A CRISE FINAL (DRAMA DO FIM DOS TEMPOS)

crise finalParemos um instante diante dos intrépidos missionários de Deus e notemos a oportunidade divina de sua aparição. Segundo São Pedro: “nos últimos tempos virão embusteiros, zombadores sedutores vivendo as suas concupiscências, dizendo: Onde está a promessa e a vinda (de Jesus Cristo)? Desde que nossos pais morreram tudo continua como desde o princípio da criação” (2 Pd 3, 3-4).

Esses sedutores, estes embusteiros, os estamos vendo com nossos próprios olhos, ouvindo com nossos ouvidos. Chamam-se racionalistas, materialistas, positivistas: negam, “a priori”, toda causa superior, todo fato sobrenatural; não se interessam em saber de onde vêm, nem para onde vão; semelhantes aos insensatos do livro da Sabedoria olham a vida como uma dessas nuvens da manhã que não deixam rastro ao raiar do sol. O que está além do túmulo, chamam o grande desconhecido; recusam-se terminantemente a investigá-lo. Em conseqüência, o todo do homem, a seus olhos, está em gozar o mais possível o momento presente, pois tudo o mais é incerto.

Esses falsos sábios relegam os escritos de Moisés a cosmogonias fabulosas. Recusam-se a reconhecer algum valor histórico nos livros santos. Segundo o que dizem, todos esses documentos, em contradição com a ciência, seriam obras de um judeu exaltado, Esdras, que quis realçar sua nação. Quanto à vinda de Jesus Cristo, à ressurreição geral, ao julgamento final, às recompensas e às penas eternas, tratam como sonhos absurdos. Asseguram que a humanidade, em via de um indefinido progresso, encontrará um dia o paraíso na terra.

Ora, para confundir esses impostores, Deus suscitará Henoc, representante do período ante-diluviano; Henoc, quase contemporâneo das origens do mundo. Suscitará Elias, representante do judaísmo mosaico; Elias que, de um lado, toca Salomão e David de outro Isaías e Daniel. Estes grandes homens virão, com indiscutível autoridade, estabelecer a autenticidade da Bíblia, e mostrar que o Cristianismo está ligado à era dos profetas até Moisés e à era dos patriarcas até Adão. Neles se levantarão todos os séculos para renderem testemunho à verdade da revelação. Nunca a divindade do Cordeiro que foi morto desde a origem do mundo (Ap 13, 8) resplandecerá de modo mais fulgurante.

Ao mesmo tempo anunciarão com veemência a aproximação do julgamento. Retomando as palavras de São João, clamarão a todos os confins do mundo: “Fazei dignos frutos de penitência… o machado já está posto à raiz das árvores… Ele tem a pá em sua mão e limpará bem a sua eira, e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará as palhas em um fogo inextinguível” (Mt 3, 8-13). Continuando a predição do Eclesiástico, Henoc pregará a penitência às nações, que compreendem todos os povos fora do judaísmo; ele lhes falará com a majestade de um antepassado e lhes fará conhecer e reconhecer Jesus Cristo, o Desejado das Nações.

Elias se dirigirá especialmente aos judeus que esperam Sua vinda; ele se dará a conhecer por sinais de extrema evidência; fará Jesus brilhar a seus olhos, Jesus que é osso de seus ossos e carne de sua carne. É fora de dúvida que a essas pregações, apesar das ameaças e dos tormentos, seguirão numerosas e estrondosas conversões, principalmente do lado dos judeus; isto está formalmente predito.

As duas testemunhas de Deus pregarão tanto juntas como separadas; e durante três anos e meio percorrerão verdadeiramente a terra toda. Os jornais farão em volta deles a conspiração do silêncio (como em volta dos milagres de Lourdes); mas eles se imporão à atenção do mundo. O Anticristo tentará em vão apanhá-los, pois o fogo devorará quem quer que ouse lhes tocar. Eles passarão com o gládio da justiça de Deus no meio dos homens que vivem no prazer e no deboche; eles os ferirão com chagas horríveis.

No entanto, assim como a missão de Nosso Senhor, a deles terá um tempo determinado. Em dado momento perderão a assistência sobrenatural que os protegia até então. Escutemos São João.

“E depois que tiverem acabado de dar o seu testemunho, a fera que sobe do abismo fará guerra contra eles, e vencê-los-á e matá-los-á. E os seus corpos ficarão estendidos nas praças da grande cidade, que se chama espiritualmente Sodoma e Egito, onde também o Senhor deles foi crucificado. E os homens de diversas tribos, e povos e línguas e nações verão os seus corpos durante três dias e meio; e não permitirão que seus corpos sejam sepultados.

“E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles e farão festas e mandarão presentes uns aos outros porque esses dois profetas os tinham atormentado. “Mas depois de três dias e meio o espírito de vida entrou neles da parte de Deus. E eles puseram-se em pé, e apoderou-se um grande temor dos que os viram. “E ouviram uma grande voz do céu que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu numa nuvem e seus inimigos foram testemunhas disso.

“E naquela mesma hora deu-se um grande terremoto e caiu a décima parte da cidade; e no terremoto morreram sete mil homens e os restantes, atemorizados, deram glória ao Deus do céu” (Ap 11, 7-14).

Que conclusão de um drama inaudito! Que afirmação do sobrenatural! Os dois profetas se encontrarão em Jerusalém, onde seu Senhor foi crucificado. Participarão das divinas fraquezas de Jesus; como ele serão presos, como ele julgados, como ele atormentados, como ele serão mortos, talvez na cruz. Pensar-se-á que chegou o fim. O Anticristo parecerá triunfar em toda a linha. Zombarão dos dois profetas: rirão e dançarão em torno de seus cadáveres; deixá-los-ão sem sepultura para se regalarem à vontade.

Mas de repente os dois profetas ressuscitarão; uma grande voz soará do alto do céu e eles subirão ao céu diante de uma multidão inumerável tomada de súbito terror. Haverá um grande terremoto na cidade deicida; sete mil homens perderão a vida, outros baterão no peito e darão graças a Deus. Repetimos, que drama, que desenlace! O que fará o Anticristo diante de tais prodígios? Espumará de raiva, sentirá que tudo lhe escapa, que a hora da justiça está próxima.

Pode-se acreditar que nesse mesmo instante surgirá sua punição prescrita por São Paulo: “Jesus Cristo o matará com o sopro de sua boca e o destruirá pelo brilho de sua vinda” (3 Ts 2, 8). No entanto, segundo os cálculos de Daniel, parece que o castigo do monstro será atrasado trinta dias depois da assunção triunfante de Henoc e Elias. Daniel diz que a partir da supressão do sacrifício perpétuo, quando aparecerá a abominação da desolação, passarão 1.290 dias (Dn 12, 11), por conseqüência 30 dias mais do que o tempo da pregação de Henoc e de Elias.

Durante esse intervalo, o Anticristo tentará de todo jeito retomar a influência perdida. Não queremos admitir nenhuma visão no âmbito deste relato; se fazemos exceção para a de Santa Hildegarda sobre o fim do inimigo de Deus é porque não passa de um comentário da palavra de São Paulo: Jesus o matará com o sopro de sua boca! A Santa vê em espírito o monstro, cercado de seus oficiais e de imensa multidão, subir uma montanha. Chegando ao cume, anuncia que vai elevar-se nos ares. Foi elevado, com efeito, como Simão o mágico, pelo poder do demônio. Mas nesse momento reboa um forte trovão e ele cai fulminado. Seu corpo se decompõe na mesma hora e exala um fedor intolerável e todos fugirão apavorados.

Assim, ou de maneira análoga, acabará o inimigo de Deus. E seu imenso império se evaporará como uma fumaça. O mundo se sentirá aliviado de um peso esmagador. E haverá uma conversão geral que no dizer de São Paulo parecerá uma ressurreição. Disso falaremos no próximo artigo.

O Drama do Fim dos Tempos  –  Pe. Emmanuel-André