Um dos seus discípulos, ao qual Jesus amava, estava recostado sobre o seio de Jesus (Jo 13, 23)
Este discípulo é são João Evangelista, que escreve sobre si mesmo como se falasse de outro, querendo com isso evitar a jactância, conforme o fizeram outros que escreveram as Escrituras. Moisés, nos livros que escreveu, fala de si como se de outro: Falou Deus a Moisés. Também o faz são Mateus: viu um homem que estava sentado no telônio, chamado Mateus. E são Paulo: Conheço um homem…
São João diz três coisas de si mesmo:
[1] O amor que lhe fazia repousar em Cristo: estava recostado, i. é, repousava. Diz a Escritura (Jó 22, 26): Então porás tuas delícias no Onipotente, e levantarás o teu rosto para Deus. E noutro lugar (Sl 22, 2), conduz-me junto das águas para descansar.
[2] O conhecimento dos segredos que Cristo lhe revelava, especialmente na redação deste Evangelho. Por isso diz que recostava sobre o seio de Jesus; ora, por seio se significa o secreto: O Unigênito, que está no seio do Pai, ele mesmo é que o deu a conhecer (Jo 1, 18).
[3] O amor especial com que Cristo o amava. Por isso diz: ao qual Jesus amava. Não que o amasse singularmente, mas como se Jesus lhe amasse de modo mais excelente, de algum modo.
Deve-se saber que são João foi mais amado por Cristo por três razões;
[1] Por sua pureza, pois foi eleito pelo Senhor virgem, e virgem sempre permaneceu: Aquele que ama a pureza do coração, terá o rei por amigo (Pr 22, 11).
[2] Pela sublimidade da sua sabedoria, que para além dos demais, contemplou os arcanos divinos; por isso, foi comparado a águia. O servidor inteligente é agradável ao rei (Pr 14, 35).
[3] Pela veemência do seu fervor pelo Cristo. Eu amo os que me amam (Pr 8, 17)
(In Joan., XIII)
Meditationes ex operibus S. Thomae – Pe. Mézard, O.P.
Tradução: Permanência