutrina da não-confrontação, de dissimulação, (Maomé diz que“guerra nada mais é do que trapaça”) (Bukari 56.157), de taqqiya, ou amizade fingida (“Que os fiéis não tomem por confidentes os incrédulos, em detrimento de outros fiéis. Aqueles que assim procedem, de maneira alguma terão o auxílio de Deus, salvo se for para vos precaverdes e vos resguardardes.” (3.28), de tentar fazer o inimigo recuar, aterrorizando-o: assim Maomé decretou o assassinato de poetas (de civis!) que se opunham a ele; mandou assassinar Ka’b Ibn al-Ashraf, aterrorizando os Banu Nadir (tribo judaica de Medina) ; ou Abou Rafi, atravessado por um golpe de espada durante o sono (Bukari 64.14); ou Asma bint Marwan, assassinada enquanto dormia com seu bebê; ou o velho Abou Afak, morto também em seu leito.
Enfim, Maomé elevou a jihad em nome de Alá acima de toda a vida religiosa:
“Deus será grato a qualquer um que partir para guerra para satisfazê-lo e não tenha outro objetivo que o provar sua fé e afirmar a crença em seus enviados. Ele os fará retornar com recompensa que ganharão ou com o butim conquistado, ou os fará entrar no paraíso. Se não fosse por minha compaixão por meu povo, eu não me deixaria ficar na retaguarda das tropas, mas, ao contrário, desejaria ser morto por glória de Deus, ressuscitar em seguida para ser de novo morto, e voltar à vida outra vez para, depois de tudo, ser morto ainda” (hadith sahîh, Bukhari 2.26)
As interpretações moderadas da jurisprudência (fiqh)
A aplicação das prescrições corânicas deve sempre acontecer segundo uma escola de jurisprudência (maddhab); é em conformidade com seu método e seu conteúdo universalmente aceito que se faz a interpretação das prescrições corânicas. Esse esforço para aplicar retamente o Corão é chamado de ijtihad, e não pode de modo algum ser levado a cabo por um indivíduo – seja ele imam, xeique ou simples crente – independentemente de seus métodos. Aquele que quiser interpretar o Corão fora dessa metodologia, e chegar assim a uma conclusão ou a uma prática não-conforme à suna, comete uma inovação ilegítima (bida’), que não pode ser classificada como muçulmana nem pode ser seguida por nenhum crente. Desse modo, o muçulmano que deseja reinterpretar o Corão à luz dos “valores maçônicos da república”, ou à luz dos “interesses nacionais ou financeiros particulares” (mesmo da Arábia Saudita!) está em vias de sair do islã.
Entre as quatro principais escolas jurídicas oficiais que gerenciam 90% do islã sunita, a mais radical é, sem dúvida, a escola hambalita, que foi uma escola de reação contra a penetração da interpretação do Corão pelo pensamento profano. Compreende-se porque tal escola vai de vento em popa no Ocidente. Quanto mais se tentar uma reforma interna (islah) do islã pela fecundação de valores republicanos laicos, mais os muçulmanos irão procurar os métodos que provaram proteger seu corpo doutrinal.
Mas a escola jurídica mais moderada e difundida na França, “O islã oficial”, é a escola malikita. Vejamos então alguns trechos extraídos da Rissala, que é a mais célebre compilação da jurisprudência (fiqh) malikita. Seu autor, Al-Qayrawani, chamado de “o pequeno Malik”, nascido em 922, na Tunísia, é um exemplo de moderação, de maneira que seu trato logo se tornou o manual de base de toda a escola malikita. Eis alguns extratos do capítulo 30, consagrado à jihad:
“A jihad é uma obrigação (comunitária) da qual alguns se encarregam para que outros possam ser dispensados (Ora, a jihad não enfatiza então o radicalismo?). É para nós preferível que os inimigos não sejam combatidos antes que lhes seja pregada a religião de Alá, salvo quando eles tomem a iniciativa de nos atacar. Ou eles aderem ao islã, ou pagam o imposto de capitulação (jizya), senão serão penalizados.”
(Trata-se então de uma guerra para expandir a religião, ao contrário do que o papa afirmou em uma entrevista).
“(…) fugir diante do inimigo está entre os pecados maiores, se eles não forem pelo menos o dobro dos muçulmanos. Se o seu número é maior, não há mal nisso.”
(Ora, nós estamos em guerra contra o califado, repetem nossos políticos; logo os muçulmanos da França que sustentam o califado não recuarão, não importa o que se faça)
“O inimigo tem de ser combatido, não importa o homem que dirija os crentes, se piedoso ou perverso. Não há inconveniente em matar os que forem feitos prisioneiros entre os combatentes infiéis, mas não se matará ninguém depois de lhe ter concedido o aman (anistia).”
(Importantíssimo: isto legitima a manutenção do califado pelos muçulmanos, mesmo quando os dirigentes do Estado islâmico forem perversos)
“Ninguém trairá qualquer missão que lhe seja confiada. Não se matará nem as mulheres, nem as crianças, e se evitará matar os monges e os doutores da religião, salvo se eles combaterem. A mulher pode ser morta se combater.”
(A degolação do padre ultrapassa então os limites da fiqh melikita)
“Ninguém pode partir para guerra sem a permissão dos pais, salvo se o inimigo ataque de surpresa sua vila. Nesse caso, todos os habitantes têm a obrigação de enfrentá-los, e não se pede a autorização dos pais em tal situação.”
(Para horror do globalismo, que desaparece com as fronteiras, os integrantes da Al Qaida afirmam que não se trata mais de defender uma cidade, mas o conjunto planetário dos muçulmanos que está sob ataque. Já os integrantes do califado islâmico afirmam que se deve substituir “cidade” por “califado”. Daí a partida dos muçulmanos franceses para a Síria).
Conclusão
Os franceses têm de encarar a realidade objetivamente, sem a exagerar ou encobrir. Há um problema que ultrapassa enormemente a questão da radicalização dos indivíduos. Um problema da essência do próprio islã, capaz de trazer questionamentos aos próprios muçulmanos; e eis o que ouvimos da Igreja em tal circunstância: “não é o islã, mas o fundamentalismo”. No entanto, desvelem a verdade que os libertará, com coragem, bondade e perseverança: o problema é o islã, o corão, Maomé e tudo que daí decorre. Porque tudo isso não vem de Deus, mas do seu inimigo.
Ó muçulmanos! Olhem tudo isso face a face, e tenham a força de refletir com toda a liberdade. Não comparem o islã à sociedade ocidental laica e depravada de hoje: estarão comparando o mal com o mal. Antes, olhem a vida de Jesus no Evangelho, olhem a Igreja Católica que Ele fundou, mas a autêntica Tradição da Igreja, aos que permanecem fiéis a ela. Lá encontrarão a verdadeira adoração, a verdadeira fidelidade, a verdadeira lógica, a verdade paz e a caridade verdadeira. Rogo de todo coração por vós.
Fonte: Permanencia