MORTE E VIDA, PELO PADRE JEAN-FRANÇOIS MOUROUX

Encerra-se o tempo No Dia de Finados, conheça as histórias por trás dos túmulos mais ...pascal – não percamos os seus frutos. Por sua ressurreição Nosso Senhor triunfou sobre a morte do pecado, e começou uma vida gloriosa; a Páscoa é a festa da passagem. No Antigo Testamento, os Hebreus comemoravam a travessia do Mar Vermelho – na qual deixavam para trás a vida em terra pagã. Os egípcios, símbolos do pecado, foram engolidos pelas águas – começava uma vida nova, livre para servir a Deus.

Nossos pecados condenaram Nosso Senhor à morte. Ele foi sepultado, e o peso da pedra do sepulcro apontava a uma sentença definitiva. Mas, na verdade, a divindade estava escondida durante o tempo da Paixão, e o divino Corpo foi colocado no sepulcro apenas temporariamente, para reparar nossas faltas.

O sacramento do Batismo produz-se a partir desses acontecimentos passados. O catecúmeno é resgatado pela água purificadora que o lava de seus pecados – ele emerge da pia batismal para uma nova vida, vida que se inicia para o serviço e glória de Deus. O batismo por imersão simboliza do melhor modo esse sepultamento, esse ocultamento.

Nosso Senhor mesmo evoca-o: “Em verdade, em verdade, vos digo, que se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto.” (Jn 12, 24-25). Há, então, dois modos de estar sepultados: morrer para apodrecer e morrer para dar frutos. E, da mesma maneira, há dois tipos de confinamento – estamos trancados há mais de dois meses, juntos com nossas qualidades e nossos defeitos. E agora? No meio das dificuldades, apodreceremos ou daremos frutos?

A religião católica nos ensina que os sofrimentos e a morte são os castigos do pecado – mas ela igualmente nos ensina que ambos não devem ser fonte de desespero. De fato, todas as provações estão ordenadas à perfeição, que nos dá méritos para alcançar a vida eterna. O plano de Deus está perfeitamente resumido nas palavras que incessantemente repetimos durante a Quaresma – e que utilizamos na missa votiva para obter o fim das epidemias: “Porventura será do meu gosto a morte do ímpio? — diz o Senhor Deus. — Não quero antes que ele se retire dos seus (maus) caminhos e viva?” (Cf. Ezequiel 18, 21-28).

O episódio da mulher adúltera (João 8, 1-11) mostra de modo magnífico a vontade divina: Nosso Senhor impede o apedrejamento dessa pecadora. Poderia pensar-se que ele releva seus pecados – como pensam certos exegetas de má-fé – mas não é assim. Suas palavras esclarecem sua conduta: “Vai, e não peques mais.” Nosso Senhor lembra que essa mulher é culpada, mas ele não quer uma justiça hipócrita que mata o corpo sem dar importância para a alma. Ele deseja a conversão interior dessa mulher, e impede sua morte cruel para exortá-la a viver santamente.

Sair do confinamento não significa regredir aos maus hábitos dos quais nos resguardamos tão bem. Ao contrário, imitemos Lázaro ao sair da tumba, após ter ressuscitado. Ele abandonou todas as bandagens da sepultura, símbolos dos pecados que o acorrentavam em sua vida passada (Jn 11, 44), e seguiu com entusiasmo a Nosso Senhor.

Atualmente, muitos protegem sua saúde – mas, se é para viver mais tempo no meio de baixezas, melhor seria morrer agora e evitar uma punição ainda maior. Se é para crescer em santidade, merecer sua salvação e a de muitos pecadores, então morramos todos os dias para melhor nos submetermos a Cristo, cabeça do Corpo Místico do qual somos todos membros.

Padre Jean-François Mouroux