Caros fiéis,
O desejo de saber é, em si, uma coisa boa, mas pode ser viciado por más intenções, o que São Bernardo resume perfeitamente: “Há alguns que querem saber só por saber, e isso é uma curiosidade vergonhosa. E há outros que querem saber para serem chamados de eruditos, e isso é uma vaidade vergonhosa. Há outros que querem saber para vender seu conhecimento, para adquirir riqueza e honra, e isso é ganho vergonhoso; mas há também aqueles que aspiram saber para edificar, e isso é caridade. Finalmente, há aqueles que querem saber para edificar a si mesmos, e isso é prudência” (Sermão sobre o Cântico dos Cânticos, 36, 3). Portanto, precisamos saber para edificar e para edificar a nós mesmos. Após esse lembrete das boas disposições do aluno, precisamos nos lembrar das qualidades do professor.
15 padres da Fraternidade São Pio X para o Brasil não é muito. Isso lhes deixa pouco tempo para dar conferências de formação aos fiéis. Então, muitos recorrem à Internet. Isso não é isento de riscos. Na Internet, pode-se encontrar o melhor e o pior, e geralmente muita mediocridade.
Um dia, em uma confissão, alguém me confessou um pecado venial como sendo um pecado mortal. Eu lhe perguntei por quê. Resposta: “Alguém disse isso na Internet!” Cuidado: o simples fato de se expressar na Internet não confere um diploma em teologia, filosofia ou qualquer outra ciência. Portanto, é importante saber como selecionar suas fontes antes de se colocar, mais ou menos passivamente, na posição de ser ensinado por um professor que não se conhece. Vários pontos precisam ser verificados: competência, convicções e disposições. Aqui estão alguns exemplos. Esse professor de geografia, que é muito bom em sua matéria, é competente para dar aulas de inglês? Não necessariamente! Esse renomado professor de filosofia é ateu. É sensato entrar em sua escola? Não! Este professor é competente e católico, mas é orgulhoso e imprudente em seus julgamentos. Devemos segui-lo? Não!
São Francisco de Sales colocou a humildade no centro da missão apostólica. Eis sua recomendação para as nomeações eclesiásticas: “Aqueles que dizem que é necessário preencher os lugares vagos e dar seu lugar aos eruditos, não dizem o suficiente se não acrescentam: e humildes; pois a ciência incha (1 Co 8,1) e não deve ser estimada a menos que seja frutífera para a salvação”. A respeito de Santo Agostinho, ele escreveu em um sermão: “Vocês devem ter ouvido que a humildade raramente é encontrada com a ciência que por si só incha, mas ainda menos com uma ciência tão elevada como o de Santo Agostinho; no entanto, nele foi acompanhado por uma humildade tão profunda que não se sabe mais se ele tinha mais ciência do que humildade, ou mais humildade do que ciência”.
Cuidado com os “doutores da Internet”. Alguns estão mais preocupados em ganhar membros e notoriedade do que em formar seus auditores. Precisamos ser rigorosos em nossa seleção. O alimento para a mente não é menos importante do que o alimento para o corpo.
A menos que você tenha talentos especiais ou muito trabalho duro, não é possível fornecer muito conteúdo bem preparado. Nesse caso, os ouvintes perderão uma hora com uma explicação que poderia ter sido dada em 20 minutos e compreendida em 10 minutos por meio da leitura. Uma conferência de formação deve ser ouvida apenas como um complemento à leitura. Uma aula de catecismo não dispensa a leitura do catecismo! É por isso que São Francisco de Sales nos aconselha a preferir os conselhos dos livros aos de nossos amigos e familiares: “Não devemos confundir nossas cabeças com tantas opiniões ou tantos conselhos; os livros são mais confiáveis e menos interesseiros do que aqueles em quem confiamos”.
Graças a Deus, no início do século XXI, surgiram várias editoras católicas no Brasil. Elas estão republicando os bons livros que desapareceram após a revolução conciliar. Vamos beber dessas boas fontes.
Que Deus os abençoe!
Padre Jean-François Mouroux, Prior