Nesta semana, tive de ir – de máscara, antes que perguntem! – a um cartório. Na entrada, a porta de enrolar estava fechada, pelo que era necessário entrar pelo lado da loja, por uma porta estreita. Era tão estreita que algumas pessoas não conseguiam se espremer (uma denúncia de gordofobia poderia ser feita…)
Após entrar, rapidamente tive de recolher as mãos, para não receber a quantidade astronômica de álcool em gel que um vigia administrava aos visitantes. Enquanto esperava meu atendimento, percebi espantado uma funcionária, atrás de seu guichê, com as mãos cobertas de álcool em gel, sendo que ela já estava com luvas de plástico! Perante toda essa histeria, uma pessoa que me acompanhava disse: “Se as pessoas tomassem esse cuidado para se preservarem do pecado…”
É evidente que a sociedade deve desencorajar todos os comportamentos perigosos para a saúde – mas nesse assunto o exagero é um grande perigo. Alguém lutará contra tais excessos? Há motivos para se duvidar. A sabedoria mundana é tolice. Ela não tem lógica e se autodestrói, porque seus princípios estão errados. A única coisa que importa é a felicidade – mas quando a felicidade e a saúde entram em conflito, vemos esses comportamentos ridículos que foram descritos. E isso apenas três meses depois das desordens do carnaval.
Os sábios deste mundo buscam, há tempos, os sistemas para serem felizes sem prejuízos: na Grécia antiga, criaram-se várias correntes filosóficas, duas delas muito atuais: o epicurismo e o hedonismo. Elas colocam a busca do prazer e a fuga da dor como finalidade da existência humana – a plena satisfação humana consistiria num frágil equilíbrio entre prazeres. Mas, como é patente, a maior parte dos homens (para não dizer todos) não pode chegar a esse estado. Ao seguir tais doutrinas, os homens afogam-se nos vícios.
A sabedoria da Cruz de Nosso Senhor ensina-nos, pelo contrário, que o sofrimento nos redime, enquanto vivido na caridade. Ela opõe-se diretamente ao mundo pagão enquanto afirma: “Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.” Quanto ao prazer, ele não é um fim em si mesmo – ele será buscado ou evitado segundo sua legitimidade nos planos de Deus. E nossas escolhas serão informadas por nossa vontade de santificação, cujo fim é conduzir ao céu.
São Domingos Sávio, morto em 1857 na idade de 15 anos, ordenou sua vida de acordo com os princípios da divina sabedoria. Com sete anos, fez sua primeira comunhão e escreveu, como resolução: “Antes morrer do que pecar”. Na escola, durante o recreio, não hesitou em arrancar das mãos de um colega uma revista imprópria. Enquanto rasgava essa má leitura, dizia: “Se tu levas ao moinho grão mofado, sairás com uma farinha ruim. Aqui, queremos ficar bons, não nos venhas envenenar com tuas sujeiras…”
O mundo se preocupa com a qualidade de seu corpo tal como os sepulcros caiados, magníficos no exterior e apodrecidos por dentro. A sabedoria divina, ao contrário, exorta-nos várias vezes a preservar nossa alma de toda mancha de pecado. Imploremos à Nossa Senhora, Imaculada Conceição, que nos auxilie em nossos esforços para permanecer puros.
Padre Jean-François Mouroux, FSSPX