Marcel Lefebvre, depois de seis anos no Seminário de Libreville, de 1931 a 1937, onde ensinou francês, geografia, história, matemática, ciências físicas e biológicas, depois ciências sagradas aos jovens e antigos seminaristas, é finalmente nomeado para a selva no Gabão.
Fonte: Le Chardonnet n ° 368 – Tradução: Dominus Est
O espírito missionário
Com que espírito e com que método ele aborda os nativos? Eles são pagãos a serem convertidos ou novos cristãos a serem fortalecidos. A todos, ele prega em primeiro lugar o nome, a pessoa, a vida e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele se opõe ao naturalismo daqueles que não querem que falemos imediatamente de Jesus aos pequenos pagãos, mas apenas sobre as verdades naturais de Deus e da Criação, desprezando “a virtude misteriosa, infinitamente poderosa“, conversora, do nome de Jesus. Ele também condena o erro daqueles que afirmam que “antes de converter povos subdesenvolvidos, eles devem primeiro ser desenvolvidos e civilizados“, o que é precisamente impossível sem a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ao mesmo tempo cura as feridas infligidas à alma pelo pecado original: tal como a ignorância de Deus, ódio ao próximo, a preguiça no trabalho e a luxúria carnal, e ao mesmo tempo eleva a alma ao estado sobrenatural, que é chamado de estado de graça, ao infundir o perdão divino dos pecados.
E então, é claro, para Marcel Lefebvre, a missão é essencialmente a conversão de almas: uma conversão da adoração de ídolos, e portanto, de demônios, para a adoração verdadeira, de adoração ao verdadeiro Deus Uno e Trino. Para Marcel Lefebvre, a missão nada tem a ver com o diálogo inter-religioso. Entre esses pagãos, que, não obstante, acreditam em um Deus criador, a religião é distorcida e pervertida, pois a oração dirigida a Deus é substituída pelos encantamentos dirigidos ao demônio para obter dele a rejeição dos infortúnios, a inversão dos maus feitiços e a punição do próximo. O paganismo está impregnado de ódio. Não há nada a ganhar com ele, é uma anti-religião a ser demolida, a ser extirpada, a fim de reconstruir a religião do amor: respeito filial a Deus Pai, amor fraterno ao próximo. Esta conversão total e adequada logo se manifesta nos rostos dos nativos: a máscara da tristeza e do medo é arrancada, o sorriso floresce em rostos abertos e felizes, que refletem a paz interior das almas regeneradas pelo santo batismo.
Para Marcel Lefebvre, o ecumenismo é uma invenção europeia de uso de liberais doutrinários e sem dinamismo.
Em Dakar, o Arcebispo Lefebvre descobrirá os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, que os Padres Cooperadores Paroquiais de Cristo Rei virão pregar: uma síntese maravilhosa do caminho de conversão, ordenação e santificação das almas que constitui a obra missionária dos Igreja.
Fotos de Mons. Lefebvre missionário no Gabão
A missão em um país muçulmano
A atmosfera do Senegal é bem diferente daquela do Gabão: não apenas pela aridez do clima e da vegetação, mas sobretudo pelo caráter essencialmente anticristão do Islã. A existência, neste país arenoso e semidesértico, de ilhotas cristãs e de verdadeiras pequenas comunidades cristãs, muito vivas e ativas, é um milagre dos missionários católicos, os “Missionários do Espírito Santo” da Congregação de Claude Poullart des Places, e mais tarde, dos “Missionários do Santo Coração de Maria” de Paul Libermann. A congregação à qual Marcel Lefebvre e a maioria de seus padres no Senegal pertenciam foi formada a partir da fusão dessas duas congregações.
O Senegal de amanhã será cristão ou muçulmano? Como proteger as minorias animistas de Sine e Saloum contra o avanço inexorável do Islã em direção ao sul do país? Para essas duas perguntas, o Arcebispo missionário encontra a resposta adequada. Quando ele chegou a Dakar em 1947, a missão no país pagão estava meio morta. Mas logo, graças ao zelo inventivo de tal ferramenta missionária, regiões animistas inteiras se abriram para a pregação do Evangelho: chefes e reis animistas e polígamos entregaram seus filhos aos catequistas e eles próprios prometem receber o batismo antes de morrer. Novas estações missionárias foram estabelecidas, constituindo bastiões do Cristianismo que resistiriam ao ataque muçulmano. Quanto às grandes cidades onde reina o Islã, novas igrejas serão construídas por lá, importantes para marcar a presença de Cristo, e novas escolas católicas serão construídas, onde até 20% de alunos muçulmanos serão admitidos. A elite muçulmana local é, dessa forma, afetada pelo cristianismo, mesmo que o batismo de jovens fosse impossível por causa da oposição de suas famílias.
Nisto, Mons. Lefebvre segue a encíclica Evangelii praecones do Papa Pio XII, de 2 de junho de 1951, que evoca a “utilidade” das escolas e colégios católicos nos países de missão: a sua utilidade provém sobretudo “das relações oportunas que criam entre missionários e não cristãos de todas as classes sociais”, e do desejo sentido pela juventude “ainda maleável como cera, de compreender, valorizar e abraçar a doutrina católica.” O Pontífice continua neste ímpeto: “Estes jovens mais instruídos, serão amanhã chefes de Estado; as massas os seguirão como seus guias e mestres. Assim, o Apóstolo das nações apresentou à elite mais culta, a sublime sabedoria do Evangelho quando, perante o Areópago, anunciou o Deus desconhecido. Se após esses contatos apenas alguns se entregarem a Cristo, é um grande número que sentirá uma atração secreta pela beleza superior desta religião e pela caridade daqueles que a professam.”
Fotos de Mons. Lefebvre missionário no Senegal
Certamente, Mons. Lefebvre foi capaz de fazer com que certos membros da elite muçulmana senegalesa apreciassem e respeitassem a religião católica, mas seria incompreensível seu pensamento, suas intenções e até mesmo seus objetivos limitar a isso a “utilidade” que esperava de suas escolas e faculdades católicas no Senegal. Há, além disso, por trás das considerações do Papa Pio XII acima mencionadas um pessimismo discreto, uma resignação indisfarçável ao estado pagão ou não católico das regiões onde trabalham seus missionários. Esse não é, de modo algum, o espírito de Mons. Marcel Lefebvre! Seu objetivo é constituir uma elite cristã e católica, nem mais nem menos, que será chamada a participar no governo do país, precisamente pela sua competência e pelas suas virtudes cristãs.
Em seu sermão de jubileu sacerdotal de 29 de setembro de 1979, Mons. Lefebvre evoca a figura do senegalês católico M. Forster, escolhido por seus pares para ser o tesoureiro geral do país na época da independência, justamente por sua competência e, principalmente, de seu altruísmo cristão.
A fé do Arcebispo em um futuro cristão de seu território de missão é completa e decidida. Não há dúvida, não há medo. Ele sabe que, surgido de seus bastiões do cristianismo, seus leigos católicos vigorosamente moldados em virtude e cuidadosamente armados com uma sólida doutrina, serão capazes de assumir altas funções em todos os setores da vida econômica e política do país. Graças a eles, o país será conduzido, com ou sem palavra, ao Reinado Social de Cristo Rei, que é o objetivo integral da missão. Os senhores não encontrarão isto nas encíclicas dos papas.
Para um clero nativo
O que aí encontramos, sobretudo com a propagação do comunismo e das suas conquistas na China e, tememos também, na África, é a necessidade de que a Igreja se estabeleça com firmeza nos países de missão, para que, sucedendo a independência e com ela a expulsão dos missionários, a Igreja possa subsistir graças ao seu clero e hierarquia autônomos.
Coisas muito razoáveis, pensa Marcel Lefebvre, o primeiro a denunciar o perigo de um conluio entre o comunismo e o Islamismo na África, dadas as reivindicações de independência e das primeiras independências de fato. O caso da Guiné Francesa, onde o ditador terrorista Sékou Touré impôs a camisa de força comunista, é emblemático a esse respeito.
Fotos de Mons. Lefebvre missionário na África francófona
Consequentemente, toda vez que o Delegado Apostólico Lefebvre ia a Roma para relatar ao Papa Pio XII suas realizações, ele falava sobre o comunismo e do clero nativo. Marcel Lefebvre escutava obedientemente o Pontífice expressar suas ansiedades … e pronto! Depois, com a sua vozinha tímida, mas com toda a sua fé destemida, com toda a sua firmeza apostólica, citava o incrível número de novas congregações religiosas de padres, irmãos ou freiras que está levando para a África, a emulação que este influxo suscita entre os vicariatos apostólicos e o inegável fortalecimento que traz às jovens comunidades cristãs.
“Santíssimo Padre, o senhor acredita que a missão é uma coisa do passado na África? E se nossos missionários forem expulsos por regimes totalitários, não voltarão mais tarde? Não, Santo Padre, a África sempre precisará de missionários!” E o Papa leu com atenção os relatórios, as espantosas estatísticas do seu Delegado, aprovando silenciosamente os princípios que inspiram a sua ação, cujos bons frutos demonstram a falsidade das teorias idealistas dos prelados da Propaganda Fide.
“Escute, Santo Padre, o que Mons. Constantini, Secretário da Sagrada Congregação para a Propagação da Fé, acaba de me dizer: Monsenhor, mas o senhor tem que saber se adaptar! Em breve, serão os africanos que virão nos evangelizar, na Europa! Adaptar-se, Santo Padre, o que isso significa? Vamos perder o espírito missionário?” O Papa sorriu, uma verdadeira simpatia é estabelecida entre ele e seu Delegado. “Ele me apoiou”, disse Mons. Lefebvre, “ele defendeu meus princípios!”
D. Bernard Tissier de Mallerais