É supérfluo procurar precisar a hora em que terá lugar a segunda vinda de Nosso Senhor. É um impenetrável segredo para todas as criaturas. “Quanto àquele dia e àquela hora, nos diz Jesus Cristo, ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas só o Pai” (Mt 24, 36). No entanto, esse momento supremo, que porá fim a este mundo de pecado, será precedido de sinais estrondosos que fixarão a atenção não somente dos crentes, mas também dos ímpios.
Primeiramente, como mostramos, haverá a perseguição do Anticristo, a aparição de Henoc e de Elias. Quando São Paulo nos diz que Jesus Cristo matará o ímpio com o sopro de sua boca, e o destruirá com o brilho de sua vinda, parece que o castigo do Anticristo coincidirá com a vinda do soberano juiz. No entanto, não é esse o sentimento geral dos intérpretes. Pode-se explicar São Paulo dizendo que a destruição do ímpio só será consumada no dia do julgamento geral, se bem que sua morte tenha tido lugar tempos antes. De outro lado, os Evangelhos insinuam bem claramente que haverá certo lapso de tempo, se bem que relativamente curto, entre a punição do monstro e a consumação de todas as coisas.
O que diz, com efeito, Nosso Senhor? Ele começa por pintar tal tribulação como nunca houve desde o começo do mundo: é a perseguição do Anticristo. Depois acrescenta: “Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecer-se-á o sol, a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu e as potestades do céu serão abaladas. E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todas as tribos da terra chorarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade” (Mt 24, 29-30).
Estes sãos os sinais que precederão imediatamente a vinda de Jesus Cristo como Juiz. Mas como conciliar todos esses terríveis prelúdios com essa surpresa e imprevisão que segundo outros textos do Evangelho caracterizam esse acontecimento? Um pouco mais adiante, com efeito, Nosso Senhor nos apresenta os homens dos últimos dias do mundo semelhantes aos contemporâneos de Noé que o Dilúvio surpreende comendo e bebendo, casando-se e dando as filhas em casamento (Id., ibid., 36-40).
Santo Tomás responde a essa objeção dizendo que todos os abalos precursores do fim do mundo podem ser considerados como fazendo corpo com o próprio julgamento, parecendo esses estalos sinistros que não se distinguem do desmoronamento que os segue. Antes de todos esses terríveis presságios, os homens poderão zombar das advertências da Igreja. Mas ouvindo o estalar da máquina do mundo, empalidecerão; e como diz São Lucas, secarão de medo, à espera do que sobrevirá ao universo (Lc 21, 26).
Santo Tomás difunde uma luz viva sobre os tempos que passarão entre a morte do Anticristo e a vinda de Jesus Cristo, quando diz: “Antes que comecem a aparecer os sinais do julgamento, os ímpios crerão estar em paz e segurança, a saber, depois da morte do Anticristo, porque não verão o mundo acabar, como antes estimavam. (Suppl. Q. LXXI, art. I, ad. 1). Com a ajuda desta palavra podemos formar conjecturas mais plausíveis sobre os últimos tempos do mundo; e nossos leitores não deixarão de se interessar recebendo essas conjecturas a título de simples probabilidade.
Dissemos e mantemos como incontestável que a morte do Anticristo será seguida de um triunfo sem igual da Santa Igreja de Jesus Cristo. As alegrias proféticas de Tobias recuperando a vista ao mesmo tempo em que reencontra o filho, a embriagadora alegria dos judeus com a queda de Aman e de seus satélites, os transportes dos habitantes de Betúlia, libertados por Judith do círculo de ferro que os apertava; a purificação do templo pelos Macabeus vencedores do ímpio Antíoco…
Enfim e, sobretudo o calmo e pacífico triunfo de Jó restabelecido por Deus em todos os seus bens, vendo acorrer a seus pés amigos e parentes arrependidos e reunindo todos em um banquete religioso: todas essas imagens exprimem insuficientemente o estado da Santa Igreja, abrindo seu coração e seus braços a seus inimigos como a seus filhos, aos judeus convertidos como aos heréticos reconciliados, aos descendentes de Cam como aos filhos de Sem e de Jafé! Em uma palavra, realizando a unidade comprada pelo preço do sangue de um Deus, um só rebanho e um só pastor!
Certamente, e mesmo neste período de triunfo, haverá ainda maus e ímpios; mas é nos permitido pensar que eles se esconderão e que desaparecerão na intensidade da alegria pública. Infelizmente esses belos dias não durarão mais do que o tempo de poder esquecer os solenes acontecimentos que os fizeram nascer. Pouco a pouco a tibieza sucederá ao fervor; e essa passagem insensível se fará tão mais depressa quanto menos inimigos a Igreja tiver então para combater.
O estimado autor, Padre Armijon, pinta assim o estado no qual o mundo então cairá: “A queda do mundo, diz ele, terá lugar instantaneamente e de improviso: o Senhor virá como um ladrão (2 Ped 3, 10). — Acontecerá em uma época em que o gênero humano, mergulhado no mais profundo desleixo, estará a mil léguas de sonhar com o castigo e com a justiça. A misericórdia divina terá esgotado todos os meios de ação. O Anticristo terá aparecido. Os homens espalhados em todos os espaços terão sido chamados ao conhecimento da verdade.
A Igreja Católica por uma última vez terá desabrochado na plenitude da sua vida e da sua fecundidade. Mas todos esses favores assinalados e superabundantes, todos esses prodígios serão novamente apagados do coração e da memória dos homens. A humanidade, por um abuso criminoso das graças, voltará a seu vômito. Voltando todas as suas aspirações para a terra, dará as costas a Deus, a ponto de não ver mais o céu nem se lembrar de seus justos julgamentos (Dn 13, 9). Toda fé estará extinta nos corações. Toda carne terá corrompido seu caminho. A Divina Providência julgará que já não há mais remédio.
Será, diz Jesus Cristo, como no tempo de Noé. Os homens viviam despreocupados, plantavam, construíam casas suntuosas, escarneciam prazerosamente do simplório Noé que se dedicava à profissão de carpinteiro, trabalhando dia e noite para construir sua barca. Diziam: que louco, que visionário! Isto durou até o dia em que veio o dilúvio e submergiu toda a terra! (Lc 17, 27).
Assim a catástrofe final se produzirá quando o mundo estiver mais em segurança; a civilização estará em seu apogeu, o dinheiro abundará nos mercados e nunca os fundos públicos estarão tão altos. Haverá festas nacionais, grandes exposições; a humanidade regurgitando de uma prosperidade material nunca vista, dirá como o avarento do Evangelho:Minha alma, tu tens bens por longos anos, beba, coma, divirta-se…
Mas, de repente, no meio da noite, in media nocte — pois haverá trevas, e nessa hora fatídica da meia-noite, quando o Salvador apareceu pela primeira vez em sua baixeza, é que ele reaparecerá em sua glória; — os homens, acordados em sobressalto, ouvirão um grande estrondo e um grande clamor, e uma voz se fará ouvir: Deus está aqui, saí a seu encontro, exite obviam ei (Mt 25, 6).
E o autor acrescenta que os homens não terão tempo para se arrependerem. Aqui nos separamos dele. A grande catástrofe será precedida de sinais apavorantes cujo conjunto formará um supremo apelo da misericórdia divina; bem cego e bem endurecido será quem resistir a tudo isso!
O sol se obscurecerá como que esgotado por um desperdício de luz. A lua não receberá mais nem um raio suficiente para brilhar. O céu se fechará como um livro invadido por uma obscuridade espessa. As potências do céu serão abaladas; pois as leis dos movimentos dos corpos celestes parecerão suspensas. Haverá uma profunda comoção no mar, um grande estrondo de ondas elevadas, a terra sacudida por movimentos insólitos; e os homens não saberão onde se lançarem para fugir dos elementos desencadeados. Enfim, a terra se abrirá e lançará globos de chamas que provocarão um abrasamento geral enquanto que aparecerá nos ares uma cruz faiscante anunciando a vinda do soberano Juiz.
Quanto tempo durarão esses sinais? Ninguém sabe. O que a Escritura nos diz é que os homens secarão de pavor. E acontecerá com eles o que aconteceu aos contemporâneos de Noé. Enquanto ele continuava a arca, escarneciam dele; mas quando o Dilúvio começou a invadir tudo, todos tremeram, e muitos, segundo o testemunho de São Pedro, se converteram. É-nos permitido esperar que também, à aproximação do julgamento, uma parte dos homens, vendo o céu se velar e sentindo a terra faltar sob os pés, façam um ato de contrição suprema e voltem ao estado de graça com Deus.
O Drama do Fim dos Tempos – Pe. Emmanuel-André