“Sou religioso, sinceramente religioso; todavia, o que se passa entre Deus e mim, não o revelo aos outros. Isso não é da conta de ninguém! A vida religiosa é manifestação tão delicada da alma humana, que não se deve pô-la à mostra; cada um resolva o assunto consigo mesmo, em segredo, no seu íntimo. O principal é ser interiormente religioso; tudo o mais, exterioridades, formas, cerimônias, é de somenos importância…”
Assim falam muitos jovens, mesmo aqueles cuja religiosidade sincera e firme está acima de qualquer dúvida, mas que, todavia, não compreendem quão errôneo seja esse modo de pensar. E sabes porque tão dificilmente percebem o engano? Porque há muitas coisas verdadeiras em suas palavras.
“A religião é manifestação em extremo delicada de nossa alma”, dizem eles, e nisso têm toda a razão. “O essencial é a religiosidade interior!” Também está certo. Eu mesmo teria dificuldade em achar uma reprovação assaz forte para um homem que, por qualquer motivo, finge piedade exterior, imita práticas piedosas, enquanto sua alma está cheia de impureza, sem um pensamento religioso sério.
Tudo isso é indiscutivelmente exato. Sim, a religiosidade pode tornar-se mera exterioridade, cerimônia inanimada, se lhe faltar a vitalidade interior sincera. Religioso não é quem exalta com os lábios as glórias de Deus enquanto sua alma está bem longe. Religioso outrossim não é quem reza muito, vai à igreja, mas vive em pecado e tem o coração indiferente, duro para com o próximo. Tal religiosidade exterior é apenas uma caricatura, um escárnio da verdadeira idéia de religião, coisa muito própria a propagar um conceito errado de religião.
Portanto, fique bem claro: o que é decisivo é a convicção e a vida religiosa interior. Mas é errado que devamos esconder timidamente nossa convicção religiosa. Não digo que nos devamos referir a ela a todo instante, com ou sem motivo, Deus sabe nossa virtude; minha vida religiosa se realize de fato, em silêncio, entre Deus e minha alma. Contudo, se eu estiver numa roda em que se fale de religião, de convicções, de princípios imorais, seria covardia, falta de princípios, deserção, se eu me envergonhasse de minha religião, se corasse e não dissesse nada.
Se andares pela rua com um camarada de outra crença não debatas com ele questões religiosas. Mas, se passares diante de uma igreja, e por causa do companheiro não tirares o chapéu (“a religião é assunto interior”), estarás dissimulando covardemente tua fé. Quando rezas confiantemente em casa, em teu gabinete ·de trabalho, longe de vistas estranhas, fazes bem, mas se te envergonhasses, entre centenas de pessoas, de dobrar o joelho diante de Jesus sacramentado — “já que o exterior não é importante” —, então serias novamente covarde. Bem sei que possuis alma pura, não inicias jamais conversa inconveniente. Muito bem; mas, quando outros as iniciam e te ris de suas obscenidades — “não devo ofendê-los, não rindo também” — então dás exemplo de covarde traição a teus princípios.
Vê! O essencial é a religiosidade interior, mas devemos provar, também externamente, as nossas convicções. Essa aparente “exterioridade” não é, muitas vezes, senão um aprofundamento elo “interior”. Pois, não é de todo natural que o corpo caia de joelhos, quando a alma fala com Deus?
Com que franqueza confessa o grande húngaro, conde Estêvão Széchényi, em seu diário: “Passei minha juventude em ócio e ignorância. Eu não era ruim e pervertido, mas não reconhecia os múltiplos defeitos que tinha. Na grande luta da existência e observando a vida humana, recobrei a calma e aprendi a reconhecer que não basta à alma seguir a voz interior, mas que é preciso observar também as formas exteriores da religião”.
Segue, pois, as formalidades exteriores de tua religião, embora se afirme: O essencial é a religiosidade interior, sem a qual toda a exterioridade é fingimento. Suponhamos, entretanto, que urge confessar a Fé, e nosso modo de pensar? Não hesitemos então um só instante! É fato curioso que nesse particular, mesmo católicos bem formados, se vejam tão fracos. Adeptos de outros credos mostram-se muito mais orgulhosos de sua crença. Entre nós, a vergonha e o respeito humano tornaram-se verdadeira “doença católica”.
Se refletires um pouco sobre a incomensurável bênção, que durante 2.000 anos, o cristianismo derramou sobre a humanidade, reconhecerás que tens toda a razão para te orgulhares da Fé.
Deixemos, por agora, de lado os valores puramente espirituais do cristianismo; consideremos apenas a questão: que valor teve ela para a civilização humana? Imagina que não houvesse cristianismo: quanto mais pobre em valores estaria o mundo! Visita os museus e suprime os quadros e estátuas que sejam obras primas cristãs: quão pouco ficaria das coleções! As suntuosas catedrais deveriam ser derrubadas, pois nasceram do espírito cristão. O gênio musical de um Handel, Palestrina, Beethoven, Mozart, Rossini, acendeu-se na religião. Os primeiros hospitais, orfanatos, asilos e educandários brotavam da caridade cristã. Os princípios das escolas e universidades remontam até o cristianismo. Vês? Que vácuo haveria na vida da humanidade, se devêssemos eliminar seu centro, a cruz de Jesus Cristo.
Não! minha fé não tem realmente nada, de que deva envergonhar-me. Tanto mais razão tenho para orgulhar-me dela!
Religião e Juventude – Mons. Tihamer Toth