A SANTIDADE DA IGREJA

Fonte: FSSPX Sudamerica – Tradução: Dominus Est

Perante o aumento da criminalidade entre os jovens, os juízes tendem a condenar os pais…É razoável? Muitas vezes, sim, mas razoável é julgar sempre em cada caso quem e até que ponto são culpados.

É da responsabilidade dos pais, mas também do jovem, da escola, da rua. Se os pais e a escola fizeram o possível e o jovem se corrompe pelo que encontra na rua, a culpa poderia ser do presidente.

Mas não se pode acusar de forma rápida, pois também há de se julgar -de cima para baixo- quem cumpriu mal sua função: se o presidente ou o governador, o prefeito, a polícia ou simplesmente o vizinho desonesto. E se a culpa é do presidente, a pátria é culpada? Talvez sim, talvez não; não seria se o governante agiu contra as leis e costumes e do consentimento geral.

Suponhamos um caso em que a culpa era do jovem, mas houve negligência do governador. Quem pode, então, pedir perdão? Evidentemente, se perdoa os culpados e não aqueles que não são; e podem aqueles pedir perdão sob duas condições: mostrar sincero arrependimento e oferecer a devida reparação, pois são metafisicamente incapazes do perdão as más vontades.

Mas também podem pedir perdão – ainda de modo e razão muito diferente – os ofendidos: os pais ou o presidente; e fazem com mais argumento, porque merece mais ser ouvido pela nação e por Deus o pedido de perdão daqueles que foram capazes de perdoar os seus devedores.

Mas aqui há outra condição: que eles sejam completamente inocentes, pois bem podem pedir perdão os meritórios pais que fizeram tudo o que podiam para dar bons filhos à pátria, mas não cabe que peçam perdão por outros: o governador negligente quando tem sua parte a expiar.

Se tanto nos valeu a voz que desde a Cruz disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem“, foi porque era a voz de “um Pontífice como convinha, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores” (Hb. 7, 26).

A Igreja pode pedir perdão pelos pecados de seus filhos? Assim o faz todos os dias há dois mil anos, mas não como ofensora mas como ofendida, não como dolosa mas como machucada, não como culpada mas como inocente e santa Mãe. A Igreja é santa e nunca se pode, estritamente por questão de justiça, atribuir-lhe culpa pelos pecados de seus filhos. “A verdadeira Igreja é SANTA, diz o Catecismo de São Pio X, porque santa é sua cabeça invisível, que é Jesus Cristo; santos muitos de seus membros, santas sua fé, sua Lei, seus Sacramentos e, fora dela não há nem pode haver verdadeira santidade.”

Nunca ninguém pôde acusar Cristo do menor pecado; dois mil anos de história têm mostrado a santidade da doutrina e das leis em que fundou sua Igreja; multidões de santos manifestam que os impulsos da graça que comunicam os Sacramentos carregam a mais perfeita vida. Se um rei cristão ou um Papa cometeram pecados, salta à vista de um juiz honesto que isso foi feito contra os mandamentos, exemplos e influências da santa Instituição a que pertencem. E nunca poderá acusar sua Cabeça de negligência no governo, pois para cada doença de heresias ou pecados que possam ter invadido a Igreja, Nosso Senhor soube despertar os anticorpos necessários.

Pretender que a Igreja peça perdão ao mundo levando a culpa de seus filhos é cometer a mais abominável das injustiças; é desconhecer a santidade da Igreja e blasfemar contra a santidade de Deus, que na pessoa do Verbo é a sua cabeça e no Espírito Santo seu coração.

Daí o ato pelo qual os Papas que,supostamente em nome da Igreja, pediram perdão público como de próprias culpas, fica sendo o maior ultraje já recebido por nossa Santa Mãe, que clama ao céu por reparação. O que levou o rancor dos filhos liberais, castigados mil vezes por sua boa Mãe? Ou talvez a intenção de evitar que a Igreja seja crucificada, preferindo então, como Pilatos, oferecê-la ao mundo humilhada por uma autoflagelação: Ecce Mulier.

Mas há também a grosseira materialidade do pensamento moderno que, intoxicado do nominalismo, tem ojeriza das distinções e formalidades dos escolásticos; e atribui ou nega, conforme lhe convém, o que é da parte ao todo e o que é do todo a parte.

Se a parte peca, o todo deve assumir o encargo; e dessa maneira acaba-se por considerar a Igreja ou a sociedade culpáveis de tudo o que fizeram os seus membros criminosos; mas não há de se assustar tanto por se levar estas responsabilidades, pois agora sepode pedir perdão sem arrependimento nem reparação.

Não deixa de ser lógico, pois se todos são culpados de tudo, então a culpa não é de ninguém ou … se pensar bem … a culpa é de Deus.

Pe. Álvaro Calderón