Sumário. O surdo-mudo de quem fala o Evangelho é uma imagem daqueles pecadores que por vergonha calam os pecados na confissão e agravam a alma com sacrilégios horrorosos. Meu irmão, se, por desgraça fores do número daqueles infelizes, pede a Jesus Cristo que renove em ti o milagre; e que, para te levar a desatar a língua, te abra primeiro os ouvidos, afim de que compreendas as ilusões do demônio. Reflete que, enquanto estás meditando, tantas pobres almas estão ardendo no inferno, por terem, como tu, calado os pecados na confissão.
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O surdo-mudo de quem fala o Evangelho, é uma imagem daqueles pecadores que por vergonha calam os pecados na confissão e agravam a alma com sacrilégios horrorosos. Para curar semelhantes infelizes e induzi-los a fazerem uma confissão sincera, é necessário que Jesus Cristo, como fez com o surdo-mudo, os tire à parte de entre a multidão de tantos pensamentos mundanos, e que, antes de lhe desatar a língua, lhes abra os ouvidos, afim de que compreendam bem as ilusões do demônio.
Representemo-nos uma pessoa que, cega por alguma paixão, caiu em um falta grave. Afim de que ela não procure recuperar a graça de Deus, o demônio restitui-lhe o pejo, que primeiro lhe tirou para pecar, e diz: “Que dirá o teu confessor, quando ouvir a tua queda? De certo, sabendo a tua fraqueza, t’a lançará em rosto e se irritará”. – Eis aí a primeira ilusão do demônio; eis aí como o lobo infernal agarra as ovelhas de Jesus Cristo pelo pescoço, para que não possam gritar por socorro.
Que dirá o Confessor? Responde: Dirá que sou um infeliz, como são quantos vivem neste mundo, e que estou exposto a cair; dirá que, se pratiquei o mal, fiz também uma ação gloriosa, vencendo a vergonha e confessando sinceramente o meu pecado.
O Confessor te Insultará, te Repreenderá – Para que insultos? Para que censuras? Dize antes, que com doçura te dará os conselhos que te convenham. Os confessores sentam-se no confessionário exatamente para este fim; não para ouvir êxtases e revelações, mas para ouvir os pecados daquele que vai confessar-se. A maior consolação que eles possam ter, é absolverem um penitente, que se acusa das suas culpas com sinceridade e verdadeira dor. – Se uma rainha fosse ferida mortalmente por um escravo, e tu a pudesses curar com um remédio, que consolação não teria em salvá-la da morte! Pois, uma consolação semelhante recebe o confessor que absolve uma alma caída em pecado. Aplicando-lhe o sangue de Jesus Cristo, qual balsamo salutar, livra-a da morte eterna, fal-a recuperar o direito de rainha do paraíso, e os merecimentos anteriormente adquiridos, mas perdidos pelo pecado.
Além disso, o confessor, fazendo a alma recuperar a graça divina, restitui-lhe também nesta terra a paz do coração, livrando-a de um inferno antecipado. Ó céus! Que inferno não está sentindo dentro de si a pessoa que sai do confessionário sem ter acusado seu pecado! Por toda parte leva consigo uma víbora, que continuamente lhe dilacera o coração.
Se eu acuso tal pecado, temo que se publique, que o confessor o descubra a outros… Numa palavra, tenho agora muita repugnância de me confessar, falo-ei mais tarde, na hora da morte. – Eis aqui outras ilusões do demônio; eis como o lobo infernal, tendo agarrado as ovelhas de Jesus Cristo pelo pescoço, aperta sempre mais os dentes, afim de que não possam chamar por socorro.
Respondo: A quantos confessores tens de confessar tua culpa? Basta dizê-la a um só sacerdote, uma só vez. Tu mesmo podes escolher o sacerdote, que por ventura nem te conhece; e assim como escuta o teu pecado, escuta também muitos outros semelhantes de outras pessoas. – Nem há perigo que o confessor descubra a outros o teu pecado, visto que, ao sair do confessionário, não pode dele falar, nem mesmo contigo, sem cometer um delito muito grave. – Observa também que o sigilo da confissão é tão apertado, que, se o confessor, para não manifestar um só pecado venial ouvido na confissão, tivesse de ser queimado vivo, antes deve deixar-se queimar vivo do que manifestá-lo.
Depois, pode haver maior insensatez do que adiar a confissão e esperar até a hora da morte, como se esta não se pudesse colher de improviso? “Se uma vez“, diz Santo Agostinho, “porque não agora?“. Não vês, meu irmão, que quanto mais tardares em manifestar teu pecado, e quanto mais acumulares os sacrilégios, tanto mais aumentará a dificuldade, a vergonha e a obstinação em não te confessares? Oh! Quantas almas se habituaram a calar o pecado, dizendo: Acusá-lo-ei na hora da morte, e também, chegada que era a hora, o calaram, confessaram-se sacrilegamente, e agora choram no inferno! Quem garante que não te sucederá a mesma desgraça?
Deus onipotente e misericordioso, que pela abundância de vossa misericórdia excedeis os méritos e os desejos dos que Vos suplicam! Lançai um olhar piedoso sobre tantos infelizes pecadores. Vós, que restituístes o ouvido aos surdos e a fala aos mudos, dignai-Vos abrir-lhes os ouvidos e desatar-lhes a língua, a fim de que, compreendendo as ilusões do demônio, falem bem e confessem todos os seus pecados. “Derramai a vossa misericórdia também sobre mim; perdoai-me o que a consciência teme, e acrescente ao perdão o que por minhas orações não presumo alcançar. “(3)
– Doce Coração de Maria, sede minha salvação!
- Is 6, 5
- Dom. curr.
- Dom. curr.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso