A ignorância não justifica tudo.
Fonte: L’Aigle de Lyon n ° 376 – Tradução: Dominus Est
A legislação civil ensina que ninguém deve ignorar a lei. Isso significa que todo cidadão deve conhecer todos os textos legislativos e regulamentares existentes na ordem jurídica. Com mais de 300.000 artigos em vigor, o mais estudioso dos juristas não aceitaria tal desafio.
Todos nós já cometemos uma infração quando não conhecíamos o limite estabelecido por lei. De fato, a aplicação desse adágio é impossível porque ninguém tem tempo e capacidade para conhecer todas as leis. No entanto, este princípio deve ser mantido para o bom funcionamento da justiça. Caso contrário, bastaria invocar a ignorância da lei para escapar de toda punição. Seria muito fácil e a ordem social seria rapidamente violada.
O mesmo acontece com a moralidade católica?
Para cometer um pecado, é necessário saber o que está transgredindo na lei. Portanto, se cometemos um pecado sem saber o que é um pecado, não somos responsáveis por qualquer falha moral. Por exemplo, se um caçador mata um amigo pensando que é um urso, ele não cometeu o pecado de homicídio. O amigo em questão não deu qualquer sinal de sua presença: não havia como suspeitar dele.
Mas não acredite que ignorar a moralidade é o suficiente para evitar cometer um pecado. Na verdade, existe o pecado da ignorância. Com efeito, pode acontecer de se colocar voluntariamente numa situação de ignorância para agir mais tranquilamente, sem que a nossa consciência nos censure. Essa ignorância, da qual se pode facilmente escapar, é culpável. O Pe. Garrigou Lagrange, sábio teólogo, nos faz uma ilustração: “um estudante de medicina se entrega seriamente à preguiça, e, no entanto, como que por acaso, é admitido como médico. Mas ele ignora muitas coisas elementares da arte que ele deveria conhecer, e pode acontecer dele acelerar a morte de alguns dos seus paciente, ao invés de curá-los. Não há pecado diretamente intencional aqui, mas certamente há uma falha indiretamente intencional, que pode ser grave e que pode até mesmo chegar ao homicídio por imprudência ou negligência grave.”
Por conseguinte, a ignorância não justifica tudo. É um mal que deve ser combatido através do estudo da doutrina, pelas boas leituras. Não devemos, confortavelmente, nos acomodar nessa ignorância. Tornar-se-ia uma oportunidade de pecar mais facilmente. Quando nos aproximamos de um objetivo, devemos saber tudo o que pode nos fazer perdê-lo.
O Papa São Pio X combateu, durante toda a sua vida, o mal da ignorância, enfatizando o catecismo. Como Bispo de Mântua, ele prometeu um prêmio em dinheiro a quem sugerisse os métodos mais simples e eficazes de ensino do catecismo. Na paróquia, na direção do Seminário, em todos os lugares ensinava catecismo, convencido de que um cristão sem conhecimentos religiosos, mais cedo ou mais tarde, abandonaria a fé. A preguiça leva à ignorância que, por sua vez, enfraquece nossa fé a ponto de nos tornar hostis à religião.
Nossa inteligência, muitas vezes, está sobrecarregada com teorias perigosas e conhecimentos inúteis. Assim como temos olhos para ver, temos inteligência para conhecer a verdade: para aprofundar as verdades mais elevadas de nossa fé e preencher nossa inteligência com verdades eternas, que é a nossa perfeição.
Pe. Cyrille Perriol, FSSPX