NAS PRÓXIMAS DÉCADAS, “OS PRIORADOS SERÃO VOSSAS PARÓQUIAS”

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Pe. Benoît de Jorna, FSSPX

Caros amigos e benfeitores,

Os Priorados da Fraternidade São Pio X são as vossas paróquias”. Foi assim que D. Marcel Lefebvre se dirigia aos fiéis nos anos 80. Essa afirmação parecia um tanto incomum na época. Os mais afortunados frequentavam esses famosos priorados há menos de 5 ou 6 anos. Recordemos que na França, terra abençoada do “tradicionalismo“, o Fundador da Fraternidade só abriu os três primeiros priorados em 1976.

Mas mesmo para os pioneiros que conseguiam aceder a um dos raros priorados então existentes, a paróquia continuava próxima, fazia parte da vida, paroquia escolhida onde um padre guardava a batina, o catecismo e, acima de tudo, a Missa tradicional. Ir a um Priorado era apenas um acontecimento ocasional, para um retiro, uma cerimônia, uma confissão. Alguém já disse: “Os conventos (beneditinos, dominicanos, franciscanos, jesuítas, etc.) são vossas paróquias”? Isso não faz sentido, exceto para quem vive perto de uma casa religiosa e que acha conveniente assistir aos serviços ali prestados. Mas essa prática secundária nunca se tornou um princípio geral. A afirmação de D. Lefebvre, “Os Priorados são as vossas paróquias“, permaneceu, portanto, enigmática.

Na verdade, ela foi extremamente profética. Na cabeça da maioria dos que resistiam à subversão religiosa, havia uma convicção muitas vezes subconsciente, mas real: “Esta crise é apenas temporária, será resolvida em breve, as coisas irão melhorar, um bom Papa será eleito, as paróquias logo voltarão à missa tradicional”.

Os Priorados são vossas paróquias”. Com uma extraordinária lucidez, o “Bispo de ferro”, com os seus olhos de sabedoria, viu a realidade da crise que abalava a Igreja. Ele havia compreendido que esta crise seria longa, difícil, cansativa e que a esperança de encontrar paróquias “normais” estaria muito distante. É por isso que ele ainda declarou aos fiéis (essencialmente): “Estabeleçam-se, construam uma rede de vida cristã através de capelas, escolas, casas de idosos, etc., que os protegerão todo o tempo que durar esta crise”.

De sua parte, como Fundador da FSSPX, organizou o que viria a ser o centro nevrálgico deste “cristianismo de sobrevivência“: os Priorados. É neles, de fato, que os padres rezam, estudam, descansam e se fortalecem, para que quando chegar o momento, possam juntar às capelas: escolas e outros lugares, onde os fiéis católicos que, corajosamente resistem ao dilúvio de erros e pecados que está a varrer o mundo e a Igreja, se santifiquem.

Lefebvre falou com grande firmeza sobre os Priorados em uma conferência aos padres em maio de 1988, afirmando que o Priorado é mais fundamental do que outras obras, sejam elas capitais como escolas ou casas de retiros espirituais. “O Priorado”, disse ele, “é a solução para preservar a graça do sacerdócio, para preservar o fervor do padre. (…) Penso poder dizer, na verdade, que se os Priorados desaparecessem, não teríamos mais a Fraternidade. (…) A Fraternidade baseia-se essencialmente nos Priorados. (…) Daí a importância capital, a meu ver, da constituição dos Priorados”.

Nestes Priorados, que são materialmente e espiritualmente bastiões, fortalezas, cidadelas, residem 2 ou 3 padres, 1 irmão e, por vezes, religiosas (freiras). Este pequeno grupo, aparentemente insignificante, apoiando-se na verdadeira doutrina católica, na graça de Cristo e no sacrifício da Missa, este pequeno grupo está encarregado de trabalhar pela santificação de centenas de fiéis espalhados em torno do Priorado, a fim de reconstruir com eles e neles um verdadeiro cristianismo. Por sua vez, estes fiéis verdadeiramente católicos constroem um muro de oração em torno do Priorado, para que os santos anjos protejam os seus sacerdotes e seus religiosos de qualquer fraqueza, de qualquer erro, de qualquer desânimo. Esses fiéis fornecem também, tanto quanto necessário, os recursos materiais para que o trabalho do priorado (a vida dos sacerdotes, a vida das capelas, das escolas, das várias obras) possa efetivamente continuar.

Os sacerdotes, desde o Priorado, vão até os fiéis, para a pregação da fé, para a celebração da liturgia e para os sacramentos. Por sua vez, os fiéis devem se reagrupar perto de seus Priorados, se reunir em torno deles. Em um sentido moral e espiritual, é claro, sem quaisquer reservas. Mas também num sentido material, se possível, e na medida que possa ser conveniente: instalar sua moradia perto do Priorado permite, com mais facilidade, o benefício do apostolado do sacerdote. Não negligenciemos este critério quando decidimos sobre a localização de nossa moradia (por exemplo, no momento da aposentadoria): poder ir à missa a pé é um elemento de escolha que pode, em grande parte, contrabalançar certas comodidades de uma casa que estaria longe de qualquer ajuda espiritual.

Mas, mesmo que não possamos residir nas proximidades de um Priorado, devemos, nas circunstâncias muito difíceis que estamos passando e que não irão melhorar nos próximos anos (sejamos claros), ter uma profunda e orgânica ligação com nosso Priorado. Temos isto através da capela que frequentamos, é claro, onde o padre vindo do Priorado nos dispensa a doutrina e a graça, mas precisamos ir mais longe e habituar-nos a frequentar o próprio Priorado, para aí recarregar nossas baterias, para receber conselhos adequados, para que os nossos filhos sejam formados para conhecer e amar a Deus, para que saibamos que temos um “porto seguro espiritual”, um lugar que nos ajuda a permanecer católicos, a não desistir. Um lugar que é, para nós, um bastião do cristianismo, um lugar onde nos sentimos fortalecidos, encorajados, revivificados.

Em particular, o Priorado é para os sacerdotes que aí levam uma vida religiosa necessária ao seu equilíbrio (portanto também necessária ao vosso equilíbrio), um local de estudo, de aprofundamento da doutrina cristã e, tanto quanto necessário, da verdade natural (a sã filosofia pela escola de Santo Tomás, a realidade histórica além de toda deturpação, etc.). Pois a Revelação divina abrange, esclarece e protege as verdades que a razão humana pode conhecer. Sem fé, a razão humana, danificada pelo pecado original, está muito rapidamente sujeita a desvios: é fácil constatar isso em nossa sociedade apóstata.

Na vida de um padre, este estudo não é de forma alguma secundário, não é apenas um simples “hobby“. Pelo contrário, pertence à sua vocação, que é ensinar a verdade, e a verdade suprema, a que diz respeito a Deus. Os lábios do padre são os depositários da ciência (conhecimento), e da sua boca é buscado o conhecimento da lei de Deus, porque ele é o anjo do Senhor dos Exércitos”(MI 2, 7). A fim de poder ensinar de maneira justa os fiéis que lhe são confiados, é necessário que o padre se aplique todos os dias a um melhor conhecimento da doutrina divina.

Mas os fiéis, para sua salvação, não têm menos necessidade da verdade do que os padres. É também necessário e oportuno, portanto, que essa verdade, estudada e meditada pelo sacerdote, chegue aos fiéis, por meio de sermões, conferências, boletins, livros, e às vezes (se for honestamente possível) programas de rádio ou Internet. Mas também através de encontros pessoais, para que cada fiel obtenha a luz sobre o ponto que lhe é pessoalmente dificultoso. É também nesse ponto que se deve procurar a “proximidade” com o Priorado, para que cada fiel possa recorrer à luz da ciência sacerdotal quando o sentir necessidade.

Caros fiéis, reúnam-se em torno de seus Priorados, frequentem-nos regularmente, apeguem-se a eles como a menina dos olhos. As aparências de uma calmaria na crise da Igreja acabam de ser varridas pela Traditionis custodes. O combate continuará por muito tempo, não será fácil e serão necessários esses bastiões espirituais todos os dias. Estejam bem cientes: nas próximas décadas, “os Priorados (e só eles) serão as vossas paróquias”.

Carta aos amigos e benfeitores do Distrito da França, nº 90