O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

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Fonte: Hojitas de Fe, 94. | Seminário Nossa Senhora Corredentora FSSPX
Tradução: 
Dominus Est

Quem nunca ouviu contar, alguma vez, a história daquele irmão leigo que, entrando na religião para servir a Deus, mas não podendo fazê-lo como os outros monges, tinha uma vida interior sumamente simplificada?

Durante o seu trabalho, não sendo capaz de ter pensamentos elevados sobre Deus, limitava-se a dizer repetidamente: “Creio em Deus, espero em Deus, amo a Deus”. Quando ele se retirava para a igreja, não sabia como meditar como os outros religiosos, e por essa razão continuava recitando sua jaculatória favorita: “Creio em Deus, espero em Deus, amo a Deus”. Depois de algum tempo, aquele irmão, que em nada brilhara de especial durante sua vida, morreu e foi enterrado no cemitério da comunidade. E qual não foi a surpresa dos religiosos quando se deram conta de que, em cima do túmulo do humilde leigo, brotara uma flor de extrema beleza. Uma vez crescida a flor, perceberam que tinha três pétalas, e em cada uma das pétalas estava escrito com letra de ouro um dos três lemas do humilde irmão: “Creio em Deus, espero em Deus, amo a Deus”. Admirado pelo prodígio, o superior ordenou que cavassem para ver de onde brotava a flor; e então se pode ver que a flor estava enraizada no coração do humilde irmão leigo.

Algo semelhante acontece com o Sagrado Coração de Jesus. A história testemunha a repentina aparição de belíssimas flores: • de Apóstolos que pregaram o nome de Jesus até os confins da terra; • de Virgens que lhe consagraram toda sua vida, e de Mártires que não hesitaram em sacrificá-la por ele; • de Doutores que ensinaram aos povos as verdades divinas; • e de um sem-número de almas que, amando e confessando a Cristo, começaram a viver cristãmente. E essas flores começaram a crescer de tal forma que toda a sociedade se viu transformada e, acabou por aceitar as leis do divino Crucificado. Pois bem, se nós, por uma santa curiosidade, quiséssemos descobrir onde se encontram as raízes dessas flores, veríamos que estão no Sagrado Coração de Jesus.

1º Coração de Jesus fonte da religião católica.

Toda a religião católica tem sua razão de ser e sua origem no Coração de Jesus, isto é, no infinito amor que esse Coração tem por Deus e no infinito amor que esse Coração tem por nós.

1º O amor que o Coração de Jesus tem por Deus: já que o Verbo encarnou antes de tudo para reparar a ofensa que o pecado havia feito a seu Pai, e para tributar-lhe a glória que toda a criação lhe deve; e esta glória lhe é dada aos impulsos de um amor infinito, ainda que seja um amor que assume a forma humana e, por isso, tem a sua sede num coração humano, de carne, o Coração de Jesus.

2º O amor que o Coração de Jesus tem por nós: pois o Verbo também encarnou para nos dar vida e vida abundante; e esta vida nos dá também impulsos de seu amor, do amor que reside em seu sagrado peito, desse amor que nunca deixou de arder por nós, e fez o Coração que assim o contém sucessivamente misericordioso, paciente, generoso em dons, compassivo, amante até o extremo, perdoador de faltas e de inimigos.

Esse Sagrado Coração, esse amor divino em sua manifestação humana, é realmente o resumo de Deus encarnado, de Deus que, sendo caridade, fez-se homem por nós.

E para que assim o entendamos, a Igreja quis escolher como evangelho na festa do Sagrado Coração o episódio da perfuração pela lança que Jesus recebe na cruz depois de morto, chaga que lhe abriu o coração e de onde manou sangue e água. Todos os Padres da Igreja veem neste acontecimento um sentido típico de altíssima importância: o nascimento da Igreja a partir do Lado ou do Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Com efeito, a Sagrada Escritura nos conta como, para criar a mulher, Deus mergulhou o primeiro homem em um profundo sono, um sono em que Adão percebia o que Deus estava fazendo com ele; e já dormindo, o Senhor tirou carne e osso do seu lado, e com isso formou o corpo da mulher, que depois apresentou a Adão para ser uma ajuda totalmente semelhante a ele. Do mesmo modo, dizem os Santos Padres, a Igreja, que devia ser a nova Eva, devia ser formada como a primeira a partir do novo Adão, que é Cristo; e o momento de ser formada foi o momento em que Nosso Senhor Jesus Cristo, já adormecido na Cruz, recebeu a lança que lhe abriu o lado e o Coração, e do qual verteram sangue e água, isto é, os dois sacramentos pelos quais somos incorporados em Nosso Senhor Jesus Cristo: a água, figura de batismo e o sangue, figura da Eucaristia.

Desta maneira, toda a Igreja tem suas raízes e sua origem no Coração de Jesus: toda ela é fruto do imenso amor de Nosso Senhor, e toda ela foi formada e continuará a ser com as graças e os sacramentos que brotam do Sagrado Coração de Jesus.

2º A devoção ao Coração de Jesus supõe imitação e reparação.

Assim, pois, a Igreja quer que, nesta festa e solenidade do Sagrado Coração, contemplemos o infinito amor do qual nós próprios somos frutos. Mas também quer nos incentivar a duas coisas: a imitação e a reparação.

1º A imitação. Sendo todos nós os filhos do amor que arde no Coração de Jesus, devemos imitá-lo nesse mesmo amor: “Amai-vos uns aos outros… Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.

Como a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo é esclarecida se for considerada, nos próprios Evangelhos, sob a luz e a ótica do Sagrado Coração!

  • O próprio Nosso Senhor se propõe como modelo de todas as virtudes: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós”. Pois bem, para aprender a fazer como Jesus fez, não há melhor maneira do que entrar e permanecer em seu Sagrado Coração, segundo aquelas outras palavras: “Aprendei de mim, pois sou manso e humilde de coração”.
  • Na Última Ceia, exorta seus apóstolos a permanecer Nele, e Ele neles: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”. Estas palavras são um claro apelo a uma perfeita intimidade com Ele, ou, como diria São Paulo, a uma total identificação e compreensão de sentimentos: “Tende em vossos corações os mesmos sentimentos que Jesus Cristo tinha no seu”.

2º A reparação. Assim nos pedia o mesmo Coração de Jesus ao aparecer a Santa Margarida Maria:

“Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim”.

O amor infinito que arde no Coração de Jesus não é correspondido pela maior parte dos homens. Nós, como fiéis amantes do Sagrado Coração de Jesus, teríamos que nos sentir consternados ao ver Deus tão ofendido e ultrajado, sua graça pisoteada, suas leis transgredidas, seus dons desprezados; do mesmo modo, ver tantas almas a caminho da sua condenação eterna.

E por essa razão, a devoção ao Sagrado Coração nos é apresentada como um meio de oferecer ao amor de nosso Senhor um digno desagravo por tanta ingratidão, esquecimento e desprezo.

Conclusão

Nesta festa do Sagrado Coração de Jesus, e durante todo o mês de junho, que lhe é especialmente consagrado, peçamos a Nosso Senhor que nos comunique uma ardente devoção ao seu Sacratíssimo Coração; uma devoção tal que, inundando-nos cada vez mais de seu santíssimo amor, estimule-nos a uma perfeita imitação de suas virtudes, especialmente aquelas que mais nos tornam parecidos com o Sagrado Coração, e nos faça sentir a necessidade da reparação, pelo oferecimento de tudo o que há de penoso em nosso dever de estado, e pela prática de penitências voluntárias.

E para nos encorajarmos a adquirir esta devoção, não há nada mais oportuno do que recordar as excelentes promessas que o Sagrado Coração fez a Santa Margarida Maria para aqueles que lhe sejam devotos:

1º Reinarei apesar de meus inimigos e daqueles que a ele se opõem.

2º Darei aos meus devotos todas as graças necessárias ao seu estado.

3º Estabelecerei a paz em suas famílias.

4º Eu os aliviarei em suas fadigas.

5 Abençoarei todos os seus empreendimentos.

6º Eu os consolarei em suas tristezas.

7º Serei seu refúgio durante a vida e sobretudo na hora da morte.

8º Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte e o infinito oceano da minha misericórdia.

9º As almas tíbias tornar-se-ão fervorosas.

10º As almas fervorosas elevar-se-ão a grande perfeição.

11º Abençoarei as casas nas quais minha imagem seja exposta e honrada.

12º Não deixarei morrer eternamente nenhum devoto que se tenha consagrado ao meu divino Coração.

13º Derramarei a unção da minha caridade nas Comunidades religiosas que se colocam sob minha especial proteção, e serei sua salvaguarda em suas quedas.

14º Aqueles que trabalham na salvação das almas o farão com êxito, e conhecerão a arte de mover os pecadores mais endurecidos, se tiverem uma terna devoção ao meu Coração divino e trabalham para inspirá-la e estabelecê-la em todos os lugares.

15º As pessoas que propagarem esta devoção receberão grandes recompensas, e terão seu nome escrito em meu Coração, de onde jamais será apagado.

16º Prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que meu amor todo-poderoso concederá a todos aqueles que comunguem seguidamente, por nove primeiras sextas-feiras de mês, a graça da perseverança final; não morrerão em minha desgraça nem sem receber os Sacramentos, e meu Coração será seu refúgio seguro naquela hora.

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“É uma desgraça do nosso século

ter tão bem os direitos aprendidos,

 e tão esquecidos os próprios deveres”.

(São Francisco de Sales)

Publicado originalmente em 08/06/2018