A oração é um colóquio de amor com Deus. A criança, que ama verdadeiramente os pais, gosta de falar com eles, manifesta-lhes tudo que agita o seu coração. Cada alegria que sente, vai logo comunicá-la à mãe, ou ao pai; expõe-lhes todas as suas dores; narra-lhes os seus receios; conta-lhes os seus interesses.
Se a criança passasse com seus pais um dia inteiro, sem lhes dirigir uma só palavra, teriam muita razão em se queixar: nosso filho não nos ama, pois se nos amasse seria mais comunicativo conosco. É o que dará contigo, jovem cristã, se amares a Deus e Vosso Salvador, verdadeiramente, e de coração, sentir-se-ás necessariamente compelida a falar com Ele, a entreter-se com Ele, isto é, a rezar. A oração é para ti um dever sagrado, que não hás de omitir um só dia sequer.
1º – A oração te enobrece.
Conta-se que a opala à luz solar por muito tempo, é penetrada tão profundamente pelos raios, que (esta pedra) se torna inteiramente luminosa, e na escuridão da noite, irradia uma luz brilhante.
A opala é a imagem da alma, que na oração, se põe em contato com o Altíssimo.
A alma, quando reza, entra em relação íntima com Deus, infinitamente grande, infinitamente perfeito e santo. A luz de Deus, os raios da Sua santidade e magnificência atuam sobre ela. Deus a alumia e a penetra cada vez mais com Sua graça, a atrai cada vez mais para si, eleva-a e a enobrece. A alma, pela oração, torna-se semelhante a Deus. Aqui, também, viria muito a propósito o brocardo: “Dize-me com quem andas e dir-te-eis quem és”.
Afirmou alguém: o homem é tão grande, quanto o são seus pensamentos. Se isto é verdade, não deve então a donzela, quando ora, com seu espírito embebido de infinita sublimidade e grandeza de Deus, transportar-se a uma altura que deixe muito abaixo de si todas as grandezas da terra? Não deve a sua alma, o seu entendimento e a sua vontade adquirir sempre mais luz, mais perfeição, mais nobreza de coração? “Aproxima-te do Senhor, e serás iluminada”. (Sl. 33,6).
São Gregório Nazianzeno comenta: “Assim como o corpo se torna iluminado pela luz do sol, assim também a alma recebe a luz através dos raios da graça, na oração”.
Quem reza, sobranceia sempre todas as criaturas visíveis, que não podem orar. Entre os próprios homens, o pobre operário, que todos os dias junta as mãos calosas para rezar, piedosamente, é mil vezes mais digno de louvor e respeito, do que o príncipe orgulhoso, que despreza a Deus e nunca ora. A humilde criada, que não recebeu nenhuma formação especial e que deve, constantemente ocupar-se de seu trabalho obscuro, mas ama a Deus e todos os dias, regularmente, faz a sua oração piedosa, acha-se num plano muito mais alto do que a dama vaidosa que arrasta a seda e veludo e ostenta custosos diamantes, mas que há muitos anos não se preocupa com Deus e não quer saber da oração.
Se não rezas, jovem cristã intimamente renuncia a Deus, fonte única de tudo que é bom e nobre, e retornas à pobreza do teu próprio eu, que te arrasta para a miséria e para o pecado. Se não rezas, abdicas da tua verdadeira dignidade.
2º – A oração fortalece-te.
Lá está uma árvore, com sua beleza e suntuosidade próprias da primavera; ornada de verdes folhas e toda ataviada de lindas flores. Aproxima-se dela um insensato e pensa consigo: “Faz-me pena esta árvore! Tudo nela é belo: os ramos, que se agitam no ar; as flores, cujas formosuras encantam. Todavia, a casca áspera e feia que lhe reveste o tronco deforma-a completamente. Deve, portanto desaparecer”. Começa ele a retirar aquela casca tão pouco vistosa, arrojando-a para longe.
Mas, qual a conseqüência? Durante algum tempo a árvore, com certa dificuldade, permanecerá ainda verde e se cobrirá de flores; depois entrará a murchar, e, no outono, em vão nela se procurará um fruto, sequer. Aquela casca desprezada contém os canais, como que veias, através das quais circulam a eiva e a força, a vida e o vigor. A privação da casca explica a morte da árvore. O mesmo acontece com a oração, que muitas jovens e donzelas desprezam com arrogância e leviandade. Os atos de piedade são como canais e veias por onde descem até nós a força e a graça sobrenaturais.
Se rezarem bem, donzela cristã, estás a te apoiar humildemente em Deus e d’Ele, que é a força e poder infinitos, jorrarão a santidade e o vigor sobre a tua fraqueza. Sentir-te-á reanimada e fortalecida, de tal modo que poderás dominar as tuas más inclinações e exclamarás, então, como o Apóstolo dos gentios: “Tudo posso Naquele que me conforta” (Fil. 4,13). Como a oração nos comunica força sobrenatural contra os inimigos da nossa salvação, admoesta-nos o Divino Salvador: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt., 26,38).
Eis por que se deve, sobremodo, lamentar que muitos jovens, e até muitas donzelas, precisamente naqueles anos em que os ameaçam tantos perigos e tentações, rezem com demasiada negligência, e por vezes, durante largo tempo, abandonem de todo a oração. Quantas moças, moralmente fracas, passariam a ser virtuosas se todos os dias fizessem oração, de modo regular! A sua infelicidade tem por causa o abandono da oração. Esqueceram a Deus e não se importam mais com Ele; e Deus as abandona a sua própria fraqueza e impotência. Disse um grande bispo dos últimos tempos, Martinho de Paderbon: “É grande desgraça pecar, mas há uma desdita ainda maior – pecar e deixar de rezar”.
3º – A oração é fonte de consolações e de entusiasmo.
Quando, no ardente verão, os raios abrasadores do sol queimam por muito tempo, as flores deixam cair às corolas tristes e murchas. Mas, quando a noite desce e o branco orvalho penetra na terra, tudo na natureza respira, novamente, até as flores se erguem reanimadas e alegres. Para o coração humano existem, também, às vezes, certas horas em que lhe falta ânimo, como à pobre flor, nos dias abrasados do verão. Horas, em que sente a perfídia, ou se vê em conflito com a maldade humana; horas, em que graves tentações o assaltam e perturbam, ou duros e amargos sofrimentos espirituais procuram roubar-lhes a coragem e a confiança.
Sabe, porventura, o que pode levantar-te o espírito naquelas horas, dar-te nova vida, novo alento? É o orvalho da graça celeste, que a oração filtra em tua alma. Encaminha-te, pois a casa de Deus ou ao teu quarto, recolhe-te, ajoelha-te e expõe a Deus teus sofrimentos, implora o Seu auxílio, e persuade-te de que receberás nova energia e uma
disposição íntima para continuar a viver. “Chama por mim no dia da tribulação, eu te salvarei e tu me louvarás” (Sl. 49,15). E, se acaso Deus, não afastar de ti completamente a adversidade, ela se converterá para ti em fonte de bênçãos, no tempo e na eternidade.
Como a oração é poderosa em sumo grau, toma resoluções particularmente apropriadas a tua vida de piedade. Se há tempo, em que a necessidade da oração se faz sentir de maneira especial, é sem dúvida o tempo da azáfama e ansiedade, da disposição e açodamento. É justamente nesta fase que nos devemos apegar a Deus, e da noção da eternidade tirar uma força sobrenatural, sempre nova, que nos senhoreia e fortalece; do contrário, desvanecer-se-iam as nossas energias espirituais, e dentro em pouco nos tornaríamos servos submissos de “Mamon”, ou escravos das paixões idólatras de nós mesmos. É precisamente, ao nosso tempo, que se aplica a velha e sábia divisa: “Ora et labora” – Reza e trabalha! Portanto, donzela cristã, antes de tudo, não deixe de fazer regularmente a tua piedosa oração, pela manhã. Também aqui se verifica a sentença: “A hora matinal tem ouro nos lábios” – Morgenstund hat Gold in Mund.
– No decorrer desta oração matinal, tão pouco omitas uma ou outra resolução apropriada ao dia que se inicia.
Propõe-te, sobretudo, estar atenta a cada ocasião favorável que se oferecer para corrigir tua inclinação e evitar as faltas habituais, vencendo-te a ti mesma. Suplica humilde ao teu Divino Salvador o auxílio de Sua graça, para que possas cumprir fielmente tuas boas resoluções. Antecipa-lhe também a oferta de tudo quanto no decorrer do dia fizeres. Esta boa disposição será de grande proveito para a vida cristã. Renova-a, portanto, muitas vezes durante o dia, sobretudo quando a impaciência tentar estabelecer-se no teu íntimo, ou alguma intenção vaidosa buscar infiltrar-se em tuas ações. À noite agradece a Deus, em poucas palavras, todas as graças e benefícios que te concedeu durante o dia. Examina a consciência sobre os pecados e faltas que cometeste, excita em ti um vigoroso ato de arrependimento, acrescentando-lhe a firme resolução de te vigiares melhor no dia seguinte e cumpre fielmente as tuas obrigações. Encomenda-te à bondade infinita de Deus, à Bem-aventurada Virgem Maria e ao teu Anjo da Guarda, para que te protejam durante a noite contra todos os perigos da alma e do corpo.
Em dez minutos poderás fazer bem a oração da manhã e da noite. No entanto, muito grande te será a sua utilidade, se permaneceres constantemente fiel a este salutar exercício. Para fazeres bem, com atenção e piedade, a tua oração, cumpre-me aconselhar-te, sobretudo, a te colocares na verdadeira disposição logo no início dela, pondo-te vivamente na presença de Deus, com o que lhe darás bom começo. Se, ao depois, sobrevierem distrações, concentra-te de novo e continua a rezar tranqüilamente. Desejaria ainda inculcar-te, que faças tua oração da manhã e da noite de joelhos, se isto não te for muito incômodo. Assim a oração terá mais força, se lhe associarmos o desprendimento e a humildade. Esta é a atitude mais conveniente a nós, criaturas pecadoras, e mais conforme a grandeza infinita e à santidade de Deus. Pensamentos grandes e elevados surgirão no espírito da donzela, toda a vez que se entretiver com o Senhor em oração humilde e piedosa. Faze, portanto, a tua oração cada dia regularmente.
Donzela Cristã – Pe. Matias de Bremscheid