Em sentido místico, podemos considerar que o parto da bem-aventurada Virgem Maria significa o parto da alma penitente, conforme a Escritura (Is 26, 17): Assim como a que concebeu, quando está próximo ao parto, confrangendo-se, dá gritos no meio das suas dores, assim somos nós, Senhor, diante da tua face.
A este parto convém místico convém o lugar do nascimento de Cristo, Belém. Diz São Bernardo: “Si também fores Belém pela contrição do coração, de modo que tuas lágrimas sejam teu pão de dia e de noite, e esta refeição te proporcione alegria contínua (Belém interpreta-se como a casa de pão), e se fores Judá pela confissão e cidade de David pelas obras de satisfação, nascera Cristo em ti, e encherá teu coração de alegria, hoje na graça, amanhã, na glória”.
Deve-se advertir que, depois do parto da penitência, a alma penitente deve envolver-se com os panos da caridade contra a torpeza do pecado, que consiste na desordem interior da alma;
Deve inclinar-se ao amor da humildade, e contra a soberba, que é uma aversão a Deus;
Deve ser colocada na creche da austeridade por uma penitência proporcionada, contra o deleite do pecado, que é uma orientação ao mal.
Quanto ao primeiro, aquilo das Escrituras (Pr 10, 12): a caridade cobre todas as faltas. Porém, devemos nos envolver com este pano por todas as partes: primeiro, a fim de amar a Deus que está acima de nós; segundo, para amarmos a nós mesmos; terceiro, para amar ao que está junto de nós, isto é, ao próximo; quarto, para amar o que está abaixo de nós, isto é, nosso corpo. Estes quatro devem ser amados com caridade, como diz santo Agostinho.
Quanto ao segundo, diz o salmista (Sl 50, 19): não desprezarás, ó Deus, um coração contrito e humilhado. São Bernardo: “A humildade nos merece a estima de Deus, nos submete a Deus, nos atrai a complacência de Deus, como disse a bem-aventurada Virgem (Lc 1, 48): porque lançou os olhos para a baixeza da sua serva”.
Quanto ao terceiro, aquilo do Evangelho (Lc 3, 8): Fazei, portanto, frutos dignos de penitência. Comenta São Bernardo: “Fugi a voluptuosidade, porque nela está a morte, emboscada nas portas do deleite. Faze penitência porque por ela se aproxima o reino de Deus. É isso o que prega o estábulo, clama a mangedoura, dizem aqueles membros infantis, anunciam suas lágrimas e vagidos”
(De humanitate Christi)
Meditationes ex operibus S. Thomae – Pe. Mézard, O.P.
Tradução: Permanência