A PENITÊNCIA

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Foi uma palavra da onipotência divina a que o Divino Salvador pronunciou: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados e àqueles a quem retiverdes, ser-lhe-ão retidos”. (Jô. 20,23). Contra esta palavra, pela qual Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Penitência, levantou-se uma oposição multissecular; todas as paixões se insurgiram contra ela. No entanto, para o Divino Salvador e Sua palavra nenhum obstáculo existe. É assim que, a despeito do mais encarniçado ataque dos inimigos de Cristo, em todo o mundo, aí permanece o Instituto da Penitência. Ainda hoje, milhares de cristãos confessam humildemente seus pecados no Tribunal da Penitência e se fortalecem por meio deste sacramento, contra a tentação e más inclinações. Também tu, donzela cristã, faze por que nada te embarace de freqüentar o tribunal da penitência. Confessa-te muitas vezes, pois, isto te será sumamente salutar.

1º- A confissão freqüente levar-te-á ao conhecimento de ti mesma.

Sem o conhecimento de si próprio, não há regeneração, não há combate às más inclinações. Eis porque é muito triste que tantíssimas almas não se conheçam a si mesmas. Conhecem os personagens e os acontecimentos da história dos povos; sabem descrever as montanhas e os rios dos países estrangeiros; todavia, o seu próprio interior é para elas uma região estranha, da qual não possuem nenhum conhecimento. Se alguém lhes chama a atenção para alguma falta, logo se mostram admiradas, agastadas de que se faça delas tal conceito; enquanto outras, que muitas vezes se deixaram arrastar para essa falta, dela não têm absolutamente nenhuma idéia ou lembrança.

A confissão freqüente, portanto, facilita-nos sobremodo, o tão importante conhecimento de nós mesmos. Se cada vez, por ocasião da confissão freqüente, diriges a teu coração um olhar sério, não verás acaso, as profundezas e não se tornarão os olhos de teu espírito penetrantes, de tal modo, que muitas coisas, as quais à primeira vista permaneciam ocultas, pouco a pouco se manifestam no seu verdadeiro aspecto?

Pelo assíduo e sério exame de consciência te habilitarás a conhecer com exatidão os teus pecados e tuas más inclinações, suas causas e conseqüências, a penetrá-las, por assim dizer, com os olhos de teu espírito. E quanto menos for o número de pecados graves que tiveres de confessar, tanto mais, então olharás para os pequenos pecados veniais, para as menores fraquezas e imperfeições. Assim como à luz brilhante do sol, claramente se vê o pequeno grão de poeira, do mesmo modo reconhecerás distintamente cada uma das pequenas faltas no teu interior. Eis porque a freqüente recepção do Sacramento da Penitência, muito contribuirá para te aperfeiçoar e aumentar o conhecimento de ti mesma, o que será uma grande conquista.

2º- A confissão freqüente ajudar-te-á a combater resolutamente os pecados e s tentações, e as vencê-las com segurança.

Cada confissão nova é também novo ataque e vigoroso combate contra a força dos pecados e das tentações em teu coração. Cada vez que te confessas, cumpre que te arrependas intimamente de teus pecados e erros, por motivos sobrenaturais. Deste modo, não fomentarás sempre mais em ti o ódio e a aversão ao pecado? Tomarás, além disso, séria e firme resolução de fugir do pecado com todas as tuas forças e evitar a ocasião próxima de pecar. E em teu íntimo não se despertará, a tal propósito, uma grande vigilância e salutar precaução?

Além disso, não deves esquecer que, pelo Sacramento da Penitência, cada vez te serão concedidas graças atuais especiais para combateres o pecado e levares uma vida boa e cristã. Os mestres espirituais vêem esta graça sacramental na exposição do Evangelho, o qual pondera que o filho pródigo, depois que tornou à casa paterna cheio de arrependimento, recebeu “sapatos para seus pés”. De modo análogo, no Sacramento da Penitência, Deus nos concede, uns como sapatos para os pés, fortalecendo-nos com graças atuais, para percorrermos o caminho dos seus mandamentos, preservarmo-nos de novas faltas e prosseguirmos na prática da virtude.

Salientarei, por último, que muitos perigos e tentações somente pela sincera confissão (declaração dos pecados) que se faz no Tribunal da Penitência, perdem grande parte de sua agudeza e de sua força. Existem alguns animais, pequenos e de aspecto pouco agradável, que temem a luz e por isto preferem conservar-se num esconderijo tenebroso, como por ex., debaixo de uma tábua estendida no chão ou sob alguma pedra. Levanta-se a tábua, ou a pedra, e projetem-se de súbito os raios brilhantes do sol sobre aqueles repulsivos animais, e os verás fugirem apressadamente, procurando esconder-se o mais depressa possível.

O mesmo acontece, pouco mais ou menos, com relação a muitos maus pensamentos, feias inclinações e tentações, que também gostam do segredo, do mistério e das trevas.

Desde que sejam revelados sem temor ao guia da consciência, no Tribunal da Penitência, perderão, só por isso, grande parte de sua força e poderão ser subjugados mais facilmente.

3º- A confissão freqüente conduzir-te-á, enfim, ao exercício de importantes virtudes.

É uma grande virtude a humildade, que os mestres da alma dizem ser o fundamento de toda a vida cristã. Pratica-se esta virtude de maneira toda particular e mais do que qualquer outra, no Sacramento da Penitência, quando o cristão, acusando-se a si próprio perante o ministro de Deus, reconhece sinceramente a sua culpabilidade e assim aplica uma bofetada à face do próprio orgulho. O desprezo de si mesmo é sem dúvida uma importante virtude, para a qual o Divino Salvador nos estimula com estas palavras: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. (Mat. 16,24).

Já, tens de certo experimentado muitas vezes que, para uma sincera e humilde confissão, deves desprezar-te. Por isso que a confissão te conduz a subjugar varonilmente, ela te levará também pouco a pouco à firmeza de caráter. O domínio de si próprio é, sem dúvida, uma particularidade especial do homem de caráter inflexível. Não menos importante é a virtude da obediência. Sem a obediência às leis naturais, impostas por Deus, tudo no mundo externo entraria em desordem. Desapareceria a vida e toda a sua magnificência. As relações entre os seres criados seriam selvagens.

O mesmo sucederia no mundo moral e social. Sem a obediência, uma vida ordenada e contente, seria de todo impossível. Mas, não te exercitas de modo particular nesta virtude, quando, voluntária e humildemente, te colocas sobre a direção de um confessor e procuras seguir com sinceridade os seus conselhos e instruções? Assim, o teu espírito de desobediência e obstinação se tornará com o tempo cada vez mais enfraquecido.

Para não aludir a outras virtudes, quero apenas acenar à alegria que deve cada um manifestar em relação à sua vocação, ou profissão. Para que o corpo tenha saúde, todos os seus membros (órgãos) devem preencher sãs funções a que os destinou o criador. É o que se dá na família e na sociedade, onde tudo vai bem quando, cada qual o seu posto, cumpre conscienciosa e alegremente os seus deveres. Esta alegria na profissão não é, por acaso, favorecida pela boa freqüência à confissão que, em nós conserva e apura uma terna delicadeza de consciência? Não é o teu confessor que te anima, incessantemente, a cumprir com fidelidade todos os teus deveres? Vês, portanto, que te é a confissão freqüente sobremodo salutar. Poderias, talvez, perguntar-me agora: quantas vezes devo confessar-me? Aconselho-te, insistentemente, que o faças cada mês. Ou quando muito cada dois meses.

De boa vontade o farás como for possível de acordo com as circunstâncias habituais da vida. Se te aproximares mais vezes do Tribunal da Penitência, por ex. cada oito dias, ou cada quinze dias, será ainda mais salutar e mais útil. Todavia, não o difiras por mais de dois meses. Uma donzela, que raro se confessa, expõe-se ao perigo de se tornar negligente no que respeita à salvação de sua alma e de se deixar enredar pelo mundo e seus deleites.

Quando te confessares, prepara-te de antemão, com esmero, mas sem nenhuma inquietação e ansiedade, para este ato mui importante. Esquadrinha seriamente a tua consciência, desperta em ti antes de tudo um bom e sobrenatural arrependimento e toma a firme resolução e te corrigir. Em seguida dirigi-te ao confessionário e declara com toda a humildade, singeleza e simplicidade, mas, sobretudo com absoluta sinceridade, os pecados que cometeste desde a última confissão, por pensamentos, palavras, obras e omissões dos teus deveres.

Terminada a confissão, vai fazer, piedosamente, a tua ação e graça, cumpre com seriedade a penitência imposta, esforça-te em seguir fielmente as soluções tomadas, guardando-te, porém, de qualquer inquietação infundada, de qualquer angústia ou perturbação. Se tiveres esquecido algum pecado, ainda que este seja grave, nem por isto será nula a confissão. Acrescentá-lo-á na próxima confissão, sem te inquietares agora, nem te perturbares. O Santo Sacramento da Penitência deve conduzir-te à paz, e não ao tormento e ao desassossego.

Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid