Certo dia, apresentou-se na casa paroquial um ancião desconhecido, pedindo ao padre que fosse socorrer uma agonizante.
Ele mesmo o acompanharia até à casa. Como a rua era de má fama e a noite se aproximava, o padre desconfiou de alguma cilada, mas o ancião insistiu:
– É preciso que o senhor vá logo, porque se trata de administrar os sacramentos a uma velha que está nas últimas.
Partiu o padre levando o Santíssimo e os Santos Óleos. A noite era glacial, mas o velho parecia não senti-lo; ia adiante até chegar a uma casa de péssima reputação; teve o padre um momento de vacilação e temor, mas o ancião animou-o dizendo:
– Eu o esperarei aqui.
Bateu o padre à porta repetidas vezes e, como não abrissem, o ancião deu umas pancadas esquisitas e a porta abriu-se imediatamente.
– O Sr. entre, suba a escada, abra a porta do fundo do corredor e encontrará a agonizante.
Disse essas palavras com tal força e autoridade que o padre não vacilou mais. Encontrou estendida numa cama miserável uma mulher abandonada que repetia aos gritos:
– Um padre! um padre! Deixar-me-eis morrer sem um padre?…
– Filha, aqui estou, sou o padre que a Sra. chama. Um ancião foi buscar-me…
Ela não queria acreditar.
– Não, nesta casa não há ninguém que queira ir em busca de padre e não conheço tal ancião.
Afinal, convencida, acusou os pecados de sua longa vida de pecadora e com tanta dor e arrependimento o fez que o padre se admirou de encontrar tais sentimentos numa pessoa há tantos anos afastada de Deus.
Arrumou o padre a mesinha e acendeu as velas para o viático e a extrema-unção. Nesse ínterim várias pessoas entraram e saíram, parecendo não notar a presença do padre.
Depois de administrar-lhe todos os sacramentos, perguntou-lhe o padre se havia conservado alguma prática religiosa que lhe mereceu tal benefício em tão grande necessidade.
– Nenhuma, disse; a não ser uma oraçãozinha que rezava todos os dias a S. José para que me concedesse uma boa morte.
Consolado, o padre assistiu ao último suspiro da convertida.
Nem à porta nem no caminho encontrou o ancião, e ficou convencido de que não era outro senão o misericordioso patrono da boa morte, o glorioso S. José.
Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves