O TESOURO ESCONDIDO

Resultado de imagem para violetaA violeta, flor tão apreciada e procurada, não apresenta, nas cores de suas pétalas, beleza singular que nos impressione a vista. Possui apenas uma vestimenta simples e completamente lisa. Não procura, por meio de beleza cintilante atrair sobre si os olhos dos homens, mas parece comprazer-se na sua forma pequena e pouco vistosa. Não cresce, por via de regra, nas praças públicas, onde poderia ser divisada por todos, mas de preferência em lugares escondidos, nas orlas silenciosas das matas e ao longo de cercas espinhosas; e ainda nesses lugares procura com suas folhas formar uma espécie de esconderijo, para se furtar as vistas dos transeuntes, e ocultar as suas próprias flores.

Tudo, no entanto, é em vão, pois o aroma suave a denuncia. Se alguém a descobre, não a admira, mas aprecia-a e deleita-se com sua balsâmica fragrância. Esta florzinha, pouco vistosa, mas geralmente querida, é símbolo daquela amável virtude, que tão insistentemente o Espírito Santo recomenda aos cristãos, com estas palavras: “Seja vossa modéstia conhecida de todos os homens”.(Fil., 4,5)

A humildade e a modéstia honram e ornam todos os homens, mesmo o sábio que, por sua sabedoria e seu gênio pasma o mundo; até o príncipe, que governa um grande reino. Sejam tais homens humildes e afáveis, tanto quanto lho permite a posição, e conquistarão de assalto, os corações dos seus compratiotas, granjeando por toda a parte honras e afeições entusiásticas. Mas, se a humildade convém a todo cristão, a todo homem, ela, no entanto, se ajunta principalmente aos jovens e de modo particular à donzela cristã, que deve exercitar-se na virtude, e tantas vezes há de reconhecer e dizer que é uma criatura fraca e inclinada para o mal.

Só onde se encontra a humildade, existe a verdadeira virtude; sem aquela, esta nada mais é que uma aparência vã. O rochedo que levanta orgulhoso o cabeço a uma enorme altura, lá permanece solitário e despido; em vez de reflexos dourados, não apresenta senão gelo e neve. Os campos ondulantes e auspiciosos situam-se, pelo contrário, nas planícies e partes baixas da terra.

Sem a humildade, expõe-se a pureza do coração a grande perigo; assemelha-se a uma árvore alta cujas raízes não se embebem profundamente no solo; ou a uma grande e magnífica morada, que não possui alicerces fundos e sólidos. Venham os temporais, enfureçam as tempestades, e a árvore será arrancada, e a casa virá abaixo, sepultando os habitantes nos destroços. De modo semelhante é o que acontece com uma donzela altiva e orgulhosa: facilmente recai nos perigos do mundo, nos pecados. Sabe-o, perfeitamente, o tentador do gênero humano e procura, de ordinário encaminhar a jovem principalmente para o orgulho, a vaidade e a ostentação. Conseguindo isto, ser-lhe-á mais fácil levá-la, oportunamente aos pecados contra a santa pureza.

Quanto é exato o que diz um velho provérbio alemão: O orgulho vem antes da queda! “Hochmut kommt vor dem Falle”.

A humildade atrairá sobre ti a benevolência e a proteção de Deus. “Deus resiste aos soberbos, e dá a graça aos humildes” (I Pedro, 5,5). Também a ti dará muitas e grandes graças, se permaneceres humilde e modesta; proteger-te-á, sobretudo, contra todas as tentações e perigos a que, sem tua culpa, estiveres exposta. Se quiseres, pelo contrário, elevar-te no orgulho e arrogância, então é de se temer, que te abandone à tua fraqueza moral, a qual se parece com o frágil caniço, que se parte, quando alguém quer apoiar-se nele. Guarda-te, portanto, do orgulho, conserva-te humilde principalmente em relação a ti mesma. Não te mostre altiva, se fores rica e possuíres grande cabedal. As maiores riquezas materiais nada acrescem ao valor de tua alma.

Poderá um animal conduzir sobre o dorso ouro brilhante, pedras preciosas, e diamantes; não obstante permanecerá sempre a mesma criatura irracional; assim também o homem, ainda que habite um palácio magnífico e atinja a milhões seus haveres, será sempre um ser fraco e inconstante. Perante Deus, tem mais valor, muito mais, o pobre virtuoso, que vive numa cabana, do que o milionário que vive em pecados.

Não te mostre arrogante, se teus pais ocupam uma posição brilhante, ou descendem de alta linhagem. Quer seja filha de príncipe, ou tenhas por pai um simples e modesto operário, nem por isso merecerás da morte mais respeito e contemplação. Decorridos alguns anos, virá à morte arrebatar a filha do príncipe toda a grandeza e a fará pobre, pequena e mesquinha como a filha do mendigo. Não te mostre arrogante e orgulhosa com a beleza de teu corpo. Este não é mais que uma figura de pó e cinza, e se converterá, um dia, na sepultura, um alimento de vermes.

Não há, certamente, nenhum mal, no apreciares as belezas físicas da tua juventude. Assim como Deus revestiu de beleza às árvores do campo e os pássaros do céu, assim também comunicou ao teu corpo a frescura e a graça da mocidade. Regozija com esses dons; faze-o, porém, em agradecimento a Deu. Guarda-te, de abusar desta prerrogativa, manchando-te com o pecado, a fim de que ela não torne causa de corrupção para ti e para os outros. Não te esqueças, tampouco, de que esses bens são demasiado frágeis e transitórios. Hoje floresce a árvore, amanhã se encontrará desfolhada. É o que sucederá contigo.

Não exageres na moda; está bem que sejas primorosa no trajar, que te adornes; mas tudo isto, dentro das normas do bom senso e do bom gosto. Lembra-te que os excessos de vaidade, além de fúteis, são também prejudiciais. Quase sempre produzem, na vida doméstica, profundas feridas, porque consomem o capital, perturbam a paz e introduzem a desordem e a confusão.

Não está a moda exagerada freqüentemente a serviço da sensualidade, fornecendo ocasião ao pecado? A vaidade não abafa muitas vezes, no coração da mulher, aquelas nobres qualidade com que o Criador a adornou, de modo todo particular, habituando-o a fazer tanto bem? A jovem que se deixa dominar pelo excessivo amor ao luxo e à ostentação, aos poucos torna-se superficial, egoísta, vazia de sentimentos nobres, avessa à prática da virtude, negligente nos deveres do próprio estado.

Guarda-te, jovem cristã, desses defeitos, da vaidade e elegância afetadas. Traja-te, de acordo com tua posição social. Nos teus vestidos transpareça o bom gosto, evita, porém o exibicionismo nas atitudes e certas galanterias desusadas, com visíveis preocupações de te mostrardes elegante; inclina-te de preferência para a simplicidade: só assim agradarás a Deus e granjearás consideração dos homens sensatos. Em segundo lugar, sê humilde para com teu próximo. Com teus pais e superiores sê respeitosa e obediente. Se te repreenderem, não te agaste nem se encolerizes, mas aceita de bom grado e pacificamente a correção. Aos teus semelhantes dedica amor e consideração; não procures dominá-los.

Trata os que estão sob as tuas ordens, com a mesma doçura e mansidão com que costumas tratar teus familiares. Têm sempre em vista as palavras do Apóstolo dos gentios: “Vós senhores (patrões), tratai os vossos servos com justiça e equidade,sabendo que também vis tendes um Senhor no céu” (Col. 4,1). Mostra-te benigna e obsequiosa com teus inferiores; auxilia-os com prazer e prontamente, se estiveres em condição de o fazer. Com tais maneiras afáveis, tornar-te-ás agradável a Deus e útil a teus semelhantes.

Em terceiro lugar, seja humilde principalmente para com Deus. Lembra-te que, perante Deus, Perfeição e Excelência infinita, Onipotente e Onisciente, nós todos somos infinitamente pequenos, infinitamente fracos e ignorantes, até mesmo os maiores, os mais poderosos e os mais sábios deste mundo. Lembra-te que em qualquer circunstância da vida depende de Deus, que foste bem instruída acerca da sua bondade e poder, que poderás a cada momento ser arrebatada pela mão fria da morte e comparecer perante o tribunal divino. Reflete, pois, sobre as graças e benefícios inumeráveis com que Deus te cumulou, e dos quais, de tantos modos, tens usado para ofendê-Lo. Sim, pensa nos muitos pecados que já tens cometido, nos teus pecados por pensamentos, palavras, obras e omissões do bem prescrito pelo dever. Se pondereis bem tudo e tomares a sério, não terás nenhum motivo de seres altiva e vaidosa, antes, motivo suficiente para te humilhar perante Deus e dizer com todo o ardor:

“Senhor, tem compaixão de mim!”

Donzela Cristã –