Fortitudo et decor indumentum ejus, et ridebit in die novissimo. Os suum aperuit sapientiae, et lex clementiae in lingua ejus.
Uma força misturada de graça é o seu vestido, e ela terá alegria nos seus últimos dias. Ela abriu a boca a sabedoria e a lei da clemência está em seus lábios.
(Prov. XXXI, 25-26)
Nós temos o hábito de começar os nossos entretenimentos pelo resumo do entretenimento precedente: este método tem talvez, a dupla vantagem de ligar o conjunto da doutrina e recordar sucessivamente o que se disse da última reunião.
A mulher forte deve ter o talento de enobrecer seu marido pelo doce contato de uma natureza diferente, de lhe tornar flexível o caráter, de comunicar-lhe alguma coisa da estranha penetração, do olfato dos pequenos nadas, que tanta importância têm nas relações sociais. É esta uma das mais nobres e mais esplêndidas missões da mulher, quando a toma a peito dá algumas vezes um grandíssimo valor ao que estaria em estado de vinha inculta. Sobre isto explicamos as palavras da Bíblia: – “O marido da mulher forte será ilustre nas assembléias, quando sentado no meio dos senadores da terra“; e se o lugar do senador está reservado para alguns privilegiados, a mulher forte pode, todavia, praticar num sentido, o conselho do Espírito Santo: Perto dela o marido adquire uma certa distinção que lhe permite sustentar-se, ao menos, com conveniência na assembléia dos velhos e dos prudentes, pois tal é a primitiva etimologia da palavra senador.
O versículo seguinte forneceu-nos ocasião de darmos alguns conselhos práticos as pessoas envolvidas no comércio. Recomendamos-lhes especialmente a probidade e a afabilidade: a probidade que sabe negociar honestamente e que é a mãe de um verdadeiro e sólido sucesso, e o único que devem ambicionar o homem que atrai as práticas e que se torna uma das melhores e mais legítimas condições do bom êxito.
O texto seguinte será o tema da nossa conferência de hoje:
“Uma força misturada de graça é o seu vestido, e ela terá alegria nos últimos dias. Ela abriu a boca a sabedoria, e a lei da clemência está em seus lábios.”
“Uma força misturada de graça é o seu vestido.”
A mulher forte tem no ar, no aspecto, na fisionomia e no olhar, uma dignidade cheia de encantos. Não é uma beleza efeminada, que se dirige principalmente aos sentidos; é um raio do céu, cuja beleza exterior não serve senão para cobrir uma nobre e varonil virtude.
Caminha assim, levando aos ombros este manto de glória; e há tanta simplicidade nos seus modos, tanta bondade nas suas palavras e no seu olhar, tanta expressão na sua fisionomia, que a inveja desarma-se: admira-se e ama-se. “A raiz desta beleza – diz Santo Ambrósio – é uma virtude interior, sempre viçosa, cuja flor se projeta em todos os órgãos.” (De offic., 1.I, c. 45)
A vista dessa mulher admirável eleva os pensamentos em lugar de os abaixar, e a luz do seu olhar purifica sempre. Quando a gente se encontra, lembra logo a bela máxima de Clemente de Alexandria:
“O que olha a beleza com uma casta afeição esquece a beleza da carne pela da alma: só admira o corpo como uma estátua, e eleva-se por essa terrestre, até ao primeiro artista, até a própria essência da beleza. Para ele as formas exteriores são um símbolo sagrado que ele mostra aos anjos guardadores, das avenidas do Céu; é o cunho luminoso da justiça, é o perfume de uma alma perfeitamente harmonizada, é a manifestação dos sentimentos íntimos de um coração, que a presença do Espírito Santo faz estremecer.” (Stromat., I. IV. cap. 13)
Eis a verdadeira beleza da mulher forte: é uma água pura que sabe de um coração virtuoso, é uma água límpida, em que se reflete a claridade de um sol interior, e que parece refrescar o olhar. A sua força écercada de graça, e a graça é protegida pelo baluarte de uma força divina: Fortitudo et decor indumentum ejus.
Todas estas admiráveis qualidades, cuja base está sempre no interior, podem encontrar-se nas mulheres que não possuem precisamente, o que, por convenção, se chama a beleza física das feições. Há pessoas as quais o mundo confere, ao menos em palavras, um prêmio de beleza, e que, para o observador atento, têm uma expressão de fealdade pronunciadíssima: traem-se-lhes a alma em certas linhas fugitivas, em certas rugas que vão e vêm, produzindo um efeito que a pena não pode descrever, mas que o pensamento agarra na sua rápida passagem.
Encontram-se, ao contrário, figuras que certa gente chamaria feias, e que são admiravelmente belas na expressão e na forma imaterial. O verdadeiro belo, o que arte da alma, está impresso na fisionomia; está sempre claro, semelhante a um formoso diamante que não estivesse ricamente lapidado, e ao qual a forma externa fornece ocasião para mais cintilar.
Contemplando-as lembra logo o pensamento de outro Padre, que já por mais de uma vez temos citado:
“A virtude brilha como uma flor nos corpos em que habita e reveste-os de uma luz suave e pura.”
(Clem. Alex, Pedag. I. II, c. 12)
Eu não tenho receio de entrar em todas estas minuciosidades, a fim de vos fazer compreender, mais e mais, que a religião é um aroma que conserva tudo, mesmo o que a mulher tem de mais frágil e, algumas vezes, de mais perigoso nas suas qualidades. O cristianismo é suficientemente forte para dizer tudo, mesmo sobre as matérias as mais delicadas, é suficientemente forte para tudo preservar, porque é divino.
Sejam quais forem as vossas qualidades exteriores, andai de modo que elas tenham sempre o reflexo de uma alma grande e virtuosa. Se Deus vos deu algumas vantagens corporais, seja a virtude a raiz que as alimente: terão sempre mais frescura e verdade, semelhantes as árvores cuja profunda raiz bebe a seiva interiormente, e que se estiolam quando ela é a superfície. Se a natureza não fez por vós tudo quanto tendes, talvez, sonhado, tenha a vossa virtude uma luz mais viva; e a flor da alma, como a chamam os santos, brilhará tanto mais nos vossos orgãos, quanto a condecinha flor mais simples; o ramo de flores tem às vezes um encanto a mais, quando o vaso que o contém não encerra toda a elegância da arte.
Muitas vezes, no mundo decaído há contrastes entre a forma e a riqueza interior, e as coisas são tanto mais sólidas e seguras, quanto menos predomina nelas o elemento natural.
Que a força ornada da graça seja, pois, o vosso vestido: Fortitudo et decor indumentum ejus.
Na igreja, no passeio, em um encontro com os amigos, seja a vossa fisionomia o espelho do quanto a gente gosta de supor no coração de uma mulher virtuosa; tenha o vosso sorriso a graça de uma bondade sobrenatural; sejam os vossos olhares a pintura abreviada dos vossos sentimentos; tenha o vosso porte a dignidade e a simplicidade de uma alma verdadeira; que tudo enfim, imponha respeito, atraindo as almas e elevando os caracteres.
A Sagrada Escritura ajunta que “a mulher forte terá alegria nos seus últimos dias.”
Um dos mais belos e mais enternecedores espetáculos é o de ver uma mãe de família cercada dos seus filhos, que ela educou no temor de Deus, que ela viu crescer e prosperar em torno dela, como rebentos de oliveiras, sempre verdejantes: Sicut novellae olivarum (Ps. CXXVII, 3.)
Expande-se-lhe o coração e sorri-lhe o rosto; é o sol que vai em breve esconder-se num céu puro, e que, antes de desaparecer no extremo do horizonte, parece deter o seu curso, lançando um olhar de saudade sobre a natureza que vivificou: Et ridebit in die novissimo.
Ela recorda com ventura as alegrias da sua mocidade maternal, as bênçãos que o Céu se aprazia em derramar sobre a sua família, e os puros júbilos de seus filhos e de seu marido. Os trabalhos que empreendeu, as penas que sofreu, as dores inseparáveis das felicidades deste mundo, as preocupações e os cuidados do seu amor, tudo se lhe converte em assunto de ventura: é feliz, e goza, como o jardineiro que acha, na recordação dos seus rudes trabalhos e dos seus suores, motivo de consolação, porque recolhe no outono os frutos abundantes dos seus dias de labor e de sofrimento.
Ditosa mãe, rejubilai-vos com o bem que praticasteis, rejubilai-vos em Deus, porque essa alegria é um dom do Céu: Hoe donum Dei est (Ecles.I, II).
Que a ventura, a virtude, a prosperidade da vossa numerosa família formem em volta de vós uma como coroa de flores, um como tapete de verdura, a fim de ensombrecer-vos os últimos dias e embalsamar-vos de antemão os membros fatigados, antes de descerem ao túmulo, aonde encontrarão o derradeiro repouso:Et ridebit in die novisimo.
É sobretudo na derradeira hora, e sobre o leito fúnebre que o sorriso da mulher forte toma uma expressão angélica. E, como o santo patriarca, é, sem dúvida obrigada a dizer: – “A minha peregrinação foi semeada de dias curtos e maus” (Gen. XLVII), pois tal é a lei de todas as criaturas humanas, e as lágrimas da dor e do sacrifício são o melhor orvalho para certos crescimentos sobrenaturais da alma.
Porém depois desta confissão, que a verdade reclama, a mulher forte deve ajuntar: – Meu Deus, acabei o meu curso, terminei a obra que me confiasteis, e agora volto a Vós, como Autor de toda a paternidade, a fim de Vos amar e de Vos suplicar ainda com mais amor e fervor por aqueles que vão permanecer depois de mim.
O padre responde-lhe: – Parti, alma cristã, porque o Cristo vai receber-vos nos prados verdejantes do Céu– Intra paradisi semper amaena virentia. (ritual romano)
A alma levanta-se com estas palavras, toma vôo, e depois de partida, fica sobre os lábios, nos olhos, e na fronte uma expressão de sorriso angélico, que é como o último adeus da alma, e que parece ficar para falar ainda da sua ventura: Et ridebit in die novissimo.
Ponhamos em paralelo um outro quadro: esbocemo-lo brevemente, para que não vos entristeçais.
Vede essa mulher do mundo, que nunca tomou a vida a sério. Passou a juventude nos prazeres, nas festas e no meio dos divertimentos da terra. Descurou a sua casa, não soube fixar o coração de seu marido, pelas sólidas qualidades, que são a melhor salvaguarda da afeição duradoura. Abandonou a educação dos filhos, entregou-os às primeiras mãos que encontrou, e não vigiou o seu lar; pouco e pouco a desordem introduziu-se nele sob todas a formas, as ilusões dissiparam-se, a idade avançou, as sombras sedutoras desapareceram, e começou o reino das mais amargas decepções. Acabou por sentar-se na vida como um velho tronco mirrado; olhou em roda e tudo desapareceu, exceto o fantasma das suas tristes recordações; sepultou-se-lhe o coração e agora só tem lágrimas solitárias para derramar…
Pobre alma tão desgraçada! Deixai que eu vá em vosso socorro e vos diga que nem tudo está perdido para vós, se quiserdes seguir o meu afetuoso conselho. Soa a hora de vos voltardes para Deus, pois Deus é tão bondoso que nunca acha tarde. Suplicai-Lhe com amor e arrependimento, e Ele descerá para derramar sobre vós o orvalho que prepara sempre para os corações aflitos; tomareis o vosso coração com as raízes quase secas, mergulha-lo-eis no banho celeste, e ele rejuvenecerá ainda. Todos os dias o retemperareis com lágrimas de compunção e de esperança, e essas lágrimas misturadas ao rossio do alto, dar-vos-ão uma existência nova, e direis a Deus com o acento de um amor penetrado de reconhecimento:
O velho tronco não perdeu toda a esperança… as suas raízes envelheceram na terra, e a sua haste parecia morta ao pó, mas ele reverdeceu ao primeiro contato de água, e cobre-se de folhagem, como no dia em que foi plantado pela primeira vez: Ad odorem aquae germinabit, et faciet comam quasi cum primum plantatum est. (Job. XIV, 9)
“Ela abriu a sua boca a sabedoria e a lei da clemência está em seus lábios.”
A reserva e o silêncio são uma das primeiras qualidades da mulher forte, e tanto mais, quanto a mulher está mais exposta a faltar a ela. Há alguns anos que consagramos três instruções aos defeitos da língua e eu não quero tratar isso agora minuciosamente. Diremos algumas palavras apenas, para explicação da sentença do sábio: – “Abriu a sua boca a sabedoria.”
Quantas pessoas que abrem todos os dias a boca a tolice, a cólera, a vingança, a calúnia e ao vício da impureza!
Pois haja ao menos, aqui e ali, algumas mulheres verdadeiramente cristãs, que tenham confiado a sabedoria a chave da sua boca. Sabedoria na natureza das palavras, nada dizendo de inconveniente, nada de indigno, para uma alma religiosa, respeitando a autoridade, as crenças, a moral e as decências da sociedade. Sabedoria na parcimônia do discurso: meditai antes de falar, e não solteis o vosso pensamento com a precipitação da leviandade: algumas palavras pronunciadas com senso e sobriedade farão mais efeito que a interminável conversação dos espíritos superficiais, que dizem tudo, porque ignoram tudo.
Poucas palavras e muitas ações boas, eis o meio de fazer bem, e de adquirir a reputação dos espíritos sábios e retos que sabem conter-se em justos limites. Sabedoria na oportunidade dos tempos e das circunstâncias! Tal palavra será inofensiva hoje, e amanhã será óleo sobre o lume. A conversação empenha-se em tal assunto, provoca-se o vosso parecer, e vós o dais com toda a prudência e franqueza: a vossa resposta será de um excelente efeito. Se, ao contrário provocais a conversação, se tendes ar de pôr e de querer estabelecer sentenças, fatigais o auditório e pondê-lo de prevenção contra vós.
Há, com relação a isto, uma infinidade de cambiantes imperceptíveis, que é necessário saber apanhar e compreender: é preciso tato, reserva e reflexão.; tato para adivinhar a direção do vento; reserva para melhor estudar, reflexão para a seguir convenientemente.
Sabedoria na oportunidade da escolha das pessoas: estais num pequeno círculo de pessoas amigas e seguras: quantas coisas podereis dizer inocentíssimamente, e que chegariam o lume a pólvora se as proferísseis perante outras pessoas!
Por que?
Porque as que nos escutam hoje são caracteres firmes e bem intencionados; compreendem o verdadeiro sentido das vossas palavras, o limite em que se fixa o vosso pensamento, e param sempre perante as exagerações, que é fácil prestar a uma idéia muitíssimo justa em si. Mas se essas palavras que saem do coração numa conversa íntima e sem serem alinhadas com o compasso geométrico, forem proferidas diante de pessoas desconfiadas, mal dispostas, e pouco inteligentes; diante de espíritos fracos, de almas mesquinhas e naturalmente malévolas, sabeis o que acontecerá?
Será dado a vossa conversa um sentido que exclui precisamente o vosso pensamento; apresentar-se-á como expressão da vossa idéia quanto havíeis repelido formalmente, porque tínheis recomendado que não vos invertessem as palavras e que as sustentassem nos limites, além dos quais sairiam necessariamente da verdade e da razão; envenenar-se-á a sincera candura da vossa alma; alguma viborazinha que deslize para junto de vós sem que a vejais, preparará o dardo que vos há de ferir; lançará o veneno nos vossos melhores pensamentos, nos vossos inofensivos projetos: e bem depressa recebereis pela posta do público uma segunda edição de vós próprias, não aperfeiçoada, mas malissimamente aumentada, falsificada, invertida. E não tereis quase que o direito de vos queixardes!
Porque tendes deixado cair a luz íntima da vossa vida, sobre os vidros raiados, contornados, facetados, que se chamam espíritos falsos e corações malévolos?
Não vos admireis se o objeto da vossa idéia, e a forma das vossas palavras, forem representadas inversamente, e segundo a natureza dos espíritos que vos ouviram.
Eu peço-vos, senhoras, que antes de abrirdes a boca, chegueis a porta a ver se é a sabedoria que bate; se for, nada de melhor, abri de pronto, abri-a de par em par. Falai com toda a confiança e Deus abençoará o que sair do vosso coração. Mas tomai cuidado: há interiormente vozes de “sereias”, que pedem emprestadas a linguagem e a voz da sabedoria. Essas “sereias” são numerosas e de formas múltiplas: chama-se a intemperança da língua, a necessidade de sair da sua casa, isto é, do seu coração, a vingança, a cólera, o furor de maldizer e caluniar, o prurido desse órgão que o Apóstolo chama o mal inquieto .
Velai, senhoras, com o maior cuidado: detende-vos antes de falar, refleti, em na dúvida, guardai silêncio, estas preocupações são tanto mais necessárias, quanto, no meio de eminentes qualidades, o vosso sexo é mais fraco por este lado, a darmos crédito aos moralistas.
Eis o retrato, que a propósito deste versículo, traça um dos comentadores da Sagrada Escritura:
“Há mulheres, que são ociosas e curiosas, e que falam continuamente: nem sempre têm a cabeça sólida, e agitam-se aos ventos de todas as paixões. Assim, dizem muitas imprudências, maldades, e, às vezes, até insolências: – Multa imprudenter, dicuciter et procaciter effetiunt et vociferantur“.
(Cornelius a Lapide, in Prov. XXXI)
Cito esta passagem muito convencido de que não se aplica a nenhuma de vós; mas algumas vezes é bom explicar a moral pelo exposto dos extremos.
Por fim a Escritura diz que “a lei de clemência está em seus lábios.”
Que admirável sentença! Os lábio da mulher forte são depositários da lei da clemência: Lex clementiae in lingua ejus.
Ao homem a força, a coragem e uma certa autoridade no interior da família. Não digo mal desta austeridade, porque é necessária, e, sem ela, dissolver-se-ia a família num excesso de mole bondade; mas apesar de tudo não é ela suficiente, tem o seu complemento no coração e nos lábios da mulher. Quando o marido faz ouvir a sua voz cheia de autoridade, que lança em tudo o movimento e a vida, chega a mulher, e, como óleo de suavidade, desliza através das engrenagens, adoça os atritos e facilita a execução.
Se o pai mostra aos filhos a firmeza, que é a garantia do êxito, a mulher lá está para vigiar os movimentos muito bruscos, para os acalmar, para lhes dar flexibilidade, sem nada subtrair à sua atividade; a uma palavra enérgica e paternal, junta ela um conselho de mãe; uma frase do seu coração, um olhar afetuoso; e esta sábia combinação de esforços contrários faz com que tudo vá bem na família.
O sábio disse nalguma parte, e já o citamos, que, nas obras de Deus, há tendências e energias opostas. Este pensamento que bem explica contradições exteriores, aplico-o à família.
Existem, devem existir no marido e na esposa aptidões diversas, operações variadas, que convergem ao mesmo fim, por caminhos aparentemente opostos.
Desgraçadamente os consortes nem sempre compreendem suficientemente esta doutrina: a mulher censura a severidade ao marido, e este, por sua vez fala da fraqueza da mulher, e estas palavras são trocadas por um e outro como censuras.
Em lugar da mutuação de recriminações, não valeria mais unir a bondade da mulher à firmeza do homem?
Nesta união encontrariam precisamente o que procuram ambos…
Que o homem conserve nos lábios uma lei de firmeza, e a mulher uma lei de clemência, e estes dois elementos fundidos por uma afeição reciprocamente, farão a felicidade e assegurarão o futuro da família.
Poder-se-ia ainda dar um outro sentido as palavras:
“A lei de clemência está em seus lábios: – Lex clementia in ore ejus.”
“A mulher forte – diz o comentador já citado, não é impertinente, mordente nem berradora; é doce, suave, modesta e benévola: – Non est aspera, morosa, clamorosa, iracunda, sed levis, blanda, modesta, suavis ut non nisi clementia et benevola proferat.”
Que tristíssima coisa não é a malevolência! E todavia, como é vulgar!
Como é rara a benevolência! E no entretanto, que doce e preciosíssima qualidade da alma! Pois não só é excelente, mas até mais ordinariamente conforme com a verdade!
Quantas línguas de víboras neste mundo!
Quantas invejas a morderem e a rasgarem!
Essas, posso jurá-lo, não têm a lei da clemência sobre os lábios, mas a lei da malvadez, da perfídia e da mais negra invenção.
Quanto a vós, senhoras, conservai-vos sempre no número das mulheres fortes, tais como as quer o Espírito Santo: elaborai para vós uma lei da benevolência, da caridade, e da clemência nas imprecações, e da benignidade nas palavras.
Como sereis mais felizes e mais tranquilas convosco!
Quando a víbora humana entrar nos seus subterrâneos, sofre cruelmente, e a recordação do veneno que derramou não lhe permitirá dormir; mas a vida feliz e serena, os sonos pacíficos são a partilha das almas cristãs, que respeitam as pessoas e as ações de seus irmãos, que espalham palavras serenas em volta de si, e que, mesmo sobre abismos, mais gostam de lançar flores do que atirar pedras.
Seguindo estas máximas atraíreis a benevolência geral, o vosso bondoso coração será conhecido, e todos confiarão nele.
“A vossa memória será um excelente preparador; deixareis uma recordação, doce como mel, e harmoniosa como um concerto musical, num banquete de vinhos deliciosos.” (Ps. LI)
Se, ao contrário, rasgardes os outros, em breve tereis feito uma reputação má. Cada um dirá, depois de vos ter ouvido falar do próximo: – Que afiada navalha, que serra não é esta língua! Sicut novacula acuta!(Isai. XXVIII)
Como corta em toda a gente!
Provavelmente a minha hora soará em breve, e eu passarei também pelos dentes da serra: In serris triturabitur (Eccl. XLIX).
Quando uma pessoa é assim conhecida e apreciada, far-se-lhe-á talvez boa cara pela frente, porque se receia dela; mas apenas voltar as costas. a recompensa é certa, e encontram-se também instrumentos para a retalhar.
É a pena de Talião: – Olho por olho, dente por dente (Lev. XXIV): os homens podem ser injustos, e o são, muitas vezes, aplicando a lei, mas outras tantas se serve a Providência da maldade deles para cumprir a obra da Sua alta e omnipotente justiça.
Então o culpado experimenta por sua vez a triste verdade das palavras de São Crisóstomo:
“Nada há pior que a língua , pois é mais perigosa que os embustes e mais cruel que a espada”. (Job, c.5)
Neste caso, senhoras, a lei da clemência em vossos lábios e nas vossas palavras! Se a grande carta da benevolência fosse adotada por todos, quanta alegria nas sociedades! Quanta sinceridade nas relações!
Juntai-lhe a lei da sabedoria, que a Sagrada Escritura recomenda também a mulher forte, e então merecereis completamente o elogio do Espírito Santo:
“Ela abriu a boca a sabedoria, e a lei da clemência está em seus lábios: – Os suum aperuit sapientiae, et lex clementiae in lingua ejus.”
A Mulher Forte – Mons. Landriot