Caros fiéis,
Em nossas capelas, a maioria dos fiéis são novos na Tradição – no máximo, há alguns anos. Descobrir a doutrina e a liturgia tradicionais é como encontrar um tesouro. Ele deslumbra e a vida nunca mais será a mesma. Felizmente essa descoberta é usada pela maioria das pessoas para organizar uma vida cristã fervorosa. Mas, como a perfeição não é deste mundo, essa descoberta pode apresentar algumas armadilhas.
Hoje a Igreja não tem o rosto que deveria ter. Ela está em crise. O primeiro efeito dessa situação é a dificuldade de entender o que é a Igreja. Para isso, é essencial estudar o catecismo e ler a vida dos santos. Mas a situação da pessoa que descobre continua confusa. Além de entender como a Igreja deveria ser, ela precisa conhecer os principais problemas que a levaram à crise. Em seguida, ela é confrontada com várias posições dentro da Igreja: desde os sedevacantistas até a celebração da missa de Paulo VI em latim, passando pela Fraternidade São Pio X, as comunidades ex-Ecclesia Dei e uma gama infinita de posições. Nessas condições, a conversão parece uma verdadeira corrida de obstáculos, o treinamento BOPE do católico tradicional!
Um erro clássico é se afogar na Internet lendo tudo. Essa é a melhor maneira de manter as pessoas confusas. Os orgulhosos e os escrupulosos não conseguirão se safar. Os primeiros acharão que entenderam tudo porque acumularam uma quantidade incrível de informações e tomarão decisões insensatas que desejarão impor aos outros. Os segundos adotarão as posições que lhes parecerem mais rígidas e claras. Isso não lhes dará paz, pois as soluções mais simples nem sempre são as justas.
Os dois remédios são a humildade e a formação (intelectual e espiritual). Um não pode existir sem o outro, porque para querer aprender, precisa estar convencido de que não sabe. A famosa frase de Sócrates “Só sei que nada sei”.
A humildade é o início da inteligência. Às vezes, os jovens são imprudentes apenas por inconsciência. Como aqueles jovens que querem comprar a Summa de Santo Tomás, mas não leram o catecismo. Dizemos a eles: “Não tem carteira de habilitação para dirigir um carro e querem pilotar um avião”. Em geral, a advertência dá frutos. Às vezes não, e o entusiasta imprudente acaba explicando aos padres e aos fiéis antigos que estão errados e se perde.
O orgulho e a ignorância causam estragos no apostolado. Quem são esses fariseus que afirmam converter seus próximos zombando deles ou insultandoos? A Fraternidade não precisa de tais apóstolos. Há alguns anos, eles mesmos ainda estavam com os mesmos erros que denunciam hoje. Não foram a paciência e a caridade dos bons cristãos que tocaram seus corações? Por que eles não fazem o mesmo com seus pobres próximos que ainda estão no erro? As redes sociais são um terreno fértil para esse tipo de comportamento. A velocidade das conversas on-line dentro dos grupos alimenta a irreflexão e as reações provocadas por paixões. Alguns jovens com psicologia feminina se tornam verdadeiros fofoqueiros (e não necessariamente aqueles que usam camisetas rosas). O exemplo dado é desastroso.
A alma superficial que se espalha pela Internet é como um grande rio que carrega água abundante, mas muitas vezes pobre e suja. A água que nutre vem de nascentes compostas de muitas gotas de água que passaram, de forma invisível, por inúmeros minerais durante meses e até anos.
A verdadeira formação intelectual é feita na frente de um livro ou de um professor, fazendo anotações. A verdadeira formação espiritual ocorre diante de Nosso Senhor no recolhimento da oração. Munidos desses fundamentos, nossas intervenções serão comedidas e capazes de trabalhar para o bem de nosso interlocutor, o único objetivo digno de um intercâmbio cristão.
Que Deus os abençoe!
Padre Jean-François Mouroux, Prior