NÃO POSSO SER SANTO

tothMuitos jovens têm arrepios ao ouvirem falar dos santos do cristianismo, principalmente quando lhes são propostos como modelos.

“Querem que também eu seja um santo?! Não! Não! Não quero! E muitos se assustam só em pensar nisso.

Mas que é a santidade, e quem é chamado santo? Santidade é possuir um caráter nobre que visa fins elevados. Santidade não é fuga do munido, senão triunfo sobre o mundo. Santidade é a energia de alma levada ao infinito. Santidade é a avaliação exata dos valores da vida. Os santos são heróis: heróis da liberdade de alma.

Que é que não pertence à essência da Santidade? Retrair-se furtivamente, inclinar a cabeça para o lado, revirar os olhos, entregar-se à tristeza, à melancolia, à indolência, ao extermínio de nobres aspirações naturais, enfim nada do que tanto amedronta, ao ouvir a palavra “santo”, é necessário para ser santo.

Que é pois o santo? Um herói! O herói da vitória sobre si mesmo! Um sublime e aliciante modelo daquilo que a vontade humana é capaz de realizar. O selo da inabalável fé na insigne predestinação da humanidade. O exemplo da magna vitória sobre o eu, exemplo que comunicou entusiasmo e vida a vários séculos. Santo é aquele que desenvolve, com consequências heróicas, o que possui de nobre, para que a imagem do Salvador se torne uma obra prima na sua alma.

E agora, meu amigo, dize-me, não gostarias de ser um herói assim? Responderás talvez que isso são exigências demasiadas, que esse ideal não pode ser realizado; menos ainda por um jovem do século vinte.

Digamos que tens razão. Não deves esquecer todavia, que um ideal não nos é proposto somente para que o alcancemos, mas também para que lutemos por ele, e nos esforcemos por alcançá-lo. Quanto mais relevada a meta que almejas, tanto mais te elevarás, exercitarás tuas forças, mesmo quando não a alcançares completamente.

Porque a imitação dos santos nos eleva também às alturas da vida espiritual. Os santos aplicam, por assim dizer, a doutrina de Cristo à vida cotidiana: em exemplos práticos, em fatos vividos, nos mostram como ela pode ser realizada e cumprida na vida humana. Uma grande energia se comunica à nossa fraca vontade, ao contemplarmos tais exemplos, e nos prova que não somente se deve, mas também se pode imitar a Jesus Cristo. E isto em qualquer carreira. S. Luís. S. Estanislau, S. João Berchmans conquistaram a liberdade espiritual, tornaram-se santos como estudantes, tanto como o rei Santo Estêvão, no trono. S. Martinho como guerreiro, santa Zita como simples empregada.

Não há negar: na vida de muitos santos encontramos particularidades que podemos admirar, mas não imitar. Quero chamar-te a atenção para isso, a fim de que não te desanimes. É verdade que não podemos imitar certas mortificações e penitências, que muitos santos se impunham. E também é certo que não se exige a imitação de uma ou outra ação da vida dos santos, mas o espírito que os animou a tais atos extraordinários. No cristianismo primitivo houve santos, que por penitência se faziam murar, para toda a vida, no jazigo de um túmulo onde nem podiam estender-se em todo o comprimento. É natural que isso não se pode imitar. Mas — não é verdade? — o espírito de onde emana esse profundo e verdadeiro arrependimento, nós o deveríamos aprender! Os chamados estilistas, durante decênios, não baixavam da coluna sobre a qual permaneciam. Quem os poderá imitar? Entretanto procuremos adquirir aquela força de vontade, aquele heroísmo, aquela abnegação que lhes inspirava a realização de coisa tão extraordinária.

A toda hora lemos que nesta ou naquela cidade se erigia um monumento a tal ou tal homem: um artista, um: sábio, um general, etc. Quem realizou uma grande obra para a humanidade, agradecem-lhe com um monumento. Além disso, os grandes e ilustres varões não são honrados somente com estátuas; os objetos do seu uso, móveis, roupas, escritos, etc., são recolhidos e reunidos em museus. Está tudo muito bem. A veneração dos grandes é coisa profundamente arraigada na natureza humana.

No entanto, maiores do que os heróis da ciência são os heróis da vida! Mais ilustres: do que todos os exploradores dos polos, pintores, químico, são as almas heróicas que, com vitoriosa renuncia do próprio eu, souberam modelar em si o eternamente belo, a imagem divina. Sim, com toda a razão enaltecemos os grandes escritores, artistas, sábios, estadistas; contudo, aos heróis da vida moral, a quem chamamos santos, a estes, não devemos exaltar somente, mas, havemos de imitar seus exemplos.

“Santo”. Agora sabes o que a palavra significa. Não quererias ser um herói assim?

Religião e a Juventude – Mons. Tihamer Toth