“Para os individualistas, o casamento é o epílogo de uma história de amor; para nós é o prólogo de uma história de amor. No primeiro caso o amor é exigente e se acerca do guichê nupcial para receber os juros; no segundo caso o amor é paciente e fecundo, e não procura o seu próprio interesse.
Para os individualistas o casamento é uma empresa que visa primordialmente o lucro; para nós é empresa que visa primordialmente a produção. O individualista sonha em obter no casamento um fruto e um descanso. Nós outros, na medida em que bem servimos nosso ideal, queremos a aventura fecunda dos grandes descobridores: os noivos partem juntos numa nau armada para descobrir, colonizar e cristalizar terras desconhecidas. Com uma diferença, enquanto os outros tiveram de batizar e de alfabetizar silvícolas que o acaso lhes entregara, os noivos terão de cuidar, lá para onde vão, dos ferozes aborígenes que eles mesmos geraram.
Ao contrário do que pretendem os individualistas, o casamento para nós é a fundação de uma pequenina pátria, cristal formador da pátria maior e comum. E se todos concordam que valha a pena dar a vida pela Pátria comum, em que por acaso nascemos, por que não haveremos de dar a vida pela pátria pequenina que nós mesmos fundamos?”
Claro e Escuro – Gustavo Corção