Quem pode e deve beneficiar deste respeito?
1º – Os educadores, isto é, os pais e os professores, têm direito ao respeito;
2º – Devem fazer-se respeitar;
3º – Devem inspirar o respeito por tudo aquilo que o merece.
Artigo I – Os educadores têm direito ao respeito
Por que é que os pais têm um direito especial ao respeito de seus filhos?
Porque são, mais que qualquer outra pessoa, os representantes de Deus na obra da formação de seus filhos.
Este direito é sancionado por Deus?
Sim, e da maneira mais formal.
“Aquele que ofende seu pai ou sua mãe deve ser condenado à morte.” (Ex. XXI, 15)
“Aquele que maldiz seu pai e sua mãe será punido de morte.” (Ex. XXI, 17)
“Que o olho que ofende seu pai… seja arrancado pelos corvos das torrentes.” (Prov. XXX, 17)
Por que merecem os padres um respeito particular?
Porque o papel que desempenham na educação é sempre necessariamente ungido do caráter sagrado com o qual prouve Deus marcá-lo no dia da sua ordenação.
“Honrareis a Deus de toda a vossa alma, e reverenciareis os padres.” (Ecl. VII, 81)
“Este mesmo homem que vai agora subir à cátedra da sua sala de trabalho ou da sua aula, subiu esta manhã como sacrificador ao altar do vosso Deus, e aqueles lábios, que vos ensinam os rudimentos das letras, pronunciaram palavras às quais o mesmo Deus obedeceu, dignando-se descer entre as suas mãos.” (Mgr. Baunard, Deus na escola, t. I, p. 86-87)
Os professores têm direito ao respeito?
Sim.
“O preceptor tem direito a um grande respeito. Eu seria um ingrato, se não o incluísse no número daqueles que mais amo e respeito.” (Sêneca)
“O duque de Borgonha, num dos seus arrebatamentos terríveis, dos quais S. Simão nos conta que faziam tremer tudo em volta de si, disse um dia a Fénelon:
– Não, não, Senhor, sei quem sou e quem vós sois!
Sabe-se como Fénelon lhe fez ver que não conhecia um nem outro, mandando-o depois para o seu lugar e não lhe perdoando senão a pedido de Luís XIV, do filho deste e de M.me de Maintenon.” (Mgr. Dupanloup, Da educação, t. II, p. 528)
Artigo II – Os educadores devem fazer-se respeitar
“O educador deve levar a sua abnegação até se desinteressar do reconhecimento… Mas no respeito é que não pode renunciar.” (Mgr. Dupanloup, Da educação, t. II, p. 527)
Em que sentido se deve tomar esta obrigação: os educadores devem fazer-se respeitar?
Os educadores devem fazer-se respeitar:
1º – Pessoalmente;
2º – mutuamente.
Como conseguirão os educadores fazer-se respeitar?
1º – Far-se-ão respeitar pessoalmente, tendo uma vida irrepreensível, estimável e venerável, especialmente nas suas relações com as crianças.
2º – Far-se-ão respeitar pessoal e mutuamente, evitando, reprimindo e corrigindo os defeitos que atinjam mais ou menos o respeito a quem têm direito.
Quais são os defeitos mais particularmente nocivos ao respeito?
São:
1º – A presunção.
2º – A familiaridade.
3º – A crítica.
A presunção e a familiaridade atingem especialmente os pais; a crítica tem, muitas vezes, por objeto, os padres e os professores.
Quais são os processos ordinários dos presumidos?
1º – É o de “causar assombro” aos pais.
“Durante a conversa e sem dar mostras disso, um deles faz uma pergunta de álgebra, que deixa os autores dos seus dias maravilhados e pensativos.
Em todos os liceus, em todas as instituições, há, com efeito, dessas tradições: um certo número de enigmas e de qui pro quos de erudição, de curiosidades requintadas, de problemas extravagantes, que giram nas classes e que os estudantes recolhem com cuidado.
Naturalmente, o pai e a mãe ficam admirados, e o nosso jovem ri-se da sua estupefação. Formem um juízo do seu triunfo! É ele que lhes apresenta questões. Como ele ri, prazenteiro ou trocista, quando se prestam a este exame mortificante.” (Nicolay – As crianças mal educadas, p.26)
2º – É o de fazer alarde de ciência
“Segunda-feira estive às voltas, durante toda a manhã, com um demônio dum co-seno e com um maldito dum logarítimo, mas consegui resolver a minha equação. ” (Nicolay, ob. cit. p.27)
E, fingindo recordar uma lei algébrica, dirá com convicção e volubilidade:
“O coeficiente do segundo termo é a soma dos segundos termos dos fatores binómios, ou a soma das raízes com sinais contrários.” (Corneille, O Mentiroso, 1,16)…
Que fazem muitas vezes os pais?
Muitas mães, penetradas de admiração ou lisonjeadas no seu orgulho, não deixam de desculpar o pequeno vaidoso:
Vem uma visita. A mãe exclama:
– Realmente! perguntam-se agora aos colegiais coisas terríveis! Para mim é chinês! Não compreendo nem uma palavra! Mas o rapaz gosta… É verdade que ele é esperto… Ah! se não houvesse meninos bonitos nas aulas… Mas ele não é desses estudantes que adulam os professores, pelo contrário!… Mas não gosta de injustiças e, creio bem, é capaz de dizer uma insolência num momento de exaltação… Mas, daí a pouco, esqueceu tudo.
Conclusão: é um cábula e um pretensioso,
O pai, orgulhoso com tanta precocidade, diz diante do filho, batendo nas coisas dum velho amigo:
– Decididamente, meu caro, nós já não somos do nosso século! Nessa época, a gente reconhece a sua inferioridade, deve-se confessar: julgo que somos bem ignorantes!
E abaixando um pouco a voz:
– Aqui para nós, ao lado destes mafarricos, parecemos velhos caturras.
(Nicolay, ob. cit. p. 27-28.)
Ser-lhe-á fácil meter tudo na ordem e salvaguardar o respeito, mesmo nos espíritos destes pedantes.
1º – Poderiam primeiramente fazer-lhes notar que as crianças vindas mais tarde, num mundo mais aperfeiçoado, aproveitam necessariamente descobertas e invenções que seus pais não conheceram…, e que será assim, enquanto os pais nascerem antes dos filhos.
2º – Poderiam, em seguida, mandar fazer ao pequeno vaidoso, que se faz admirar pelo seu palavreado e ares de ciência, uma página dum ditado simples… Seria o bastante, pensamos nós, esta picada de alfinete numa bexiga de vento.
3º – E, admitindo-se que seja real a superioridade intelectual da criança, poderiam fazer-lhe compreender que o bom sendo, o juízo, a idade, a experiência são muitas vezes preferíveis para a organização e maneira de proceder na vida a esse verniz literário e científico, que não deveria razoavelmente servir senão para formar a alma e prepará-la para o futuro.
Como é que a familiaridade prejudica o respeito?
A familiaridade manifesta-se pela sem-cerimonia com os superiores. Esta sem-cerimônia não será a princípio mais que uma travessura, mas degenerá muito depressa em insolência, arrastando consigo, no seu curso de morte, a obediência e o respeito.
Exemplo:
“Aos vintes anos, o filho de um general que nós conhecemos, tratava sua mãe por ‘bichinha’ e, no seu meio, parecia isso muito encantador!” (Nicolay, ob. cit., p. 108-109. passim.)
Que é preciso fazer para evitar esta familiaridade?
É preciso:
1º – Não tolerar palavras que traduzam uma diminuição do respeito;
2º – Não permitir partidas;
3º – Não suportar jamais que a criança tome ares de brincar quando se trata de coisas sérias, e quando possa haver desprestígio da autoridade.
Se, por exemplo, os pais querem punir algum pequeno delinquente, não devem ceder, por mais diligências que ele faça para escapar ao castigo, tentando mesmo levar o caso para rir; é o expediente a que ele recorre para desarmar a severidade daqueles de quem depende, e os pais serão pouco atilados se se deixarem cair nos laços em que a criança procura prendê-los.
Qual é a origem ordinária da falta de respeito em relação aos padres e aos professores?
É a crítica.
Um missionário deu um dia a entender, numa conferência, que talvez nem todas as pessoas piedosas soubessem corretamente o De profundis. Uma menina de treze a quatorze anos acha a insinuação descortês e comunica esta sua impressão à preceptora.
E eis a resposta que obteve:
– Semelhante a certos médicos, que fingem encontrar gravidade em todas as doenças, para se darem ares duma competência profissional extraordinária, certos pregadores têm o prazer de rebaixar os seus ouvintes, para fazerem crer que produzem um bem imenso; que esses mesmos ouvintes têm necessidade deles; e que muitos teriam a lamentar, se por ali não houvessem passado. (autêntico)
A menina fizera uma observação de mau gosto.
A preceptora faltara a todos os seus deveres, corroborando a opinião de sua discípula, em vez de reprimir energicamente a falta em que esta incorrera. Ambas faltaram ao respeito.
Por quem devem os educadores fazer-se respeitar?
Porque só o respeito produz, numa medida conveniente e sob forma útil, a atenção, a docilidade e o reconhecimento, sem os quais não há educação completa.
Qual é a importância da atenção?
Para ser susceptível de formação, a criança deve identificar-se com os que estão encarregados de lhe dar, o que se não pode fazer sem que ela seja, primeiro que tudo, atenta.
Esta atenção põe-se geralmente em prática?
Há certas crianças que não se dignam escutar os pais; que não prestam a mínima atenção ou mostram não prestar atenção alguma às recomendações paternais ou maternais.
E, se o superior desconsiderado insiste, recebe respostas, como esta:
– Ah! Eu não tinha compreendido!
Se isto for verdade, o respeito calcou-se aos pés. Se não for verdade, o desprezo duplica-se com uma mentira hipócrita.
A docilidade é também tão importante como a atenção?
É a sua consequência lógica e natural complemento.
E, como ela não é mais que a predisposição do espírito, do coração e da vontade para se deixar instruir, animar e conduzir, é a base necessária e a condição indispensável de toda a educação.
Que meios se devem empregar para obter a docilidade?
É preciso infundir, com abundância, no espírito das crianças, a humildade e a desconfiança pessoal. É preciso acostumá-las a dizerem consigo: “Os outros não são da minha opinião, posso enganar-me e proceder mal“. E quando se trata dos pais: “A minha mãe falou, acabou-se a questão“.
E, quando se trata do padre, especialmente no exercício do seu ministério: “O senhor abade está no lugar de Jesus Cristo; longe de mim o pensamento de o censurar, ou de dissimular“.
É frequente esta docilidade?
Existe, excepcionalmente. Muitas vezes os conselhos, as recomendações e até as ordens dadas pelos pais ou por outros superiores são discutidas, julgadas e criticadas por cabecinhas de dez, doze ou quinze anos.
Se esses conselhos, recomendações ou ordens estão em harmonia com as opiniões, gostos ou desejos destes pequenos príncipes, estes aceitam-nas, “delas fazem escabelo” como se dizia no castelo de Versalhes. Mas se não agradam, são rejeitadas com desdém.
Qual é o grande inimigo da docilidade?
É o mau espírito.
Não tendes, ás vezes, notado, nos lábios e nos olhos de certas crianças, esse ar de piedade desdenhosa que traduz, ao mesmo tempo, a surpresa de espírito, o desprendimento do coração e a resistência da vontade?
Temo-lo notado a miúdo, muito a miúdo, por exemplo, nas crianças do patronato.
Somos forçados a dizer que crianças desse jaez só aí se demoravam o tempo bastante para se darem a conhecer; porque nunca suportamos, nas nossas obras, o mau espírito, tal era a convicção que tínhamos de que isso representava a ruína.
E nunca esquecemos o ar de surpresa duma mãe de família que nos perguntava, um dia, que é que tínhamos a reprovar em sua filha, para a afastarmos dum agrupamento de que ela fazia parte. Era, efetivamente, uma menina de dezesseis anos, inteligente, agradável à primeira vista, uma companhia amável, e mesmo piedosa; mas era também um espírito revoltado, um mau espírito em toda a acepção da palavra, capaz de lançar no grupo o péssimo fermento de todas as desordens. (Autêntico).
Quais são as fórmulas ordinárias do mau espírito?
São múltiplas: algumas vezes chora; também responde; chega a discutir; resmunga com frequência; critica, principalmente; atribui a mesquinhas razões as palavras e atos, a direção dos superiores; nunca se submete completamente; numa palavra, não faz senão a sua vontade.
Adquire assim o hábito de julgar, de resmonear e de dispensar o auxílio dos outros; caminha em falso; adquire costumes funestos; perde-se.
E, já crescido, continua a fazer o que sempre fizera: não aceita instruções, nem jugo, nem direção. Os desgraçados (não se julgue que a palavra é forte demais) que caem neste defeito personificam o que se chama “a vaidade dos tolos”.
Lembremo-nos do que diz o Evangelho:
“Se um cego pretender conduzir um outro cego, ambos cairão na cova.” (Mat. XV, 14)
Como se pode tentar a cura do mau espírito?
1º – Convencendo da malignidade desse defeito a criança que dele é vítima: o mau espírito arruína a docilidade, sem a qual não há formação possível, seja no que for; o mau espírito é inconciliável com a serenidade intelectual, mãe dos bons estudos; o mau espírito faz cometer um grande número de pecados, cuja gravidade é sempre muito difícil de negar.
2º – Atacando o mau espírito na sua causa especialmente eficiente: ora é o orgulhoso, ora a arrogância, o rancor, o mau caráter, ora a fraqueza, que se deixa levar, ora um e outro, ou são uns e outros destes fatores reunidos.
E, embora a correção destes defeitos seja particularmente árdua, armando-se de espírito de lei, elevando-se as vistas da criança, pode-se e deve-se esperar, com a graça de Deus, um resultado pelo menos satisfatório.
O educador tem direito ao reconhecimento?
Sim, o educador tem direito ao reconhecimento, tanto como ao respeito, de que é a flor do perfume.
“Educar crianças, trabalhar para as tornar boas, sensatas, instruídas, sábias e felizes; estar ao serviço das necessidades, das fraquezas , das misérias espirituais da humanidade, eis o que merece, mais que tudo no mundo, o reconhecimento e respeito; eis o que demanda um zelo, um desinteresse, uma abnegação sem medida. e faz branquear os cabelos antes do tempo; eis o que faz cair da fronte do homem o suor mais fecundo e mais dignificador; eis o que absorve a dedicação e as forças mais elevadas.” (Mons. Dupanloup, ob. cit., t.II, p. 499-460)
O educador pode contar com o reconhecimento dos seus alunos?
A educação é uma missão ingrata!
1º – Tudo o que se faz pelas crianças lhes parece uma obrigação, e muitas raras vezes sentem a necessidade do reconhecimento.
2º – De mais, a obrigação, que se tem de castigar as crianças, quando se lhes quer formar o caráter, ofende-as, fere-as, torna-as reservadas.
O educador deve subordinar os seus esforços ao reconhecimento que excita no coração das crianças?
Não.
Deve elevar-se mais alto.
Deve cumprir o seu dever com desinteresse.
Deve recordar-se desta verdade muito esquecida: “Que no mundo nunca se é grande por si mesmo, mas sempre pelos outros“. Deve imitar a natureza, que nos dá sem condições os seus incomparáveis tesouros.
Artigo III – Os educadores devem inspirar o respeito por tudo aquilo que o merece
“Na educação, sobretudo, as faltas de respeito são as mais deploráveis que se podem encontrar“
(Mons. Dupanloup, ob. cit. t. II, p. 529)
Quais são as coisas e as pessoas que a criança bem educada deve habituar-se a respeitar?
São:
1º – Os seres inferiores da criação;
2º – Os bens de outrem;
3º – Os velhos;
4º – Os pobres;
5º – A mulher;
6º – As coisas religiosas. (F. Kieffer, A autoridade, p. 340 e seg.)
Em que consiste o respeito pelos seres inferiores da criação?
Consiste em não destruir uma planta ou uma flor pelo único prazer de destruir; em não matar sem razão um inseto ou uma ave; em não maltratar ou fazer sofrer inutilmente os animais que nos servem; uma palavra, em ser o rei da criação sem se converter em tirano.
Como se pode habituar a criança a respeitar os velhos?
1º – Reprimindo nela a tendência natural que a leva a não ver senão as fraquezas da velhice e a troçar delas.
“Lestes, na vossa história sagrada, a desgraça daquelas quarenta e duas crianças que, saindo de Betel – vinham talvez da escola – insultaram o profeta Eliseu: “Sobe, careca; sobe, careca!. Foram amaldiçoadas pelo homem de Deus e, depois, devoradas por ursos saídos do bosque vizinho.”
(Mgr. Baunard, Deus na escola, t. I, p.88)
2º – Ajudando-a considerar no velho aquilo que há de grande, de nobre e de belo.
“É preciso que se ajude a criança a adivinhar no velho débil a grandeza e a majestade dum passado desaparecido; é preciso que se lhe ensine a adivinhar, no descaimento do corpo, as longas fadigas suportadas; nos passos lentos, nos gestos comedidos e na palavra calma, a grande experiência acumulada em longos anos. Um pouco mais tarde, ao ver o velho inclinado para a tumba, é preciso que o jovem adivinhe o mistério e a profunda melancolia do destino humano, e, por pouco que o espírito cristão se concentre, o velho que está prestes a desaparecer será, para todos, um traço de união entre as novas gerações e as gerações desaparecidas, a viva e concreta expressão das palavras dos Livros santos: Não temos no mundo uma morada estável.” (Kieffer, ob. cit. p. 345)
Como se pode formar na criança o respeito pela mulher?
1º – Preservando-a de tudo o que, nas reuniões, leituras, conversas ou distrações, a leve a não ver na mulher senão o instrumento dum prazer de ordem inferior.
2º – Repetindo-lhe que a mulher é sua mãe, é a sua irmã, é a sua futura companheira da vida.
Catecismo da Educação – Abade René de Bethléem