O ensinamento dos Padres da Igreja
Não é vã curiosidade, mas precaução salutar proclamar a partir da altura do púlpito certas verdades que servem maravilhosamente para conter a indolência de libertinos, que estão sempre falando sobre a misericórdia de Deus e sobre o quão fácil é converter, aqueles que vivem mergulhados em todos os tipos de pecados e estão profundamente dormindo na estrada para o inferno. Para desiludi-los e despertá-los de seu torpor, hoje vamos examinar essa grande questão: O número de cristãos que são salvos é maior que o número de cristãos que são condenados?
Almas piedosas, vocês podem sair; este sermão não é para vocês. Seu único objetivo é conter o orgulho dos libertinos que tiram o santo temor de Deus de seus corações e unem forças com o diabo que, de acordo com o sentimento de Eusébio, condena as almas tranquilizando-as. Para sanar esta dúvida, vamos colocar os Padres da Igreja, tanto os gregos quanto os latinos, de um lado; por outro lado, os mais doutos teólogos e historiadores eruditos, e vamos colocar a Bíblia no meio para que todos possam ver. Agora não ouçam o que eu vou dizer para vocês – porque eu já lhes disse que eu não quero falar por mim mesmo ou decidir sobre o assunto – mas escutem o que essas grandes mentes têm para lhes dizer, eles que são os faróis na Igreja de Deus para dar luz aos outros, para que eles não percam a estrada para o céu. Desta forma, guiado pela tripla luz da autoridade, fé e razão, seremos capazes de resolver esta grave questão com certeza.
Note bem que não há questão aqui da raça humana como um todo, nem de todos os católicos tomados sem distinção, mas apenas dos católicos adultos, que têm livre escolha e são, portanto, capazes de cooperar na grande questão da sua salvação. Primeiro, vamos consultar os teólogos reconhecidos como os que examinam as coisas com mais cuidado e não exageram no seu ensino: vamos ouvir dois mestres cardeais, Caetano e Belarmino. Eles ensinam que o maior número de cristãos adultos são condenados, e se eu tivesse o tempo necessário para apontar as razões em que baseiam-se, você mesmo convencer-se-ia disso. Mas vou limitar-me aqui a citar Suarez. Após consultar todos os teólogos e fazer um estudo diligente do assunto, ele escreveu: “O sentimento mais comum que se percebe é que, entre os cristãos, há mais almas condenadas do que almas salvas.”
Adicionando a autoridade dos Padres gregos e latinos ao dos teólogos, e descobre-se que quase todos eles dizem a mesma coisa. Este é o sentimento de São Teodoro, São Basílio, São Efrém, e São João Crisóstomo. Além do mais, de acordo com Baronius, esta era uma opinião comum entre os Padres gregos, pois esta verdade foi expressamente revelada a São Simeão Estilita, e que após esta revelação, para garantir a sua salvação, ele decidiu viver em pé em cima de um pilar por 40 anos, exposto ao tempo; um modelo de penitência e santidade para todos. Agora, vamos consultar os Padres latinos. Você vai ouvir São Gregório dizer claramente: “Muitos alcançam a fé, mas poucos o reino celestial”. São Anselmo declara: “São poucos os que são salvos.” Santo Agostinho afirma ainda mais claramente: “Portanto, poucos são salvos em comparação com os que são condenados.” O mais terrível, porém, é São Jerônimo. No final de sua vida, na presença dos seus discípulos, ele disse estas palavras terríveis: “De cem mil pessoas cujas vidas sempre foram ruins, você vai encontrar provavelmente uma digna de indulgência”.
O pequeno número daqueles que são salvos – São Leonardo de Porto Maurício