O DIVÓRCIO

divorcioOs legisladores contemporâneos, que se declaram partidários convictos dos mesmos princípios do direito, não podem defender-se contra as vontades pervertidas dos homens de que falamos, por mais que sinceramente o quisessem, e por isso concluem que é necessário contemporizar com a época e outorgar a faculdade do divórcio. É isto mesmo o que, por outro lado, também nos ensina a história. Passando em silêncio muitos outros fatos, basta recordar que nos fins do século passado se pretendeu legitimar por meio de leis a separação dos cônjuges, quando a França, envolvida em grandes perturbações, estava em estado de conflagração, quando a sociedade toda, tendo banido a Deus, se precipitara no seio da desordem. Muitos há neste tempo que desejam renovar estas leis, porque querem expulsar a Deus, e arrancar a Igreja do meio da sociedade humana, julgando estultamente que é em leis de tal natureza que deve procurar-se o remédio para a corrupção crescente dos costumes.

Seus males

Em verdade, é custoso ter necessidade de dizer quantas consequências funestíssimas encerra em si o divórcio. Pelo divórcio as alianças matrimoniais tornam-se instáveis, enfraquece-se o mútuo afeto, a infidelidade recebe perniciosos incitamentos, ficam comprometidas a proteção e educação dos filhos, proporciona-se ocasião de se dissolverem as sociedades domésticas, semeiam-se no seio das famílias os germes da discórdia, diminui-se e abate-se a dignidade da mulher, porque corre o perigo de ser abandonada, depois de ter servido às paixões do homem. – E como nada contribui mais para arruinar as famílias e para enfraquecer os Estados do que a corrupção dos costumes, fácil é de reconhecer que o divórcio é, sobretudo, o inimigo da prosperidade das famílias e dos povos, visto que, sendo a consequência dos costumes depravados, abre a porta, como a experiência o demonstra, a uma depravação, ainda mais profunda, dos costumes particulares e públicos. – Todos reconhecerão que estes males serão ainda muito maiores, se refletirem que, desde o momento em que o divórcio haja sido autorizado, não haverá freios bastantemente fortes para o manter dentro de limites fixos, que a princípio pudessem ser-lhe assinados. – É muito grande a força do exemplo, maior ainda a das paixões; e, graças a estes incitamentos, forçosamente deve suceder que, tornando-se cada dia mais geral e profundo o desejo infrene do divórcio, invada maior número de almas como uma doença que se propaga pelo contágio, ou à menira das águas acumuladas que, tendo triunfado dos diques que as sustinham, irropem por todas as partes.

Trecho da Encíclica Arcanum Divinae Sapientiae – Leão XIII