APRENDENDO A DIZER OBRIGADO

Irmãs da Fraternidade Sacerdotal São Pio X

Jeremias desembrulha o presente de aniversário, olha para a história em quadrinhos que ganhou: “Ah! Essa já tenho…” Larga o pacote ao lado, enquanto seus pais, levemente ofendidos, não ousam dizer nada: “Ele ao menos poderia ter dito obrigado…”

É Natal, mas o Sr.e a Sra. Durand estão sozinhos: as crianças cresceram, foram embora. O dia passa sem que nenhuma delas pense em ligar, ainda que para desejar um rápido feliz Natal. “Pelo menos poderiam ter pensado na sua mãe”, resmunga o Sr. Durand.

Esses dois exemplos (imaginários?) mostram que a gratidão mais elementar não é mais natural para nós desde o pecado original. Três obstáculos se juntam para isso.

O primeiro é o orgulho. Se devemos ser gratos, é por um serviço recebido, e recebido muitas vezes porque não conseguimos prestá-lo a nós mesmos: há uma inferioridade que estamos relutantes em reconhecer. Aqui somos constituídos devedores, dependentes dos outros, e nossa autoestima dá um passo atrás. Essa é a razão pela qual algumas crianças sentem embaraço e teimosamente se recusam a pronunciar educadamente o ‘muito obrigado’ que a mãe pede. O que fazer? Armar-se de paciência e coragem para não ceder: mamãe não vai soltar o prato da Paulinha que acabou de servir até ouvir o devido agradecimento.

O segundo obstáculo é o egoísmo. A criança mimada não sabe ser grata: Como saberia, já que é o centro do mundo e tudo lhe é devido? A oração será aqui de grande ajuda para ensinar a criança a reconhecer todos os benefícios gratuitos de que é cumulada: “Obrigado Deus, porque o Senhor me deu um pai e uma mãe, uma casa e a verdadeira missa no domingo”. Em nosso rosário, constummos acrescentar um pedido a cada dezena, e isso é excelente; Mas, às vezes, não esquecemos a oração de Ação de Graças?

O terceiro obstáculo, finalmente, é a preguiça. Pedro recebeu de seu padrinho um carrinho com controle remoto, com que adora brincar. “Ele é legal, seu padrinho, não é?” — “Sim, muito legal!” — “Você vai escrever uma carta para ele agradecendo?” Diante dessa perspectiva, o entusiasmo da criança desaparece… Como Pedro ainda é pequeno, mamãe não vai exigir uma carta formal, com uma escrita rebuscada que repugne o dever de gratidão. Um belo desenho do fundo do coração será suficiente. Mas, quando Pedro crescer, terá de aprender a exprimir o seu reconhecimento nas formas exigidas pela boa educação: uma mensagem de agradecimento rabiscada em um guardanapo não sai do fundo do coração.

Ao educar os filhos para a gratidão, as mães às vezes encontram uma dificuldade: dão o melhor de si em sua tarefa de mães, mas sentem que, afinal, apenas cumprem o seu dever, e não pensam em exigir reconhecimento por aquilo que de bom grado fazem. De certa forma, estão absolutamente corretas: não se pode exigir reconhecimento tão estritamente quanto se exige obediência. No entanto, a gratidão é um dever estrito das crianças.

Os exemplos que vamos dar mostrarão, de modo geral, várias formas pelas quais um coração grato e engenhoso pode expressar o seu reconhecimento:

Na família Dupond, o pai era o cabeça dos pequenos conspiradores que preparavam como supresa para a mamãe um dia de “férias”: nada de cozinha, nada de louça, nada de faxina no Dia das Mães, para agradecer por tudo que ela fez nos outros 364 dias do ano.

Para o aniversário do pai, a mãe discretamente inspirou algumas idéias para as crianças: Domitila fará o bolo favorito do pai, Teresa recitará o poema que escreveu; já os meninos vão lavar bem o carro: papai trabalha tanto para pagar boas escolas …

Clarinha acaba de saber que sua madrinha, que tantas vezes a mima, está esperando seu primeiro filho: com a mãe, está aprendendo a tricotar para fazer um par de botinhas para o bebê.

Dom prior comemora os 25 anos de sacerdócio. Toda a família quer se juntar à surpresa: os meninos serviram a missa de ação de graças da manhã impecavelmente; as meninas fizeram com a mamãe uma barraquinha para a feira da tarde e papai estava no comitê organizador do presente.

Bento é convidado a passar o fim de semana com o amigo; para agradecer a mãe do amigo, leva um cesto de cerejas do jardim, foi ele mesmo quem as colheu.

Para o aniversário de dona Regina, a professora, as mães chegaram a um acordo e as crianças ofereceram uma grande caixa de biscoitos que elas mesmas prepararam.

As bodas de ouro de vovô e vovó foram preparadas há meses! Todos os netos encenaram uma peça, os mais velhos cuidaram dos cenários e dos figurinos, além de acompanharem do ensaio dos menores.

Uma família que sabe agradecer é uma família cheia de amor e felicidade. Obrigada, meu Deus, por todas essas boas famílias unidas, porque a gratidão aquece os corações.

(Fideliter, no. 200, março-abril de 2011), publicado originalmente na Permanência.